São Paulo, Sexta-feira, 16 de Julho de 1999
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SAÚDE
PR e SP registram padrões elevados de câncer supra-renal
Mutação genética aumenta casos de câncer infantil raro

WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Curitiba

Crianças de São Paulo e do Paraná estão sendo mais afetadas por um tipo raro de câncer em função de uma mutação genética que pode estar sendo causada por fatores ambientais -entre outros, o uso intensivo de agrotóxicos.
Pesquisa da UFPR (Universidade Federal do Paraná), com apoio de instituições dos EUA, descobriu que o gene p53, em função de mutação, está perdendo a capacidade de defesa contra o câncer supra-renal.
A mutação genética está fazendo com que entre crianças dos Estados do Paraná e São Paulo se registre dez vezes mais câncer supra-renal que entre crianças de todas as outras partes do mundo, inclusive em relação aos outros Estados brasileiros.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o registro anual é de 15 casos desse tipo de tumor.
São Paulo e Paraná têm anualmente, cada um, o mesmo número de casos que o constatado em todo o território norte-americano, por exemplo.
De acordo com dados obtidos pela UFPR, a incidência de câncer supra-renal é de 0,3 para cada grupo de 1 milhão de crianças abaixo dos 16 anos nos EUA. Em São Paulo e no Paraná, há 4 casos para cada grupo de 1 milhão.

Pesquisa
Desde a década de 70, sabe-se que esse tipo de câncer ocorre com maior frequência em São Paulo e Paraná. A pesquisa da UFPR concluiu que a mutação genética é o que causa a maior incidência nesses Estados.
Os dados estão sendo estudados desde 89. Nos últimos três anos, a equipe do pesquisador Rômulo Sandrini, da UFPR, constatou a mudança no gene p53 em um grupo de 35 crianças que apresentam o câncer supra-renal.
Parte do material foi analisado nos EUA sob supervisão do médico brasileiro Raul Ribeiro, que mora naquele país e é diretor de um programa internacional de combate ao câncer no hospital Saint Jude Children's, em Memphis (Estado do Tennessee).

Sintomas
A glândula supra-renal está localizada acima dos rins. Ela é responsável pela produção de várias substâncias -como cortisona e aldosterona- e hormônios sexuais.
Em 90% dos casos, o câncer provoca sinais de puberdade precoce em crianças, em função da multiplicação desordenada de células.
Entre os sintomas estão o aumento do tamanho do pênis e do clitóris, aparecimento de pêlos pubianos, pressão arterial elevada e aumento de peso.
O gene p53 controla a multiplicação de células. Ele também tem a função de interromper o processo quando as células se multiplicam de maneira errada.
"Essa mutação é muito consistente. É sempre no mesmo lugar do gene, sempre o mesmo tipo de mutação e numa região geográfica mais ou menos delimitada, que sugere que o fator ambiental é o causador. Mas a gente não sabe se é agrotóxico ou não", disse Ribeiro, que está em Curitiba participando de um congresso sobre câncer.
Segundo Ribeiro, a próxima etapa da pesquisa será fazer um estudo epidemiológico entre a população brasileira para tentar localizar o causador da doença. A pesquisa deverá colher dados de 2.000 pessoas de todas as regiões do país.


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