São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2001

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SAÚDE

Principais destinos turísticos de São Paulo sofrem com falta de médicos e equipamentos para atendimentos complexos

Litoral tem serviços de emergência precários

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

MARIA TERESA MORAES
DA FOLHA VALE

O mestre-de-obras Iraci Martins Vitoriano, 57, divide as oito horas de trabalho no hospital Stella Maris, o único com atendimento público em Caraguatatuba, no litoral norte paulista, entre as tarefas de manutenção e a assistência a pacientes do pronto-socorro.
Entre um e outro serviço de reparo, ele chega a tirar pacientes de ambulâncias e helicópteros, instalando-os em macas e cadeiras de rodas. Às vezes, carrega bolsas de soro e fica com os doentes.
O mestre-de-obras não é o único funcionário a fazer as vezes de auxiliar de enfermagem no Stella Maris. Durante o verão, quando aumenta o movimento no pronto-socorro, é comum funcionários de outros setores do hospital auxiliarem no atendimento.
Cerca de 9.000 pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde) passam por mês pelo pronto-socorro nos meses de baixa temporada. Nos três meses de verão, o número de atendimentos chega a 36 mil -12 mil por mês.
A situação do Stella Maris ilustra a precariedade dos serviços de urgência e emergência do litoral paulista. A dificuldade de acesso às unidades de atendimento que têm condições para atender os casos graves, aliada a um crescimento explosivo da população durante a temporada, trazem grande preocupação às prefeituras, que já enfrentam dificuldades para atender os moradores.
A população de 1,4 milhão de pessoas dos municípios do litoral sul chega a quadruplicar na temporada. No litoral norte, a população de 223.914 habitantes atinge 1,2 milhão de pessoas no auge do verão. Os atendimentos de urgência e emergência quintuplicam em alguns locais do litoral.
Em municípios como Peruíbe, no litoral sul, são necessários cerca de 90 km de estrada com frequentes congestionamentos para chegar aos serviços mais qualificados para atender os casos graves, em Santos. No litoral norte, moradores e turistas da costa sul (Juqueí, Maresias, Boiçucanga), têm de enfrentar até 180 km para alcançar serviços mais sofisticados, em São José dos Campos.
Mesmo o turista que tem condições de pagar pelo atendimento pode passar por dificuldades, já que há pouca oferta de hospitais privados. São sete desses serviços no litoral sul e nenhum no norte.
Os serviços de urgência e emergência oferecidos por esses pequenos e médios municípios não conseguem resolver casos graves, já que, em geral, são deficientes, com déficit de equipamentos e necessidade de especialistas, principalmente nas áreas de UTI, neurocirurgia e cirurgia vascular.

Buraco negro
Nos hospitais, faltam leitos para atender aos casos graves. Este é o caso da Santa Casa de Praia Grande, único hospital do município, cujos 100 leitos já são insuficientes para a população fixa de 200 mil habitantes.
"Estamos em um "buraco negro", longe de tudo", diz Regina Helena Ramos, presidente da Federação Pró-Costa Atlântica e dona de uma casa em Juqueí.
"Por mais que a gente se prepare para uma temporada, é lógico que sempre está em risco. Mas estamos tentando minimizar", diz a secretária da Saúde de São Sebastião, Cláudia Batocchio.
A cidade não conseguiu terminar a reforma da unidade básica de saúde de Boiçucanga, que atende urgências, mas investiu na compra de kits de emergência para atendimentos de acidentados na estrada.
O Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) não tem um raio-X completo e atualizado dos serviços, mas visitou 18 unidades de atendimento hospitalar durante o segundo semestre deste ano e constatou que eles têm sérias dificuldades. "É um atendimento precário e demanda um serviço de transferência", afirma a presidente do conselho, Regina Ribeiro Parizi Carvalho.
No litoral norte, há três ambulâncias das prefeituras para transferências -em Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião. Mongaguá e Peruíbe são os municípios do litoral sul que não têm ambulâncias com UTIs próprias -em caso de necessidade, precisam pedir emprestado.
O Corpo de Bombeiros não tem uma única ambulância com UTI no litoral. Nos casos mais graves, aciona um dos dois helicópteros que costumam ficar de plantão.
"O melhor hospital é o helicóptero da Polícia Militar para levar a gente para São Paulo", diz Fernando Gonçalves da Silva, presidente da Sociedade de Amigos de Barra do Una, em São Sebastião.



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