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Para analistas, PCC calculou dano político
Pressionados por ano eleitoral e por pânico da população, políticos ficam mais suscetíveis às exigências dos criminosos
Proximidade das eleições faz criminosos pensarem em barganha maior em negociações com o poder público, dizem especialistas
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quatro diferentes especialistas em segurança pública
ouvidos pela Folha, é razoável
supor que o PCC (Primeiro Comando da Capital) leve em
conta uma variável política ao
promover ataques urbanos
análogos a atos de terror.
O período eleitoral, dizem
analistas ligados a instituições
de São Paulo, Rio e Minas, torna o poder público e os políticos mais frágeis ao pânico causado na população pelos bandidos -que teriam mais margem
de barganha para seus pleitos.
"Ninguém tem uma resposta
definitiva", diz Denis Mizne,
diretor-executivo do Instituto
Sou da Paz, quando questionado sobre a razão de ataques públicos e a promoção de pânico
na população e o que o PCC teria a ganhar com isso. "Mas parece fazer sentido que estejam
aproveitando um momento de
fragilidade do poder público."
Entre os fatores componentes dessa fragilidade, cita o fato
de o atual governador de São
Paulo, Cláudio Lembo (PFL),
ser um substituto, não eleito,
em fim de mandato, e a proximidade das eleições. "Tentam
usar o momento para ganhar
regalias. O momento eleitoral é
frutífero para se botar pânico
nas pessoas. Os políticos respondem como barata tonta.
Nessa época, são mais vulneráveis à reação da população."
Dessa forma, explica, os líderes do PCC teriam mais facilidade de tentar impor o que desejam, o que leva à razão primordial da reação e dos ataques. "Em nenhum lugar o crime organizado se mexe e ataca
se está tudo bem", diz Mizne. O
que está mal agora para o PCC,
ele diz, são as transferências
para prisões e regimes mais duros e que dificultem a comunicação com o mundo exterior.
Cláudio Beato, do Centro de
Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, ligado à
UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais), diz que os
ataques do PCC "aumentam o
poder de barganha e desmoralizam o poder público". "Faz
sentido a oportunidade do momento eleitoral."
Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança
Pública, hoje candidato a deputado federal pelo PPS-RJ
-aliado nacional do PSDB na
candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência-, disse "que
a intervenção do PCC tem propósito político claro".
"O PCC é um instrumento de
intervenção no espaço público
que usa a política como arma
no benefício de seus próprios
interesses", diz Soares.
"Utiliza-se do que a ciência
política chama de "spoiling power", o poder de destruir", para
"desconstituir o poder do Estado e a candidatura Alckmin".
Soares compara o que ocorre
hoje em São Paulo com o uso
desse mesmo "poder de destruir" como arma de barganha
no Rio, em 2002, quando o tráfico determinou o fechamento
de estabelecimentos comerciais em toda a cidade seis dias
antes das eleições -foi uma represália ao isolamento dos líderes do Comando Vermelho.
A visão dos quatro analistas é
compartilhada, de maneira
menos peremptória, por Marcelo Lopes de Souza, coordenador do Núcleo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial, da UFRJ. Ele diz que
o uso da variável política, da
oportunidade eleitoral, pelo
PCC é "plausível".
Segundo ele, é razoável supor "alguma sofisticação de raciocínio e planejamento" por
parte dos líderes do PCC, o que
incluiria a consciência da dimensão política nos ataques.
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