São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

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Cidade tem refúgios só para as mulheres

Longe de olhares masculinos, elas batem papo em eventos e lugares destinados para o público feminino

MARIANNE PIEMONTE
DA REVISTA DA FOLHA

Depois de uma troca de olhares, o personagem de Marcello Mastroianni é seduzido por uma mulher em uma viagem de trem. Ao segui-la, chega a uma cidade onde só tem mulheres. Mas o paraíso, em pouco tempo, transforma-se num inferno.
É com esse enredo onírico que Federico Fellini desconstrói uma clássica fantasia masculina, em "Cidade das Mulheres". O filme é de 1980, mas poderia ser um prenúncio da São Paulo de hoje, com uma série de eventos só para mulheres.
Eventos nos moldes do 1º Encontro de Mulheres Contemporâneas, que começa na próxima quarta em São Paulo, não param de pipocar. A idealizadora, Ana Maria Leandro, 58, conta que montou a série de palestras sobre o universo feminino porque acredita que seja uma boa oportunidade para "networking", ou, em bom português, ampliar a rede de contatos profissionais.
Na pesquisa para o encontro, ela criou um perfil da mulher contemporânea, o que acabou virando uma espécie de estatuto do evento. Essa mulher, diz, é antenada, viajada, sensível ao social, provê o bem-estar da família sem ser Amélia e não vê o casamento como essencial.
Em 15 dias, esse é o segundo evento cor-de-rosa na cidade. No final de agosto, houve o Só Para Mulheres, no Anhembi. A primeira versão paulista da feira, que acontece há três anos em Goiânia, reuniu 12 mil mulheres, 110 expositores, que vendiam de tudo, exceto panelas ou tupperwares -inclusive palestras: 63 ao todo.
Quem pensou nisso foi a publicitária goiana Patrícia Cunha Campos, 36. "Conheço bastante esse mercado e sei o potencial que ele tem."
Para a socióloga Eva Blay, 70, coordenadora científica do Núcleo de Estudos sobre a Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP, esses eventos são absolutamente comerciais. Seu futuro, porém, é incerto. "A tendência é que essa proliferação diminua assim que esse mercado estagnar", acredita.
O fenômeno mercadológico apontado por Eva ganha suporte nos números do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos). Em junho de 2007, a população economicamente ativa de São Paulo estava dividida em 53,5% homens e 46,5% mulheres. A taxa de participação feminina na população economicamente ativa cresceu também. As mulheres pularam de 50,8%, em 1998, para 70,7%, neste ano.

Em forma
Mas nem só de palestras vivem as mulheres. Até para manter o corpo em forma, já existem alternativas pensadas para elas. "Para evitar constrangimento, não há espelhos", conta a professora da Curves, Mariane Pereira, 26.
A estudante Carina Garcia, 20, escolheu a academia por se sentir mais à vontade longe de olhares masculinos. O esquema foi determinante para que a advogada Maida Coelho, 49, mantivesse a forma, sem se preocupar com a produção.
Pioneira, a Curves desenvolveu, para Luciana Mankel, 33, diretora de operações, um ambiente em que as alunas não precisam ser julgadas.
Coisa de mulherzinha? Pode até ser, mas não há como subestimar a proliferação desse tipo de academia. No país, já são 171 unidades e, em São Paulo, 40.


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