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Cidade tem refúgios só para as mulheres
Longe de olhares masculinos, elas batem papo em eventos e lugares destinados para o público feminino
MARIANNE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA
Depois de uma troca de olhares, o personagem de Marcello
Mastroianni é seduzido por
uma mulher em uma viagem de
trem. Ao segui-la, chega a uma
cidade onde só tem mulheres.
Mas o paraíso, em pouco tempo, transforma-se num inferno.
É com esse enredo onírico
que Federico Fellini desconstrói uma clássica fantasia masculina, em "Cidade das Mulheres". O filme é de 1980, mas poderia ser um prenúncio da São
Paulo de hoje, com uma série
de eventos só para mulheres.
Eventos nos moldes do 1º
Encontro de Mulheres Contemporâneas, que começa na
próxima quarta em São Paulo,
não param de pipocar. A idealizadora, Ana Maria Leandro, 58,
conta que montou a série de palestras sobre o universo feminino porque acredita que seja
uma boa oportunidade para
"networking", ou, em bom português, ampliar a rede de contatos profissionais.
Na pesquisa para o encontro,
ela criou um perfil da mulher
contemporânea, o que acabou
virando uma espécie de estatuto do evento. Essa mulher, diz,
é antenada, viajada, sensível ao
social, provê o bem-estar da família sem ser Amélia e não vê o
casamento como essencial.
Em 15 dias, esse é o segundo
evento cor-de-rosa na cidade.
No final de agosto, houve o Só
Para Mulheres, no Anhembi. A
primeira versão paulista da feira, que acontece há três anos
em Goiânia, reuniu 12 mil mulheres, 110 expositores, que
vendiam de tudo, exceto panelas ou tupperwares -inclusive
palestras: 63 ao todo.
Quem pensou nisso foi a publicitária goiana Patrícia Cunha Campos, 36. "Conheço
bastante esse mercado e sei o
potencial que ele tem."
Para a socióloga Eva Blay, 70,
coordenadora científica do Núcleo de Estudos sobre a Mulher
e Relações Sociais de Gênero da
USP, esses eventos são absolutamente comerciais. Seu futuro, porém, é incerto. "A tendência é que essa proliferação diminua assim que esse mercado
estagnar", acredita.
O fenômeno mercadológico
apontado por Eva ganha suporte nos números do Dieese (Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos). Em junho de
2007, a população economicamente ativa de São Paulo estava dividida em 53,5% homens e
46,5% mulheres. A taxa de participação feminina na população economicamente ativa
cresceu também. As mulheres
pularam de 50,8%, em 1998, para 70,7%, neste ano.
Em forma
Mas nem só de palestras vivem as mulheres. Até para
manter o corpo em forma, já
existem alternativas pensadas
para elas. "Para evitar constrangimento, não há espelhos",
conta a professora da Curves,
Mariane Pereira, 26.
A estudante Carina Garcia,
20, escolheu a academia por se
sentir mais à vontade longe de
olhares masculinos. O esquema
foi determinante para que a advogada Maida Coelho, 49, mantivesse a forma, sem se preocupar com a produção.
Pioneira, a Curves desenvolveu, para Luciana Mankel, 33,
diretora de operações, um ambiente em que as alunas não
precisam ser julgadas.
Coisa de mulherzinha? Pode
até ser, mas não há como subestimar a proliferação desse tipo
de academia. No país, já são 171
unidades e, em São Paulo, 40.
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