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Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo
Das 20 paróquias consultadas pela Folha na semana passada, 13 sofreram algum tipo de furto ou roubo no último ano
Para tentar afastar os ladrões, padres passaram a instalar circuito de câmeras, contratar vigilantes e até a utilizar cães de guarda
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Só a proteção divina não está
mais dando conta. Os assaltos a
igrejas tornaram-se tão freqüentes que padres e sacristães
precisam dar uma ajudinha aos
santos e passaram a contratar
seguranças, instalar alarmes e
até colocar câmeras no altar para evitar furtos e roubos. Nem
sempre, no entanto, todo esse
aparato é suficiente.
Bastou a última missa do domingo da semana passada terminar para os religiosos da
igreja de São Judas Tadeu, no
Jabaquara (zona sul) constatarem que, pela terceira vez em
dois meses, tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre
onde estavam as oferendas do
dia. Os padres não sabem o valor nem têm pistas do ladrão.
Três semanas atrás, porém,
um dos quatro seguranças que
se revezam no local identificaram um assaltante. "A polícia o
prendeu e recuperou o dinheiro. Era o mesmo ladrão que nos
roubou há menos de dois meses", diz o padre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja.
"Ainda não temos câmeras,
mas a segurança se tornou
preocupação nas paróquias."
Assaltar igreja não é caso raro na capital. De 20 paróquias
consultadas pela Folha, 13 sofreram algum roubo ou furto
neste ano ou no passado. Ou
seja, 65% das paróquias foram
vítimas de ladrões. De agosto
para cá, foram sete assaltos.
"Não tem ano que a gente
não seja roubado, mas agora
está demais", diz o padre João
Enes, da paróquia Nossa Senhora Casaluce, no Brás, centro. "Em agosto, levaram botijão de gás e 600 refrigerantes e
cervejas de uma festa. Não se
respeita mais nem a igreja."
Furtos de pára-raios
Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pascoali Priolo, da
São Januário, na Mooca (zona
leste). "A situação é terrível,
não sei mais o que fazer. Os assaltantes abusam e só a guarda
de Deus não dá conta de tudo."
A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes neste ano. Em
março, os ladrões levaram cálices, depredaram o sacrário e
roubaram até o pára-raios.
"Como era de cobre, levaram
para vender ao ferro-velho." Na
semana passada, a igreja da
Consolação, no centro, foi mais
uma que teve os fios de seu pára-raios furtados.
O ferro-velho foi o destino,
ainda, da cruz de R$ 3.000 que
adornava a igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, centro,
dizem os religiosos de lá. Já a
Bom Jesus, no Brás, não sabe o
que aconteceu com a coroa de
Nossa Senhora Aparecida, furtada há um mês.
Histórias de assaltos são comuns entre os padres. No ano
passado, roubaram o ofertório
no meio de uma missa na paróquia Imaculada Conceição, na
Bela Vista (centro). Também
em 2005, ladrões levaram microfones e pedestais da Nossa
Senhora do Rosário, na Pompéia (zona oeste). No mês passado, assaltantes furtaram o cofre do grupo de orações na igreja de Santa Cecília, no centro.
Imã para pegar moedinha
Ladrão "pé-de-chinelo" também não falta, contam os párocos. Para roubar as moedinhas
dos ofertórios, os assaltantes
usam imãs ou bolinhas de piche
e, assim, atraem o dinheiro. É
para evitar esse tipo de furto
que a Sagrado Coração de Jesus, no Morumbi (zona oeste),
assaltada em 2005, decidiu depositar no banco o dinheiro das
oferendas logo após as missas.
Segurança maior, porém, está na instalação de câmeras nas
igrejas. Das 20 paróquias consultadas, seis já têm o sistema e
muitas estudam a instalação.
"Depois de sofrermos vários
roubos, decidimos no começo
do ano que era melhor gastar
dinheiro com as câmeras e colocar o cofre no seguro", conta
Eugênio João Mezzomo, padre
da igreja do Calvário, em Pinheiros (zona oeste). "Sempre
somos assaltados na época da
quermesse; desta vez, só tivemos pequenos furtos." A manutenção do sistema custa cerca
de R$ 900 por mês.
As paróquias que não podem
colocar câmeras contratam seguranças. Das 20 consultadas,
13 têm vigias. Mas na igreja da
Cruz Torta, também em Pinheiros, o que espanta os ladrões são os nove cachorros do padre Ilson Frossard. "São cinco cães policiais e quatro vira-latas, que latem muito. Ninguém se atreve a chegar perto."
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