São Paulo, domingo, 16 de agosto de 1998

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Corrente diz que ódio preservou a espécie

da Reportagem Local

O sexo praticado com violência e sem o consentimento da fêmea é frequente em muitas espécies animais. Já o ódio dedicado ao estuprador -como acontece com o homem- é restrito a algumas espécies e assume proporções violentas entre os grandes primatas, como orangotangos, chipanzés e gorilas. Entre esses, ao apanhar um estranho que manteve relações com uma fêmea do grupo, o macho atira-o da árvore mais alta.
"Os psicobiólogos afirmam que somos descendentes de homens que conseguiram defender suas fêmas dos estupradores", diz o médico Dráuzio Varella. Não tivessem evitado os estupros, a espécie teria desaparecido.
Em seu livro "Guerra de Esperma" (Record), Robin Baker transforma os conflitos sexuais e estupros numa batalha de homens para conquistar e de mulheres para diversificar seu capital genético. Ao atacar fêmeas de outro grupo,o macho estaria tentando ampliar seu patrimônio genético. Por sua vez, ao reagir e impedir o estupro por um macho menos dotado, a fêmea estaria evitando passar a seus filhotes uma herança fraca e sem vigor.
A reação ao estupro e ao estuprador vem mudando conforme os costumes. Nos últimos 500 anos, o estupro passou de dano social e moral para um dano moral e familiar, conforme mostra o livro "História do Estupro", que acaba de ser traduzido pela editora Zahar. A gravidade era maior quando o violador era pobre e a vítima, rica.
No século 20, acrescentou-se também o dano psíquico, afirma Denise Sant'Anna, historiadora da PUC de São Paulo e autora do livro "Políticas do Corpo" (Estação Liberdade Editora). "Prender e condenar estupradores é coisa desse século, quando passa a se valorizar o consentimento e a livre escolha' ', afirma. "Até o século 18, agia-se como se os corpos das mulheres e das crianças não pertencessem a elas."
No entendimento de estupradores nos nossos dias, merece pena maior aquele que abusou de uma criança. "Uma mulher adulta tem como se defender, pode montar uma história para prejudiciar um homem", diz o preso Alexandre Tarcísio. "Uma criança não tem não sabe mentir." (AB)


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