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TRANSIÇÃO
Equipe diz que desse modo seriam implantados em cem dias o Fórum Nacional da Educação e o programa de alfabetização
PT sugere pacto para viabilizar a educação
ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Será necessária uma espécie de
pacto na educação para tentar
viabilizar as duas principais medidas que o governo Lula deve
implantar no setor nos cem primeiros dias de governo: a criação
de um Fórum Nacional da Educação e o início de um programa
amplo de alfabetização.
As recomendações estão no relatório preparado pelo grupo de
educação na equipe de transição
do PT. O coordenador da área,
Newton Lima Neto, prefeito de
São Carlos (SP) e responsável pelo
programa petista de educação,
considera que as divergências no
setor exigem esse acordo geral.
Os interesses e as reivindicações
são mesmo grandiosos. Universidades privadas e estudantes propõem mais do que dobrar o número de alunos atendidos nos
programas de financiamento
-hoje são 200 mil, e o pedido é
que sejam beneficiados 500 mil.
Os professores querem reajuste
salarial de 25%. As universidades
federais pedem a contratação de
7.000 docentes em dois anos.
O relatório não vai apresentar
sugestões de onde conseguir dinheiro para os projetos. "Essa é
uma tarefa que caberá ao novo
ministro", diz Lima Neto.
Muitos pedidos
Logo de início, deve haver alguma decepção entre os agentes do
ensino superior. "O governo está
consciente da necessidade de financiamento. Este é o ponto central", diz Gabriel Mário Rodrigues, presidente do Semesp (Sindicato das Mantenedoras do Estado de São Paulo).
Para Heitor Pinto Filho, presidente da Associação Nacional das
Universidades Particulares
(Anup), "a expectativa número
um é a regulamentação muito clara sobre como vamos abrir faculdades, centros universitários e
universidades. Qual é a regra do
jogo? Ela não existe hoje".
Mozart Neves Ramos, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais
de Ensino Superior (Andifes), pede autonomia para as federais.
"Chegamos ao limiar. Não dá
mais para gerir universidades como se faz hoje: não temos orçamento, plano de cargos e salários
e nem autonomia jurídica."
O presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes),
Luiz Carlos Gonçalves Lucas, propõe valorização da escola pública
e mais controle sobre estabelecimentos privados.
A UNE (União Nacional dos Estudantes), segundo Christian
Lindberg, diretor de Relações Internacionais da entidade, quer
ampliação do crédito educativo.
Estabelecer prioridades
Apesar de reconhecer todos esses problemas, o relatório deixa
questões como crédito educativo,
autonomia e avaliação para um
pouco mais tarde.
"Não adianta pegar todo o programa de governo e falar: "Nos
cem primeiros dias de governo,
tem de fazer isso tudo". Não vai
acontecer nada assim. Nosso trabalho é pinçar algumas coisas
fundamentais e mais importantes
do ponto de vista estrutural", afirma Lima Neto.
O fórum nacional, segundo o
coordenador do grupo de educação, seria um conselho com participação de secretários estaduais e
municipais, representantes de
instituições públicas e particulares, professores, funcionários e
estudantes. A idéia seria abrir um
canal de comunicação para definir as políticas de educação.
"Há um clamor geral por uma
participação efetiva", declara o
prefeito. É aqui que entra o pacto.
"Essa participação vai ser feita à
moda do Lula: com construção de
pactos, porque os interesses gerais pró-educação são os mesmos,
mas a forma de fazer isso é divergente em vários aspectos."
Riscos do sistema
A crise do ensino educacional
superior é uma bomba no colo do
novo governo. Dois terços das vagas nesse nível são de instituições
privadas: dos 2,7 milhões de alunos na graduação, 1,8 milhão está
no ensino pago, e 887 mil estão
em instituições públicas.
A inadimplência chega a 35%
nos casos mais graves, quando
deveria ser no máximo de 7%, segundo Heitor Pinto, da Anup.
Lima Neto diz que as particulares reclamam de concorrência
predatória. "Há uma série de estabelecimentos que estão fazendo
"dumping", cobrando mensalidades muito abaixo da média."
Se houver fechamento de muitos cursos, não há possibilidade
de o sistema público conseguir
absorver essa demanda.
Rodrigues, do Semesp, não crê
num colapso, mas diz que, se não
houver mais financiamento, o setor deve passar por fusões.
O relator petista vai apresentar
uma proposta de aumento no financiamento aos estudantes. A
idéia é financiar 600 mil alunos:
2/3 na forma de crédito educativo
(dinheiro emprestado e pago depois do final do curso) e 1/3 como
bolsa universitária (paga com trabalho comunitário).
Lima Neto afirma que o governo deve tentar encontrar fontes
não-orçamentárias. Dá como
exemplo recursos da loteria, recursos do BNDES e fundos internacionais. Mas o relatório não detalha exatamente como conseguir
o dinheiro. "O programa de governo não entrou na especificidade das fontes de recursos para
ampliar a oferta de crédito educativo no novo sistema."
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