São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2001

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SAÚDE

Coração "fraco" só mata menos que derrame

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

LEONARDO WERNER SILVA
DA REDAÇÃO

Jorge Amado, Nelson Rodrigues, o ex-presidente João Figueiredo foram vítimas. O ex-jogador de futebol Diego Maradona luta contra o problema.
Classificada como uma síndrome, conjunto de sinais e sintomas de uma doença, a insuficiência cardíaca ocorre quando o coração tem dificuldades para bombear o sangue para o resto do corpo.
No Brasil, é a segunda principal causa de morte nos hospitais que atendem o SUS -só perde para o derrame. Neste ano, pelo menos 18.817 brasileiros foram mortos pela insuficiência cardíaca.
A síndrome decorre de outros problemas do coração, como a hipertensão, dilatação excessiva do músculo cardíaco, sucessivos infartos e doença de Chagas.
O infarto, por exemplo, "mata" parte do músculo cardíaco. A parte que sobra trabalha em dobro para bombear o sangue.
Normalmente, o coração consegue bombear acima de 60% do sangue que recebe com uma batida. Um coração com insuficiência faz menos de 30% do trabalho.
Estima-se que a síndrome atinja até 5% da população de alguns países, principalmente na Europa, e possa evoluir silenciosamente em até 8% dos pacientes. Nos EUA, entre 2 e 3 milhões de pessoas têm o problema e 400 mil casos novos são registrados por ano.
"É uma epidemia", afirma o cardiologista Edimar Bocchi, responsável pela clínica de insuficiência cardíaca do Incor (Instituto do Coração) em São Paulo, e presidente do grupo de estudos da Insuficiência Cardíaca da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Um exame de sangue que mede a quantidade de um hormônio ligado à síndrome e o ecocardiograma, exame de imagem que mostra o tamanho e a performance do coração, ajudariam a detectar a síndrome.
Pacientes com histórico de problemas cardíacos, que não seguem o tratamento adequado e acima dos 50 anos são os mais suscetíveis a desenvolver o problema. A prevenção inclui dieta com pouco sal e gordura, além de exercícios físicos.
Há quatro "graus" de insuficiência cardíaca. No primeiro, o paciente é assintomático. No segundo estágio, tem falta de ar em grandes esforços. No terceiro grau da insuficiência cardíaca, há falta de ar até para esforços médios, como caminhar no plano. No último grau, esforços mínimos causam um grande cansaço.
O tratamento consiste em drogas para aliviar os sintomas e evitar a evolução, como diuréticos que facilitam a eliminação de líquidos -em alguns casos da síndrome há acúmulo de fluídos.
Há ainda o uso de remédios que ajudam a aumentar a frequência cardíaca e melhorar o trabalho do órgão. Outros são vasodilatadores e há uma classe de drogas que inibe a ação de hormônios que sobrecarregam o coração.
Para os casos muito graves, muitas vezes só um transplante cardíaco é a saída.
A carga de remédios é grande e alguns pacientes têm dificuldades para seguir o tratamento, diz Bocchi. A dona-de-casa Maria Leonilda Caetano, 50, que tem a síndrome devido à doença de Chagas, diz não ter problemas para tomar nove medicamentos diários.
Segundo ela, o que mais incomoda é a dieta a que teve que se submeter, excluindo sal e comidas enlatadas da sua alimentação.



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