|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Volta por cima" está ligada a fatores de proteção
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi no século passado que médicos começaram a pesquisar a
razão de algumas pessoas, após
tragédias ou uma infância miserável, conseguirem sacudir a poeira
e dar a volta por cima, como diz o
samba de Paulo Vanzolini.
"Achavam que era um dom inato", afirma o psiquiatra Haim
Grunspun, 78, professor de Psicopatologia da Criança da PUC
(Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
O que descobriram, relata, é que
essa capacidade de recuperação
--ou resiliência, na linguagem
médica- está associada a fatores
de proteção que têm esses indivíduos: confiança na família e nos
amigos, autonomia e vontade de
mudar são alguns deles.
Sabendo o que protege, especialistas estão promovendo esses fatores, principalmente entre crianças, como uma espécie de "vacina" contra o adoecimento mental.
Vêm obtendo bons resultados,
afirma Grunspun. Em famílias estruturadas -ou reestruturadas
-, escola, esporte e religião podem funcionar como condutores
dos mecanismo de proteção, diz.
Recentemente, o psiquiatra lançou o livro "Criando Filhos Vitoriosos - Quando e Como Promover a Resiliência", pela Editora
Atheneu -a obra é uma das campeãs em vendas on-line de livros
de autoconhecimento e auto-ajuda. O livro dá dicas aos pais sobre
como promover a resiliência.
Um bebê que chora sem explicação terá a resiliência fomentada, por exemplo, se receber sinais
de que é amado e cuidado: a checagem para ver se sente frio ou se
apenas precisa de carinho.
Não se fomenta a resiliência,
afirma Grunspun na obra, se é feita apenas uma checagem mecânica das fraldas ou se os pais utilizam a "técnica" de deixar o bebê
esperneando até que se canse.
Nos EUA, diz o médico, os fatores protetores -e promotores da
resiliência- foram divulgados
para as crianças até pelo jornal
""New York Times" como contra-ataque frente à tragédia do 11 de
Setembro: se enturmar, ter paciência consigo mesmo e manter
uma rotina, além de cuidar do
corpo com boas horas de sono,
foram algumas dicas. Dividir os
problemas e ajudar os outros
também foram indicados.
A cartilha recomenda ainda
proteção contra o excesso de informações, evitando a ansiedade.
"Mas, em qualquer idade, a resiliência pode ser promovida", defende Grunspun, cuja obra de cerca de 30 livros contribuiu para a
elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em mais de
50 anos de atendimento de crianças o psiquiatra viu o medo do
""bicho-papão" ser substituído pelo temor de robôs sem alma, que
matam sem pensar.
Segundo o médico, estudos
mostram que uma grande parte
do sobreviventes do Holocausto
conseguiu tocar suas vidas -isso
por serem resilientes.
Um dos exemplos foram seis
crianças judias que sobreviveram
a um campo de concentração.
Transferidas para um orfanato inglês após a guerra, sem os pais,
mantiveram um grupo coeso até
serem adotadas. Tiveram um desenvolvimento normal.
"A resiliência não é uma garantia de felicidade, mas uma maneira de enfrentar as intempéries da
vida", diz Grunspun.
A obra: "Criando Filhos Vitoriosos.
Quando e Como Promover a Resiliência",
Haim Grunspun, Editora Atheneu, 212
páginas. Preço: R$ 37,00
Texto Anterior: Psicólogos aprovam programa Próximo Texto: Economia de energia: Horário de verão começa a vigorar hoje Índice
|