|
Texto Anterior | Índice
José Montenegro, a odisséia particular
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Da serenata na janela da
amada ao sertão sob sol e sob
chuva fez-se a história do
promotor e juiz do Nordeste
-terra grande e disputada,
que José Borges Montenegro
conhecia na palma da mão.
No Rio Grande do Norte,
nasceu em Assu, criou-se em
Ipanguaçu, fez o ginásio em
Natal e muita bola jogou pelo
Potiguar de Mossoró. Até
que foi estudar direito em
Alagoas -diz a mulher que o
patrono da turma foi Juscelino Kubitschek.
Canudo na mão, foi para
Pernambuco ser promotor
em Floresta -e então Tabira,
e depois Recife. A família não
esquece os tempos de Tabira,
em que saia armado "nas terras dos coronéis" por causa
dos "tiroteios freqüentes"
-quando investigava "a rixa
entre os Ferraz e os Novaes".
Histórias de gente desiludida com sol ou sob chuva,
que ele ajudava -dando ovos
aos famintos quando a seca
matava as galinhas; ou nadando na correnteza, para
resgatar grávidas e crianças,
quando chovia um ano em
um dia. Porque na cidade
sem mar, não se sabia nadar.
Foi então para Recife ajudar a fundar o Tribunal de
Contas do Estado -sendo
três vezes presidente. Aposentado, levava vida mais
calma, na fazenda onde dava
festas com a mulher para os
dois filhos, quatro netos e
um bisneto. Lá também escrevia versos de amor e de
morte, nunca publicados.
Na lembrança da viúva, ele
canta as serenatas que a conquistaram ao pé da janela.
Porque as bodas de ouro foram passadas no hospital
-ele em coma, com broncopneumonia. Morreu domingo, aos 82 anos.
Texto Anterior: Mortes Índice
|