São Paulo, segunda-feira, 16 de julho de 2001 |
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Para Cabo Júlio, coronelismo emperra negociações
RANIER BRAGON Agência Folha - Qual a análise
que o sr. faz da situação na Bahia?
Júlio César Gomes dos Santos - A situação da Bahia não é diferente da
nossa, em 1997. A primeira questão é salarial. Quando pagamos
um salário miserável para um policial, fazemos com que ele seja
um mau policial e que se rebele
contra seu patrão -o Estado. As
polícias são proibidas de fazer
greves. Quando um policial chega
ao ponto de descumprir a lei é
porque não tem mais esperança. Agência Folha - Na Bahia, a greve
era o único recurso? Agência Folha - O sr. acha justo a
população ficar à própria sorte?
Cabo Júlio - Na realidade, temos
um "tiroteio" e, no meio, está a
sociedade. O policial é pago para
servir à sociedade. Sendo mal pago, presta um mau serviço. A sociedade não tem culpa, o policial
também não. Mas o interessante é
que a sociedade, por mais que se
sinta prejudicada, acaba aplaudindo, porque sabe que, se tiver
uma polícia bem paga, é bem servida. Em Minas, aplaudiu e jogou
papel picado sobre os policiais. Agência Folha - Por que o sr. não
foi intermediar as negociações na
Bahia, como fez em outras greves?
Cabo Júlio - A Bahia tem uma característica diferente de outros
Estados, que é o coronelismo político, onde a ação maior é a do ex-senador Antonio Carlos Magalhães [PFL". O coronelismo impõe regras e não abre mão delas.
"Aqui na Bahia, quem manda sou
eu. A polícia faz greve lá em Tocantins, lá em Minas Gerais. Aqui
eu não aceito, não negocio, eu fecho as portas". Essa característica
só traz mais problemas. Agência Folha - O sr. acha que o
movimento da Bahia foi estimulado pelos partidos de esquerda?
Cabo Júlio - Sempre que há uma
greve, forças de oposição se unem
à polícia para tirar proveito político. Mas o movimento político
nunca acaba. O lucro dele é o impasse. Greve tem de ter reivindicações institucionais, só isso. Agência Folha - A situação da polícia da Bahia é a pior do Brasil? Agência Folha - A rigidez não faz
parte da essência militar?
Cabo Júlio - O mundo evoluiu, e as
polícias, nos regulamentos, não
evoluíram. A disciplina não pode
ser sinônimo de abusos. Agência Folha - Por que esses Estados não tiveram greves? Agência Folha - O sr. acha que a
greve da Bahia será um exemplo? Agência Folha - A logo prazo,
qual será a consequência do movimento policial baiano?
Cabo Júlio - O governo ficará fragilizado. Nas eleições do ano que
vem, os adversários vão usar o
problema da polícia contra as forças que estão no poder hoje. O povo nunca vai esquecer isso. Já a
tropa, vai ter de se organizar politicamente. É uma necessidade. |
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