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São Paulo, sexta-feira, 17 de janeiro de 2003

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CLIMA

Em Belo Horizonte, oito crianças de uma mesma família morreram soterradas; resgates mobilizaram cerca de 2.500 pessoas

Chuvas matam pelo menos 25 em MG

LEONARDO WERNER
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Pelo menos 25 pessoas morreram e 70 ficaram feridas após uma madrugada de chuvas ininterruptas em Minas Gerais. Em apenas uma das ocorrências, na zona leste de Belo Horizonte, oito crianças da mesma família morreram.
Os problemas começaram a ser registrados por volta das 3h, quando três barracos foram atingidos por um deslizamento, em Contagem, na região metropolitana da capital mineira.
Doze pessoas da mesma família dormiam no local na hora. Duas conseguiram escapar. Seis foram retiradas mortas, entre elas uma criança de três anos.
Em Contagem, outras quatro pessoas continuavam desaparecidas ontem à noite. As equipes de resgate consideravam remotas as chances de ainda encontrar alguém com vida.
Nas horas seguintes, três casos semelhantes mobilizaram praticamente todo o efetivo do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil. No total, mais de 2.500 pessoas atuaram na operação de salvamento das vítimas. Até bombeiros que trabalham em áreas administrativas foram chamados para prestar socorro.

Resgate
Um dos acidentes mais graves ocorreu no bairro Morro das Pedras, uma área de risco da zona leste de Belo Horizonte.
Eram pouco mais de 4h quando um grande deslizamento atingiu um barraco onde dormiam 11 pessoas. A lama bateu com mais força no quarto que estava sendo ocupado por seis filhos e três sobrinhos do lavador de carros Antônio José Laurêncio.
Todos, exceto ele e sua mulher, Valdezita Caldeira Santos, foram soterrados. Os corpos de oito crianças foram localizados pelos bombeiros durante a tarde e o começo da noite.
Apenas o garoto Felipe, 10, que protagonizou uma das cenas mais dramáticas do resgate de ontem, sobreviveu ao soterramento (leia texto nesta página). A operação de salvamento ocorreu durante todo o dia, contando com mais de 80 pessoas, entre bombeiros e voluntários.
No bairro Taquaril, na região leste, uma pessoa morreu após o barraco onde morava ter sido atingido pela queda de uma casa. À noite, uma segunda vítima fatal do bairro foi confirmada.
No Morro do Cafezal, região sul de Belo Horizonte, morreram um casal e dois filhos, cujos nomes e idades não foram revelados. Os próprios vizinhos retiraram os corpos que estavam sob a lama.
O resgate das vítimas foi dificultado pela chuva, que não deu trégua durante a tarde de ontem.

Recorde
A tragédia em Belo Horizonte é sem precedentes, segundo informou a Defesa Civil. Entre 1996 e 1997, 16 pessoas morreram na região metropolitana por causa das chuvas, em um período de seis meses. Agora, em apenas um dia, o total chegou a 20.
O quadro de destruição observado na capital mineira na madrugada de ontem se repetiu em algumas localidades do interior do Estado.
A cidade mais atingida foi Caratinga, no leste de Minas Gerais, onde três pessoas morreram afogadas e uma criança estava desaparecida. O município, que já havia decretado calamidade pública, voltou a ser castigado por uma tempestade. Dois prédios desabaram e foram levados pelo rio Caratinga, que invadiu a cidade.
Além do problema da chuva, a Polícia Militar foi chamada para reprimir saques a lojas que tiveram vitrines e grades destruídas pelas águas. A polícia informou que foram levados objetos pequenos, como bolsas e perfumes. Oito pessoas foram presas por furto.
Em Santa Bárbara do Leste, uma pessoa morreu também em consequência das chuvas. O município estava ilhado. Em Manhuaçu, um homem morreu afogado quando ajudava no resgate às vítimas. O barco no qual estava virou no rio Manhuaçu.
A meteorologia prevê que deve continuar chovendo no Estado hoje. A chuva seria consequência de uma frente fria localizada no litoral do Espírito Santo.


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