São Paulo, quinta, 16 de outubro de 1997.



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EDUCAÇÃO 1
Expectativa do governo é entregar os parâmetros curriculares aos 600 mil docentes da rede pública até dezembro
MEC lança livros para orientar professores

Lula Marques/Folha Imagem
O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, durante o lançamento dos parâmetros curriculares, ao lado de crianças e do boneco Aprendiz


BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

Tornar o ensino mais próximo do cotidiano do aluno e estimular a criação de uma "escola cidadã" são os principais objetivos dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), lançados ontem em Brasília pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro Paulo Renato Souza (Educação).
Um conjunto com dez volumes dos PCN começa a ser enviado hoje para cada um dos professores da 1ª à 4ª série da rede pública de 1º grau do país. A expectativa é que até dezembro os 600 mil professores já tenham recebido os livros.
Classificados por FHC como um "marco educacional, por mexer com a cabeça dos alunos e professores", os PCN servirão de referência aos educadores para aumentar a eficiência do ensino.
"Não se trata de uma imposição do governo federal aos Estados e municípios. Nós não temos a responsabilidade do ensino fundamental, mas podemos exercer uma liderança intelectual do processo de melhoria da qualidade do ensino", disse o ministro.
A adoção não é obrigatória. O objetivo é que eles sirvam de diretrizes para os professores.
Do total de professores de 1º grau (da 1ª à 8ª série são 1,338 milhão de funções docentes), 8% (124 mil) não têm 2º grau completo. Os chamados leigos (que não têm o 1º grau completo) são 63,7 mil; 60,8 mil completaram o 1º grau e 610 mil têm nível superior.
A estimativa do ministério é que 40% dos professores de 1º grau da rede pública têm condições de começar a usar os parâmetros já, por terem nível superior.
Outros 30% podem começar a aplicá-los contando com a orientação de cursos de aperfeiçoamento. Os 30% restantes, que se localizam principalmente no Nordeste, dependem de um trabalho mais contínuo de formação.
Para eles, foi elaborado uma série de 40 vídeos que serão exibidos pelo TV Escola mostrando, na prática, como os professores podem trabalhar os conteúdos dos PCN.
Os parâmetros implicam uma mudança de mentalidade na forma de ensinar. É sugerida, por exemplo, a organização da escolaridade em ciclos. O primeiro ciclo abrange a 1ª e a 2ª séries e o segundo ciclo, 3ª e 4ª séries. Experiências de ciclo já em andamento no país mostram que houve redução da evasão escolar e da repetência.
"É mais um ciclo pedagógico. A criança tem um desenvolvimento nesse período, aprende a ler e a escrever, e os conteúdos do desenvolvimento pedagógico não se dão apenas em um ano. Não há problema se a escola quiser manter a divisão em séries, mas sugerimos que os conteúdos devem ser oferecidos com crianças de 7 e 8 anos de idade", afirmou Iara Prado, secretária de Educação Fundamental do MEC e coordenadora da equipe que elaborou os PCN.

Disciplinas tradicionais
Os conteúdos são divididos em áreas de conhecimento englobando as disciplinas tradicionais: língua portuguesa, matemática, história, geografia, ciências naturais, arte e educação física.
Essas disciplinas devem levar em conta os chamados "temas transversais", que as aproximam do dia-a-dia do aluno (veja quadro).
A idéia é que essa aproximação do cotidiano aumente as noções de cidadania da criança. "Um exemplo de como isso pode se dar na prática é o ensino de matemática. A professora pode colocar um problema real que a criança vê na TV, como leite contaminado em diferentes regiões. Ela estimula o estudante a elaborar um gráfico comparando a situação do leite nessas áreas. O aluno estará ganhando um sentido prático e, ao mesmo tempo, faz uma relação com ciências e meio ambiente."



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