São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo

Das 20 paróquias consultadas pela Folha na semana passada, 13 sofreram algum tipo de furto ou roubo no último ano

Para tentar afastar os ladrões, padres passaram a instalar circuito de câmeras, contratar vigilantes e até a utilizar cães de guarda

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Só a proteção divina não está mais dando conta. Os assaltos a igrejas tornaram-se tão freqüentes que padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos santos e passaram a contratar seguranças, instalar alarmes e até colocar câmeras no altar para evitar furtos e roubos. Nem sempre, no entanto, todo esse aparato é suficiente.
Bastou a última missa do domingo da semana passada terminar para os religiosos da igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul) constatarem que, pela terceira vez em dois meses, tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre onde estavam as oferendas do dia. Os padres não sabem o valor nem têm pistas do ladrão.
Três semanas atrás, porém, um dos quatro seguranças que se revezam no local identificaram um assaltante. "A polícia o prendeu e recuperou o dinheiro. Era o mesmo ladrão que nos roubou há menos de dois meses", diz o padre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja. "Ainda não temos câmeras, mas a segurança se tornou preocupação nas paróquias."
Assaltar igreja não é caso raro na capital. De 20 paróquias consultadas pela Folha, 13 sofreram algum roubo ou furto neste ano ou no passado. Ou seja, 65% das paróquias foram vítimas de ladrões. De agosto para cá, foram sete assaltos.
"Não tem ano que a gente não seja roubado, mas agora está demais", diz o padre João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casaluce, no Brás, centro. "Em agosto, levaram botijão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma festa. Não se respeita mais nem a igreja."

Furtos de pára-raios
Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pascoali Priolo, da São Januário, na Mooca (zona leste). "A situação é terrível, não sei mais o que fazer. Os assaltantes abusam e só a guarda de Deus não dá conta de tudo."
A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes neste ano. Em março, os ladrões levaram cálices, depredaram o sacrário e roubaram até o pára-raios. "Como era de cobre, levaram para vender ao ferro-velho." Na semana passada, a igreja da Consolação, no centro, foi mais uma que teve os fios de seu pára-raios furtados.
O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz de R$ 3.000 que adornava a igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os religiosos de lá. Já a Bom Jesus, no Brás, não sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Senhora Aparecida, furtada há um mês.
Histórias de assaltos são comuns entre os padres. No ano passado, roubaram o ofertório no meio de uma missa na paróquia Imaculada Conceição, na Bela Vista (centro). Também em 2005, ladrões levaram microfones e pedestais da Nossa Senhora do Rosário, na Pompéia (zona oeste). No mês passado, assaltantes furtaram o cofre do grupo de orações na igreja de Santa Cecília, no centro.

Imã para pegar moedinha
Ladrão "pé-de-chinelo" também não falta, contam os párocos. Para roubar as moedinhas dos ofertórios, os assaltantes usam imãs ou bolinhas de piche e, assim, atraem o dinheiro. É para evitar esse tipo de furto que a Sagrado Coração de Jesus, no Morumbi (zona oeste), assaltada em 2005, decidiu depositar no banco o dinheiro das oferendas logo após as missas.
Segurança maior, porém, está na instalação de câmeras nas igrejas. Das 20 paróquias consultadas, seis já têm o sistema e muitas estudam a instalação.
"Depois de sofrermos vários roubos, decidimos no começo do ano que era melhor gastar dinheiro com as câmeras e colocar o cofre no seguro", conta Eugênio João Mezzomo, padre da igreja do Calvário, em Pinheiros (zona oeste). "Sempre somos assaltados na época da quermesse; desta vez, só tivemos pequenos furtos." A manutenção do sistema custa cerca de R$ 900 por mês.
As paróquias que não podem colocar câmeras contratam seguranças. Das 20 consultadas, 13 têm vigias. Mas na igreja da Cruz Torta, também em Pinheiros, o que espanta os ladrões são os nove cachorros do padre Ilson Frossard. "São cinco cães policiais e quatro vira-latas, que latem muito. Ninguém se atreve a chegar perto."


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