São Paulo, quarta, 16 de dezembro de 1998

Próximo Texto | Índice

EDUCAÇÃO
Bolsistas da Capes serão obrigados a ministrar aulas; Paulo Renato nega que medida seja para preencher vagas
MEC usará aluno de pós como professor

Fernanda Coronado/Folha Imagem
Aluno da PUC-Campinas faz protesto de cuecas, em alusão à situação em que o reajuste o teria deixado


BETINA BERNARDES
da Sucursal de Brasília

A partir de 99, os bolsistas de pós-graduação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) serão obrigados a dar aulas na graduação.
O anúncio da medida foi feito ontem pelo ministro da Educação, Paulo Renato Souza. A Capes tem 12.750 bolsistas fazendo mestrado e 7.540 fazendo doutorado.
"Os alunos da pós-graduação da Capes terão de assinar um compromisso de participar de atividades docentes na graduação. Isso acontece em todo o mundo. Aqui, o bolsista só faz a pós, e o professor substituto dá aula na graduação", afirmou o ministro.
Segundo Paulo Renato, o fato de as universidades poderem contar com esses alunos dará maior flexibilidade para que as instituições possam organizar seus cursos. Ainda não foi definido se eles darão aula por apenas um ou dois semestres ou se por todo o período de vigência das bolsas da Capes.
Segundo o ministro, a medida não tem como objetivo suprir a falta de professores nem preencher vagas abertas de docentes nas universidades, mas sim ajudar no aperfeiçoamento acadêmico.
"Ele terá uma experiência concreta de ensino, mesmo que decida não seguir a carreira de professor. Faz parte de sua formação."

Funcionários
As 52 instituições federais de ensino superior contam hoje com 42,8 mil professores no quadro fixo e 5.058 professores substitutos. Há 7.422 vagas de docentes para serem preenchidas por concurso.
Os professores substitutos, a maioria contratada em regime de 20 horas semanais, servem como uma espécie de "quebra-galho" na universidade. Como há 7.422 vagas abertas para professores e não há autorização de realização de concurso para preenchimento de todas elas, as instituições acabam contratando os substitutos.
Eles têm contrato por um período determinado e não seguem o regime de carreira de professores universitários federais. Essa fórmula não agrada nem aos professores nem às instituições, que querem docentes efetivos e reivindicam o preenchimento por concurso das vagas abertas.
Para o presidente da Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais e Ensino Superior), José Ivonildo do Rego, é positivo o fato de alunos da pós atuarem na graduação.
"A atuação dos estudantes da pós-graduação na docência significa possibilidade de aumento de ofertas de disciplinas na graduação. A instituição com pós-graduação forte muito provavelmente teria condição de abrir mão dos substitutos", disse Rego.
Para o presidente da Andes (sindicato nacional de professores universitários), Renato de Oliveira, a proposta do MEC é boa, mas tem riscos. "O risco é que os alunos da pós venham a cumprir o papel que os professores substitutos estão cumprindo hoje e que acabem substituindo docentes do quadro fixo. Se isso acontecer, a proposta acaba comprometendo a própria pós-graduação."



Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.