São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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"Só vejo uma bola preta", diz lavrador

DA AGÊNCIA FOLHA, EM MUANÁ (PA)

O lavrador Raimundo Nonato Machado de Souza, 51, perdeu a visão do olho direito há três anos. Desde então, tudo o que vê com esse olho é uma "bola preta".
"Só enxergo um pouco com a vista esquerda. Na outra, há uma espécie de bola preta, que aumenta quando tento focalizar uma imagem distante", afirma.
Apesar de ter ficado cego com 48 anos, Souza acha que não deve se queixar do problema na visão. "Não tenho do que me queixar, acho que é a idade."
Assim como no caso do lavrador Souza, a maioria dos moradores dessa região que reclamam de cegueira apresenta uma lista de sintomas semelhantes: dores de cabeça, olhos lacrimejantes, coceira e ardência nos olhos e a visão esfumaçada.
Outro lavrador, Manoel Maria Coutinho, 56, conta que escorre "uma água quente de seus olhos diariamente" e sua cabeça dói muito. "Isso acontece todo dia há dez anos. Ainda enxergo um pouco, mas tudo parece esfumaçado no lado direito", disse.
A dona-de-casa Maria José dos Anjos Machado, 43, afirma que, há três anos, teve de parar de costurar por causa dos problemas em sua vista. "Eu não consigo mais distinguir nem a fisionomia das pessoas. Sinto dor de cabeça e muitas tonturas."
O pescador Benedito Amaral Nunes, 32, relata que seus olhos incham e coçam quase todos os dias. "Tudo começou há 12 anos. Hoje eu não enxergo quase nada. Quando o meu olho incha pela manhã, eu não faço mais nada durante todo o dia."
Durval Germano Costa, 29, conta que começou a perder a visão há cerca de dois anos. "Eu ainda consigo enxergar, mas minha cabeça dói quando tento ler ou assistir televisão. Sinto que estou ficando cego", conta.
O lavrador Esmarindo Pontes, 49, que também não enxerga, acredita que os casos de cegueira registrados na localidade do rio Atuá podem estar relacionados a fatores externos, que teriam provocado contaminação.
De acordo com Pontes, os problemas teriam começado depois da explosão de bombas utilizadas na prospecção de petróleo no vilarejo, realizadas pela última vez entre 1987 e 1988.


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