São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2005

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"Volta por cima" está ligada a fatores de proteção

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi no século passado que médicos começaram a pesquisar a razão de algumas pessoas, após tragédias ou uma infância miserável, conseguirem sacudir a poeira e dar a volta por cima, como diz o samba de Paulo Vanzolini.
"Achavam que era um dom inato", afirma o psiquiatra Haim Grunspun, 78, professor de Psicopatologia da Criança da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
O que descobriram, relata, é que essa capacidade de recuperação --ou resiliência, na linguagem médica- está associada a fatores de proteção que têm esses indivíduos: confiança na família e nos amigos, autonomia e vontade de mudar são alguns deles.
Sabendo o que protege, especialistas estão promovendo esses fatores, principalmente entre crianças, como uma espécie de "vacina" contra o adoecimento mental. Vêm obtendo bons resultados, afirma Grunspun. Em famílias estruturadas -ou reestruturadas -, escola, esporte e religião podem funcionar como condutores dos mecanismo de proteção, diz.
Recentemente, o psiquiatra lançou o livro "Criando Filhos Vitoriosos - Quando e Como Promover a Resiliência", pela Editora Atheneu -a obra é uma das campeãs em vendas on-line de livros de autoconhecimento e auto-ajuda. O livro dá dicas aos pais sobre como promover a resiliência.
Um bebê que chora sem explicação terá a resiliência fomentada, por exemplo, se receber sinais de que é amado e cuidado: a checagem para ver se sente frio ou se apenas precisa de carinho.
Não se fomenta a resiliência, afirma Grunspun na obra, se é feita apenas uma checagem mecânica das fraldas ou se os pais utilizam a "técnica" de deixar o bebê esperneando até que se canse.
Nos EUA, diz o médico, os fatores protetores -e promotores da resiliência- foram divulgados para as crianças até pelo jornal ""New York Times" como contra-ataque frente à tragédia do 11 de Setembro: se enturmar, ter paciência consigo mesmo e manter uma rotina, além de cuidar do corpo com boas horas de sono, foram algumas dicas. Dividir os problemas e ajudar os outros também foram indicados.
A cartilha recomenda ainda proteção contra o excesso de informações, evitando a ansiedade.
"Mas, em qualquer idade, a resiliência pode ser promovida", defende Grunspun, cuja obra de cerca de 30 livros contribuiu para a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em mais de 50 anos de atendimento de crianças o psiquiatra viu o medo do ""bicho-papão" ser substituído pelo temor de robôs sem alma, que matam sem pensar.
Segundo o médico, estudos mostram que uma grande parte do sobreviventes do Holocausto conseguiu tocar suas vidas -isso por serem resilientes.
Um dos exemplos foram seis crianças judias que sobreviveram a um campo de concentração. Transferidas para um orfanato inglês após a guerra, sem os pais, mantiveram um grupo coeso até serem adotadas. Tiveram um desenvolvimento normal.
"A resiliência não é uma garantia de felicidade, mas uma maneira de enfrentar as intempéries da vida", diz Grunspun.


A obra: "Criando Filhos Vitoriosos. Quando e Como Promover a Resiliência", Haim Grunspun, Editora Atheneu, 212 páginas. Preço: R$ 37,00


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