São Paulo, quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

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José Montenegro, a odisséia particular

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Da serenata na janela da amada ao sertão sob sol e sob chuva fez-se a história do promotor e juiz do Nordeste -terra grande e disputada, que José Borges Montenegro conhecia na palma da mão.
No Rio Grande do Norte, nasceu em Assu, criou-se em Ipanguaçu, fez o ginásio em Natal e muita bola jogou pelo Potiguar de Mossoró. Até que foi estudar direito em Alagoas -diz a mulher que o patrono da turma foi Juscelino Kubitschek.
Canudo na mão, foi para Pernambuco ser promotor em Floresta -e então Tabira, e depois Recife. A família não esquece os tempos de Tabira, em que saia armado "nas terras dos coronéis" por causa dos "tiroteios freqüentes" -quando investigava "a rixa entre os Ferraz e os Novaes".
Histórias de gente desiludida com sol ou sob chuva, que ele ajudava -dando ovos aos famintos quando a seca matava as galinhas; ou nadando na correnteza, para resgatar grávidas e crianças, quando chovia um ano em um dia. Porque na cidade sem mar, não se sabia nadar.
Foi então para Recife ajudar a fundar o Tribunal de Contas do Estado -sendo três vezes presidente. Aposentado, levava vida mais calma, na fazenda onde dava festas com a mulher para os dois filhos, quatro netos e um bisneto. Lá também escrevia versos de amor e de morte, nunca publicados.
Na lembrança da viúva, ele canta as serenatas que a conquistaram ao pé da janela. Porque as bodas de ouro foram passadas no hospital -ele em coma, com broncopneumonia. Morreu domingo, aos 82 anos.


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