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Tribos comportamentais dividem as praias do Rio
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
No mapa das praias cariocas, os
jovens ricos que exibem seus corpos malhados em frente ao
Country Club, no final de Ipanema (posto 10), estão geograficamente muito mais próximos dos
banhistas da Cruzada São Sebastião, conjunto de classe baixa do
início do Leblon, do que da juventude classe média e alternativa
que predomina nas areias do
meio de Ipanema (posto 9).
Apesar da violência da cidade,
do medo de arrastões, dos carros
blindados e prédios gradeados
em que as elites cariocas se escondem, as praias insistem em ser o
espaço mais democrático do Rio.
"Aqui é todo mundo igual. Eu
não paguei, ninguém pagou", diz
uma personagem do documentário "Faixa de Areia", dirigido por
Flávia Lins e Silva e exibido pelo
canal pago GNT. O programa
mostra como a praia permite essa
mistura social, ao mesmo tempo
em que estabelece fronteiras culturais ou comportamentais. São
as chamados tribos, que delimitam seus espaços na areia.
"No [posto] 9 está difícil de ir
porque está muito muvucado
[cheio]. No 10 só tem patricinha,
parece desfile de moda: tem menina que vai até de salto alto para
a praia. Então, a gente fica no 9 e
meio, que é mais eclético e tranqüilo", delimita com rigor a estudante de jornalismo Renata Porto, 21, ao lado de três amigas.
O 9 e meio reúne o público que
marcou o antigo 9: jovens -e ex-jovens com espírito de Peter
Pan- que passam horas sentados numa canga, não ligam para
grifes de biquíni, batem palmas
para o pôr-do-sol e, em boa parte,
fumam maconha na areia.
Foi no 9 que se consagraram o
verão da lata (1988), quando 22
toneladas de maconha se soltaram do navio Solana Star e algumas latas deram no litoral carioca,
e o verão do apitaço (1995), quando apitos soavam na praia para
alertar os fumantes da chegada da
polícia.
"O bom aqui é que você sempre
encontra alguém conhecido. E já
dá para marcar o que fazer à noite,
porque as pessoas gostam dos
mesmos lugares: Santa Teresa,
Lapa e, principalmente, Baixo Gávea", diz a estudante de nutrição
Jessica Nobre, 22, traçando o circuito da juventude alternativa,
que prefere barzinhos a boates.
Entre os postos 9 e 10, é possível
se deparar com Luana Piovani,
Guilherme Leme, Victor Fasano e
outros atores. Já entre os postos 8
e 9, em frente à rua Farme de
Amoedo, o ponto é notoriamente
gay, ocupado por casais, grupos e
turistas. O estilista Calvin Klein
passou ali a maior parte do tempo
em que esteve na cidade.
Os adeptos do turismo sexual
preferem, em Ipanema, a faixa de
areia em frente ao Ceasar Park.
Em Copacabana, o ponto da prostituição é diante do Othon Palace,
enquanto a praia em frente ao Copacabana Palace tem até a bandeira com as cores do arco-íris que
identifica áreas gays.
A Barra da Tijuca já deixou há
muito tempo de ser opção para
quem quer sossego. Especialmente depois da abertura da Linha
Amarela, gente de toda a cidade
tem chegado ao antigo santuário
dos ricos emergentes.
"Gosto daqui porque tem sempre gente bonita e alegre", simplifica a pedagoga Jeane Elizabeth,
30, pegando sol em frente à barraca do Pepê, a mais famosa da Barra. "Quando o Pepê enche muito,
como tem acontecido, prefiro ir
um pouco para o lado", afasta-se
a psicóloga Mariana Alves, 29.
Essa busca por sossego leva
muitas pessoas à Joatinga, praia
com apenas 200 m de areia e difícil acesso, e à Prainha, a preferida
dos surfistas. "Aqui é muito mais
tranqüilo e dá até para ele aprender surfe", diz a vendedora Fabiana Fontenelle, 25, apontando para
o filho Breno, 6, que já sobe na
prancha com a ajuda dos pais.
Mesmo sendo área de proteção
ambiental, Grumari, vizinha da
Prainha, já é um programa inviável nos fins de semana, dado o excesso de banhistas e carros. Quem
quer sossego nos sábados e domingos tem de se aventurar por
searas mais distantes.
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