São Paulo, quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IPT já realizou estudos para a linha 4 em 97

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mesmo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) contratado para apontar as causas do maior acidente da história do Metrô já teve participação na linha 4, situação que motivou alguns questionamentos de profissionais sobre eventuais conflitos de interesse que possam interferir no laudo.
O instituto, ligado ao Estado, foi contratado pelo Metrô para fazer em 1997 os estudos de caracterização geológica e geotécnica da linha 4, no trecho da Faria Lima à Vila Sônia, inclusive na área da estação Pinheiros -exatamente onde ocorreu a tragédia da sexta passada.
O trabalho foi solicitado, diz a assessoria do IPT, para que servisse de embasamento para a concorrência pública -antes do projeto básico e da realização da licitação. O IPT teve a ajuda de um consultor inglês nas análises do maciço rochoso.
O IPT afirma que sua contribuição para a linha 4-amarela só tende a ajudar nas investigações, justamente por ter agrupado conhecimento detalhado sobre as condições geológicas.
Mas um engenheiro e um geólogo ouvidos em caráter reservado pela Folha -um ligado à USP e outro a uma entidade representativa de classe- viram ressalvas nessa condição.
Apesar de ressaltarem a capacidade de técnicos do IPT, temem pressões políticas e não descartam a possibilidade, ainda que pequena, de ter havido algum vício de origem em estudos geológicos iniciais da área.
Os discursos de membros da gestão José Serra (PSDB) nos últimos dias têm ressaltado a confiança irrestrita no IPT.
Os profissionais que apontaram ressalvas nessa condição destacam ser muito mais provável ter havido falhas na execução da obra do que em análises iniciais de solo. Mesmo assim, vêem conflito de interesse.
Ex-funcionários do instituto dizem confiar na sua isenção. "É uma questão pertinente, a ser discutida, mas eu confio nos técnicos do IPT", afirma Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor do instituto, ressalvando a necessidade de vigilância para que não haja nenhuma pressão governamental na atuação do IPT. "Os técnicos precisam ter total liberdade, não podem ser constrangidos, para haver isenção", diz.
José Roberto Braguim, presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e que trabalhou durante 17 anos no IPT, diz ter confiança no "profissionalismo" do instituto.
Ele avalia que as diversas etapas envolvidas num projeto dessa dimensão (estudo preliminar, projeto básico, projeto executivo, execução da obra, controle, fiscalização) tendem a reparar erros de origem.
"Os procedimentos iniciais são repetidos nas fases seguintes. O IPT é imbatível na caracterização de solo. Não acredito que um eventual vício pudesse se propagar no resto da obra."
O Metrô afirmou que, "além da ilibada reputação" do IPT, ele participou da linha 4 antes do projeto básico, conferindo ao órgão "total independência e credibilidade".


Texto Anterior: Para engenheiros, acidente em 2005 foi por falta de concreto
Próximo Texto: Para instituto, experiência vai ajudar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.