São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2009

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Fotógrafa é primeira a fazer acusação pública a médico

Ex-paciente diz que foi agarrada por Abdelmassih; defesa de médico diz que é "fantasia'

35 mulheres denunciaram supostos crimes sexuais, mas Monika Bartkevitch é a única que não pediu sigilo de sua identidade

Danilo Verpa/Folha Imagem
A fotógrafa Monika Bartkevitch


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A fotógrafa Monika Bartkevitch, 43, afirmou ontem ter sido agarrada e beijada pelo médico Roger Abdelmassih, 65, quando estava em tratamento há nove anos. Ela é a primeira mulher a contar sua história sem exigir anonimato. Segundo Monika, o episódio contribuiu para o fim do seu casamento. "Estou falando não apenas por mim, mas por todas as mulheres que passaram por isso, para que se sintam encorajadas a denunciar", diz. Monika ainda não depôs na polícia -pretende fazê-lo na próxima semana. Até ontem, 35 mulheres procuraram o Ministério Público do Estado de São Paulo dizendo-se vítimas de abusos praticados por Abdelmassih, dono da maior clínica de fertilidade do país. O médico nega todas as acusações. Leia abaixo a entrevista:  

FOLHA - Por que você foi à clínica?
MONIKA BARTKEVITCH - Eu estava casada havia oito anos e o meu marido era vasectomizado. Ele tinha dois filhos de um outro casamento. Eu tinha um filho também de outra união. Queríamos uma filha e, na fertilização, poderíamos escolher o sexo. Fomos à clínica de Abdelmassih e fechamos um pacote de três inseminações. Já no primeiro dia, achei muito estranho o jeito do dr. Roger me abordar, de se despedir, e isso na frente do meu ex-marido.

FOLHA - O que aconteceu?
MONIKA - No segundo dia, fui sozinha fazer alguns exames. Na saída, o dr. Roger me deu um selinho na boca. Fiquei passada, não sabia o que fazer. Em casa, contei ao meu marido, que não acreditou. Ele disse: "A gente tem muito dinheiro lá [na clínica] e tem um objetivo, que é ter uma filha. Você é descolada, saberá se virar bem". Fui à clínica pela terceira vez. Quando o dr. Roger veio me cumprimentar, estiquei a mão. Disse que não tinha gostado da atitude dele, que estava na clínica para uma coisa sagrada, que é ter um filho. Ele me pediu desculpas, disse que eu era uma pessoa envolvente.

FOLHA - Não houve mais nada?
MONIKA - No dia em que eu fui retirar os óvulos, acordei com o dr. Roger ao meu lado, parado, com a cara em cima da minha, me olhando. Estava voltando da sedação, levei um susto e gritei. Ele se assustou, pediu calma e beijou a minha mão. Chamou um funcionário e me ofereceu um suco de maracujá. Depois, contei isso para o meu marido, que não viu nada de anormal. Três dias depois, voltei para a inseminação. Estava num quarto, de avental. O dr. Roger entrou, me pegou no colo na frente de uma enfermeira e me levou ao centro cirúrgico.

FOLHA - No colo?
MONIKA - Ele me carregou como se eu fosse um bebê. Uma funcionária ofereceu uma maca, mas ele recusou dizendo que eu era especial. Depois da inseminação, de novo, na frente das enfermeiras, ele me pegou no colo e me levou até o quarto. Pediu à enfermeira que saísse. Daí, ficou completamente alterado. Disse que era louco por mim, lambia a minha cara inteira. Eu gritava, mas ele tapava a minha boca. Ficou tentando me beijar, passava a mão por todo o meu corpo. Ele jogou o corpo para cima de mim. Eu dava socos, empurrões, gritava. Comecei a lutar, acho que isso durou uns 15 minutos, não sei, pareceu uma eternidade.

FOLHA - Como terminou?
MONIKA - Continuei gritando e ele se afastou. Briguei com a enfermeira que entrou no quarto, porque ela era mulher e sabia o que havia acontecido. Quando meu marido entrou no quarto, também não conseguia olhar para a cara dele. Porque já tinha contado o que havia acontecido, desde o começo dizia que o médico me tratava de forma estranha, que havia me beijado, e ele não acreditou. Quando saí de lá, o dr. Roger quis falar comigo, pediu que eu voltasse em três dias para saber se tinha dado certo a inseminação. Entrei em depressão, fiquei três dias fechada no meu quarto. Quando voltei à clínica, vi que não tinha engravidado. Eu estava no chão. Meu casamento acabou menos de dois meses depois.

FOLHA - Você tentou denunciar o médico à época?
MONIKA
- Procurei uma equipe de TV, queria usar um microfone escondido, queria denunciá-lo, mas não deu certo. Depois, essa história me machucou muito. Separei-me do meu marido e ainda tinha de enfrentar familiares e amigos que perguntavam se eu havia dado abertura. Isso quase me deixou louca. Eu me perguntava, será que fiz algo errado? Mas agora, com todas essas mulheres falando, vi que não estava só.

FOLHA - Por que seu marido não acreditou em você?
MONIKA - Ele é do meio médico, não quis denunciar, não quis acreditar, não quis se comprometer, me deixou completamente sozinha.


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