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SAÚDE
Principais destinos turísticos de São Paulo sofrem com falta de médicos e equipamentos para atendimentos complexos
Litoral tem serviços de emergência precários
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
MARIA TERESA MORAES
DA FOLHA VALE
O mestre-de-obras Iraci Martins Vitoriano, 57, divide as oito
horas de trabalho no hospital Stella Maris, o único com atendimento público em Caraguatatuba, no litoral norte paulista, entre
as tarefas de manutenção e a assistência a pacientes do pronto-socorro.
Entre um e outro serviço de reparo, ele chega a tirar pacientes de
ambulâncias e helicópteros, instalando-os em macas e cadeiras de
rodas. Às vezes, carrega bolsas de
soro e fica com os doentes.
O mestre-de-obras não é o único funcionário a fazer as vezes de
auxiliar de enfermagem no Stella
Maris. Durante o verão, quando
aumenta o movimento no pronto-socorro, é comum funcionários de outros setores do hospital
auxiliarem no atendimento.
Cerca de 9.000 pacientes do SUS
(Sistema Único de Saúde) passam
por mês pelo pronto-socorro nos
meses de baixa temporada. Nos
três meses de verão, o número de
atendimentos chega a 36 mil -12
mil por mês.
A situação do Stella Maris ilustra a precariedade dos serviços de
urgência e emergência do litoral
paulista. A dificuldade de acesso
às unidades de atendimento que
têm condições para atender os casos graves, aliada a um crescimento explosivo da população
durante a temporada, trazem
grande preocupação às prefeituras, que já enfrentam dificuldades
para atender os moradores.
A população de 1,4 milhão de
pessoas dos municípios do litoral
sul chega a quadruplicar na temporada. No litoral norte, a população de 223.914 habitantes atinge
1,2 milhão de pessoas no auge do
verão. Os atendimentos de urgência e emergência quintuplicam
em alguns locais do litoral.
Em municípios como Peruíbe,
no litoral sul, são necessários cerca de 90 km de estrada com frequentes congestionamentos para
chegar aos serviços mais qualificados para atender os casos graves, em Santos. No litoral norte,
moradores e turistas da costa sul
(Juqueí, Maresias, Boiçucanga),
têm de enfrentar até 180 km para
alcançar serviços mais sofisticados, em São José dos Campos.
Mesmo o turista que tem condições de pagar pelo atendimento
pode passar por dificuldades, já
que há pouca oferta de hospitais
privados. São sete desses serviços
no litoral sul e nenhum no norte.
Os serviços de urgência e emergência oferecidos por esses pequenos e médios municípios não
conseguem resolver casos graves,
já que, em geral, são deficientes,
com déficit de equipamentos e
necessidade de especialistas, principalmente nas áreas de UTI, neurocirurgia e cirurgia vascular.
Buraco negro
Nos hospitais, faltam leitos para
atender aos casos graves. Este é o
caso da Santa Casa de Praia Grande, único hospital do município,
cujos 100 leitos já são insuficientes
para a população fixa de 200 mil
habitantes.
"Estamos em um "buraco negro", longe de tudo", diz Regina
Helena Ramos, presidente da Federação Pró-Costa Atlântica e dona de uma casa em Juqueí.
"Por mais que a gente se prepare para uma temporada, é lógico
que sempre está em risco. Mas estamos tentando minimizar", diz a
secretária da Saúde de São Sebastião, Cláudia Batocchio.
A cidade não conseguiu terminar a reforma da unidade básica
de saúde de Boiçucanga, que
atende urgências, mas investiu na
compra de kits de emergência para atendimentos de acidentados
na estrada.
O Cremesp (Conselho Regional
de Medicina do Estado de São
Paulo) não tem um raio-X completo e atualizado dos serviços,
mas visitou 18 unidades de atendimento hospitalar durante o segundo semestre deste ano e constatou que eles têm sérias dificuldades. "É um atendimento precário e demanda um serviço de
transferência", afirma a presidente do conselho, Regina Ribeiro
Parizi Carvalho.
No litoral norte, há três ambulâncias das prefeituras para transferências -em Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião. Mongaguá e Peruíbe são os municípios do litoral sul que não têm
ambulâncias com UTIs próprias
-em caso de necessidade, precisam pedir emprestado.
O Corpo de Bombeiros não tem
uma única ambulância com UTI
no litoral. Nos casos mais graves,
aciona um dos dois helicópteros
que costumam ficar de plantão.
"O melhor hospital é o helicóptero da Polícia Militar para levar a
gente para São Paulo", diz Fernando Gonçalves da Silva, presidente da Sociedade de Amigos de
Barra do Una, em São Sebastião.
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