FÁBIO KONDER COMPARATO

especial para a Folha

Desde o primeiro contato, a afabilidade natural da pessoa envolve o interlocutor e cria uma atmosfera de confiança. A imagem do advogado dominador, que se impõe pela torrente verbal ou se insinua pela sutileza argumentativa, dissolve-se em um segundo.
Somos convidados a despir a prevenção ou o protocolo e a dialogar livremente.
Evandro Lins e Silva aparece, então, de corpo e alma. São mais de 60 anos de experiência no trato com o ser humano, nos momentos em que mais se revela a personalidade de cada um, aquelas horas aflitivas em que o acusado se vê inerme e só, diante de sua própria consciência e da hostilidade do mundo inteiro à sua volta.
Essa capacidade excepcional de simpatia, no exato sentido etimológico da palavra -a aptidão para sofrer com o outro-, não foi o resultado de simples preparação intelectual, mas de uma longa experiência de vida, na defesa de centenas de réus de ambos os sexos, de diferentes idades, de todos os meios sociais e das mais diversas localidades pelo Brasil afora."Evandro Lins e Silva pode exercer elevadas funções no Executivo" Graças a esse humanismo haurido na vida e não nos livros, fundado na sensibilidade moral e não na prosápia de títulos acadêmicos, Evandro Lins e Silva, em breve interregno da advocacia, pode desempenhar com êxito elevadas e complexas funções no Executivo, no Ministério Público e na magistratura, sentindo sempre agudamente sofrimentos, frustrações e esperanças do povo brasileiro.
Foi a paixão na defesa dos fracos e humildes, contra a arrogância e a demência moral dos poderosos, que o levou, desde o primeiro instante, a pleitear a destituição de um presidente da República por falta de decoro -flagelo, infelizmente, ainda não afastado definitivamente de nossa vida política. O método? Nada além da atividade postulatória do advogado. Na expressão ardente de Vieira, é o "pedir pedindo, senão protestando e argumentando, pois esta é a licença e liberdade que tem quem não pede favor, senão justiça".