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SAÚDE
Número de mortos pela doença em 2005 foi o maior desde 1986, com exceção de 2002, quando houve uma epidemia
Dengue volta a crescer e já mata mais
ANTÔNIO GOIS
LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO
A dengue voltou a ser uma
ameaça no país, principalmente
na região Nordeste. O número de
mortes pela doença em 2005 foi o
maior já verificado no país desde
1986, com exceção do ano de
2002, quando houve uma epidemia concentrada na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Segundo a Secretaria de Vigilância de Saúde do Ministério da
Saúde, até novembro de 2005 foram registrados 43 óbitos. Esse
número só não foi maior do que
os 150 verificados em 2002, mas
supera o total de 38 mortes em todo o ano de 2003, até então o segundo maior desde 1986.
Comparando o período de janeiro a outubro do ano passado
com o mesmo período de 2004,
houve um aumento de 81% no total de casos notificados. Em 2004,
101 mil brasileiros contraíram a
doença e oito morreram por causa dela. Em 2005, esse número subiu para 184 mil, com 43 óbitos.
A maior incidência da doença
em 2005 foi nas regiões Norte e
Nordeste. Juntas, elas concentraram, até outubro, 68% dos casos.
Em números absolutos, a região
com maior índice de casos notificados foi o Nordeste, com 86.091
casos, ou 47% do total. Na região
Norte, o número foi menor
(38.464, ou 21% do total), mas,
quando se analisa o tamanho da
população, o quadro nesses Estados é ainda mais preocupante.
Levando em conta a estimativa
de população do IBGE para 2005,
o país estava, até outubro, com
uma taxa de incidência de 99,7 casos de dengue por 100 mil habitantes. No Nordeste, essa taxa
chegava a 168,7, e, no Norte, 261,7.
Para o secretário de Vigilância
em Saúde do ministério, Jarbas
Barbosa, o alto índice de óbitos
concentrados no Norte e no Nordeste ocorreu porque, após o pico
de 2002, aumentou muito a probabilidade de contágio pela dengue do tipo 3 -a mais letal.
"Quando a pessoa tem a segunda infecção pelo vírus da dengue,
aumentam as chances de ela ter
dengue hemorrágica, que é a mais
letal. Como houve um número
muito grande de pessoas infectadas com a dengue hemorrágica
em 2002, aumenta a probabilidade de outras pessoas virem a ser
infectadas com esse tipo da doença", afirma Barbosa.
Para comprovar isso, segundo
Barbosa, basta comparar os dados de 1996 com os de 2005. Há
dez anos, o país teve 183.762 registros de dengue, mas houve apenas
uma morte. No ano passado, dados preliminares até novembro (o
ministério ainda não tem os dados de Rio e Bahia para esse mês)
mostram que o número de casos
foi quase o mesmo (186.702), mas
o total de óbitos chegou a 43.
"É por isso que as epidemias de
dengue são mais preocupantes
hoje do que eram antes. Qualquer
epidemia que vier a acontecer virá
acompanhada de um padrão de
alta mortalidade porque já há um
grande número de pessoas com
maior probabilidade de contrair
dengue hemorrágica."
Para o infectologista e professor
da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul Rivaldo Venâncio
da Cunha, que fez mestrado e
doutorado sobre a doença, a dengue persistirá pelos próximos 20
anos no Brasil e na maioria dos
países da América Latina.
A explicação é que o controle da
doença está ligado a fatores estruturais, já que a transmissão pelo
mosquito Aedes aegypti é facilitada pela instabilidade das condições de saneamento e baixo nível
educacional da população.
Roberto Medronho, epidemiologista da UFRJ, concorda: "Os
investimentos dos últimos governos, inclusive o atual, ficaram
muito aquém do desejado".
O Ministério da Saúde também
está preocupado com o avanço da
doença no interior de São Paulo e
na região metropolitana de Minas
Gerais. A preocupação, diz Barbosa, é que essas duas regiões ainda não passaram por uma epidemia de dengue hemorrágica.
Segundo Barbosa, apesar das
mortes ocorridas em 2005 e da
confirmação, pela Fiocruz, de três
óbitos por dengue no Estado do
Rio, o ministério ainda não identificou no atual verão nenhum
quadro de epidemia no Brasil.
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