|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresa do Enem é suspeita em outro caso
Cetro, que teve contrato cancelado com o MEC, é investigada pela Caixa por ter apresentado informações falsas em licitação
Empresa teria repassado atestado incorreto sobre sua capacidade e experiência para fazer concursos em
no mínimo dez Estados
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Cetro, uma das três empresas que compõem o Connasel
(Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção), responsável pela
organização do Enem, tem agora de se haver com a suspeita de
ter apresentado documento
fraudulento em licitação realizada pela Caixa Econômica Federal em dezembro de 2008.
O Enem (Exame Nacional do
Ensino Médio) foi cancelado
no dia 1º de outubro, depois que
ficou provado que o exame havia vazado. O MEC remarcou-o
para os dias 5 e 6 de dezembro.
A Cetro, empresa de concursos sediada em São Paulo, recebeu ontem ofício da Caixa dando-lhe cinco dias para apresentação de defesa prévia em procedimento administrativo que
poderá resultar na pena de impedimento de participar de licitação ou contrato com o banco
por até cinco anos.
A acusação: a Cetro apresentou "atestado de capacidade
técnica" anabolizado para se
habilitar em licitação que a escolheu como empresa responsável por um concurso para auditor júnior da Caixa.
O edital exigia que a empresa
candidata tivesse experiência
em aplicar prova simultaneamente em no mínimo dez Estados, a um número de candidatos igual ou superior a 3.000.
O atestado apresentado pela
Cetro era vistoso: emitido pela
Indústria de Material Bélico do
Brasil (Imbel), dizia que a empresa de concursos organizara
certame do qual participaram
135 mil candidatos inscritos. O
exame teria sido aplicado em
30 locais: 27 capitais de Estados e Distrito Federal, e nos
municípios de Piquete (SP),
Itajubá (MG) e Magé (RJ).
Falso. Na verdade, a Cetro
realizou dois concursos para a
Imbel. Um para 5.114 inscritos,
realizado no Rio, em Itajubá
(MG) e em Piquete (MG). Outro, para 366 candidatos, com
provas em Brasília, Rio, São
Paulo e Piquete.
As tais 27 capitais de Estados
e Distrito Federal, e os municípios de Piquete (SP), Itajubá
(MG) e Magé (RJ), em vez de
sedes de provas, foram apenas
locais em que se fez a divulgação dos dois concursos da Imbel. Segundo o ofício da Caixa,
"resta caracterizado que o atestado de capacidade técnica
apresentado por ocasião dos
procedimentos licitatórios não
apresentou informações verdadeiras, o que levou, em última
análise, à indevida habilitação
dessa empresa [refere-se à Cetro] naquele certame".
A gerente do Departamento
Jurídico da Cetro, Vânia Maria
Bulgari, disse à Folha que "não
houve má-fé da empresa na
apresentação do atestado de
capacidade técnica da Imbel".
Todo esse histórico a Caixa
apurou a partir de denúncia recebida em 19 de maio deste
ano. A licitação para o Enem
saiu no dia 17 de julho e a assinatura do contrato ocorreu em
13 de agosto passado.
Segundo o MEC, os órgãos
federais não trocam informações sobre investigações em
curso, envolvendo prestadores
de serviço. O ministério garantiu ainda que a Cetro não lhe
apresentou o atestado de capacidade técnica da Imbel, como
forma de se qualificar para participar do Enem.
No exame do MEC, a Cetro
tinha, entre outras coisas, a incumbência de aplicar a prova
nos presídios.
Três dos cinco indiciados pela PF sob a acusação de terem
furtado a prova tinham sido
contratados pela Cetro para
atuar na organização de caixas
e no manuseio das provas.
Texto Anterior: Saúde: Presidente da Fundação Butantan renuncia Próximo Texto: Outro lado: Advogada diz que Caixa foi alertada sobre incorreção Índice
|