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JUVENTUDE ENCARCERADA
Decisão foi baseada em denúncias de maus-tratos e tortura de jovens internos da unidade Vila Maria 1, em São Paulo
Justiça afasta diretora de unidade da Febem
GILMAR PENTEADO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A unidade da Febem de São
Paulo usada como local de castigo
disciplinar para internos considerados problemáticos pela instituição foi alvo ontem da primeira
decisão desfavorável da Justiça.
A juíza-corregedora do Deij
(Departamento de Execuções da
Infância e Juventude), Mônica
Paukoski, determinou o afastamento da diretora da unidade 1
do complexo da Vila Maria (zona
norte de São Paulo) devido a denúncias de maus-tratos e tortura
de adolescentes.
Na decisão, a juíza também determinou a abertura de um inquérito policial e o afastamento dos
funcionários citados nas denúncias. Por último, fixou um prazo
de 30 dias para que problemas como falta de programas pedagógicos e más condições de higiene sejam solucionados na unidade, sob
pena do afastamento da própria
presidente da Febem (Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor), Berenice Maria Gianella.
A Vila Maria 1 foi remodelada
no meio do ano para se tornar a
unidade de maior contenção da
Febem. Para lá foram enviados os
internos vistos como os mais problemáticos, como líderes de rebelião, para cumprimento de sanção
disciplinar. Depois de 30 dias, voltariam para unidades normais.
Segundo o Ministério Público,
as normas rígidas se assemelham
às implantadas no RDD (Regime
Disciplinar Diferenciado), existente no sistema prisional do Estado, na qual os detentos só têm
uma hora diária de banho de sol.
Para a unidade foi destinado
um grupo de agentes penitenciários, chamado GIR (Grupo de Intervenção Rápida), vindo da Secretaria da Administração Penitenciária. São eles, no entanto, os
principais alvos das denúncias de
maus-tratos e tortura dos internos. A direção da unidade seria
conivente com as supostas arbitrariedades cometidas.
Braços quebrados
Desde julho, quando o sistema
já estava em funcionamento na
unidade, foram realizadas seis
vistorias por entidades de direitos
humanos, juízes e promotores.
Os relatórios apontam agressões de internos por parte de funcionários do GIR, ociosidade dos
adolescentes e falta de condições
sanitárias.
Na última sexta-feira, seis adolescentes ouvidos pelo Deij confirmaram as agressões sofridas.
Um deles tinha os braços quebrados, segundo relatório do Ministério Público, que solicitou à Justiça o afastamento da direção da
unidade e a apuração das denúncias. Na última terça, o Deij solicitou o exame de corpo de delito de
todos os 108 internos da unidade.
Reflexão
Uma "cela da reflexão" seria um
dos locais mais freqüentes de
agressões a internos, segundo representação da Promotoria da Infância e Juventude de São Paulo.
Nessa sala, localizada na entrada
da unidade, vários internos teriam sido agredidos por funcionários do GIR.
Uma foto feita pelos promotores de Justiça, na qual uma tarja
com a palavra reflexão foi afixada
no cadeado do portão da cela, foi
anexada ao processo.
Para os promotores, a direção
da unidade informou, durante a
vistoria, que o local era usado para "seguro" -espaço destinado a
internos jurados de morte por outros adolescentes.
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