São Paulo, terça-feira, 17 de janeiro de 2006

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SAÚDE

Número de mortos pela doença em 2005 foi o maior desde 1986, com exceção de 2002, quando houve uma epidemia

Dengue volta a crescer e já mata mais

ANTÔNIO GOIS
LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO

A dengue voltou a ser uma ameaça no país, principalmente na região Nordeste. O número de mortes pela doença em 2005 foi o maior já verificado no país desde 1986, com exceção do ano de 2002, quando houve uma epidemia concentrada na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Segundo a Secretaria de Vigilância de Saúde do Ministério da Saúde, até novembro de 2005 foram registrados 43 óbitos. Esse número só não foi maior do que os 150 verificados em 2002, mas supera o total de 38 mortes em todo o ano de 2003, até então o segundo maior desde 1986.
Comparando o período de janeiro a outubro do ano passado com o mesmo período de 2004, houve um aumento de 81% no total de casos notificados. Em 2004, 101 mil brasileiros contraíram a doença e oito morreram por causa dela. Em 2005, esse número subiu para 184 mil, com 43 óbitos.
A maior incidência da doença em 2005 foi nas regiões Norte e Nordeste. Juntas, elas concentraram, até outubro, 68% dos casos. Em números absolutos, a região com maior índice de casos notificados foi o Nordeste, com 86.091 casos, ou 47% do total. Na região Norte, o número foi menor (38.464, ou 21% do total), mas, quando se analisa o tamanho da população, o quadro nesses Estados é ainda mais preocupante.
Levando em conta a estimativa de população do IBGE para 2005, o país estava, até outubro, com uma taxa de incidência de 99,7 casos de dengue por 100 mil habitantes. No Nordeste, essa taxa chegava a 168,7, e, no Norte, 261,7.
Para o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa, o alto índice de óbitos concentrados no Norte e no Nordeste ocorreu porque, após o pico de 2002, aumentou muito a probabilidade de contágio pela dengue do tipo 3 -a mais letal.
"Quando a pessoa tem a segunda infecção pelo vírus da dengue, aumentam as chances de ela ter dengue hemorrágica, que é a mais letal. Como houve um número muito grande de pessoas infectadas com a dengue hemorrágica em 2002, aumenta a probabilidade de outras pessoas virem a ser infectadas com esse tipo da doença", afirma Barbosa.
Para comprovar isso, segundo Barbosa, basta comparar os dados de 1996 com os de 2005. Há dez anos, o país teve 183.762 registros de dengue, mas houve apenas uma morte. No ano passado, dados preliminares até novembro (o ministério ainda não tem os dados de Rio e Bahia para esse mês) mostram que o número de casos foi quase o mesmo (186.702), mas o total de óbitos chegou a 43.
"É por isso que as epidemias de dengue são mais preocupantes hoje do que eram antes. Qualquer epidemia que vier a acontecer virá acompanhada de um padrão de alta mortalidade porque já há um grande número de pessoas com maior probabilidade de contrair dengue hemorrágica."
Para o infectologista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Rivaldo Venâncio da Cunha, que fez mestrado e doutorado sobre a doença, a dengue persistirá pelos próximos 20 anos no Brasil e na maioria dos países da América Latina.
A explicação é que o controle da doença está ligado a fatores estruturais, já que a transmissão pelo mosquito Aedes aegypti é facilitada pela instabilidade das condições de saneamento e baixo nível educacional da população.
Roberto Medronho, epidemiologista da UFRJ, concorda: "Os investimentos dos últimos governos, inclusive o atual, ficaram muito aquém do desejado".
O Ministério da Saúde também está preocupado com o avanço da doença no interior de São Paulo e na região metropolitana de Minas Gerais. A preocupação, diz Barbosa, é que essas duas regiões ainda não passaram por uma epidemia de dengue hemorrágica.
Segundo Barbosa, apesar das mortes ocorridas em 2005 e da confirmação, pela Fiocruz, de três óbitos por dengue no Estado do Rio, o ministério ainda não identificou no atual verão nenhum quadro de epidemia no Brasil.


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