São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2008

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SUELY SOUZA DE ALMEIDA (1956-2008)

A mulher contra a "violência silenciosa"

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ela adorava o outono de Paris e seus dias claros e frescos", mas vivia no Rio -e assim, era a rotina de sofrimento e lamento das cariocas que ela levava para casa. "Mulheres cotidianamente espancadas, que não podiam sair do círculo de violência por depender do marido", conta o viúvo. A elas, com suas pesquisas, Suely de Almeida dedicou toda a vida.
Nascida e crescida no Rio, filha de um restaurador de móveis antigos e de uma funcionária da prefeitura, Suely cresceu numa casa pobre em leituras -menos a de jornais, por meio dos quais aprendeu a ler, tinha lá seus cinco anos.
Estudou em escola pública e na universidade pública fez serviço social; diz o marido que por acaso. "Queria fazer economia ou jornalismo." Passou então em um concurso público e foi trabalhar em Brasília. Não gostou, voltou e continuou as pesquisas no Rio. Aí já sabia: estudaria a violência contra a mulher.
Em 1984 virou professora da UFRJ. Fez mestrado e doutorado. E pesquisou a "violência silenciosa" contra mães e filhas, namoradas, netas e sobrinhas, em conversas dilacerantes nas delegacias especializadas do Rio.
Para abstrair, lia poesia e visitava Paris -lá bebia vinhos que adorava nos bistrôs em ruas antigas, com seus vestidos soltos, tubinhos básicos e sorriso franco de "quem superava a timidez", diz o viúvo. Tinha dois filhos. Morreu no último sábado, de câncer; uma semana depois de fazer 52 anos.

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