São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010 |
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Corredor da morte
Brasileiro diz que "besteira" o levou a entrar com droga na Indonésia; ele afirma se arrepender e tem esperança que Lula consiga reverter
sua condenação
DA REPORTAGEM LOCAL
O ânimo na voz de Marco Archer não sugere que ele esteja
no corredor da morte. "Não
perco a esportiva. Estou sempre de alto astral." Os dias, ele
diz passar à base de exercícios
na academia e conversa com os
outros detentos da prisão de
Pasir Putih, uma das quatro do
complexo de Nusakambangan. RAZÃO DO CRIME Eu tive um acidente com parapente em Bali em 1997. Fiquei em coma três meses. A conta do hospital ficou em US$ 250 mil (cerca de R$ 432 mil). Aí o seguro do Brasil só cobriu parte. Me deixaram ir embora, mas fiquei devendo US$ 55 mil (R$ 95 mil). Não tinha como pagar e fiz essa besteira. A dívida ficou em Cingapura e eu estou aqui, condenado à morte. OUSADIA E FUGA Lá em Bali eles têm vergonha de abrir a mala das pessoas. Em Jacarta também. Achei que ia ser tranquilo. Mas no dia em que cheguei tinha aviso de bomba. Aí revistaram e acharam a droga na asa delta. Consegui escapar, mas me pegaram após 18 dias. Estava numa praia em Sumbawa [leste do país] e iria pegar um barco para o Timor Leste. ARREPENDIMENTO Completamente, né? Agora a besteira já foi feita. Assumo totalmente que errei. Já errei e estou pagando. Estou sendo punido, ficando anos longe da minha família, dos meus amigos. A pena já está mais do que bem paga. No Brasil, pena por tráfico é de cinco anos [5 a 15 anos]. Aqui é pena de morte. ABANDONO Estou praticamente abandonado aqui. (...) Preciso voltar para a mídia de novo. Vou cair no esquecimento aqui. GOVERNO BRASILEIRO O governo do Brasil tem como reverter. Eu já falei. Sempre peço: "Mãe, o Lula tem como dar um jeito nessa história aí". O Lula é poderoso, né? E ele não é da alta sociedade. O Lula é da classe trabalhadora. Ele é do Partido dos Trabalhadores. O Lula é querido aqui. ESPERANÇA O governo está trabalhando... O embaixador do Brasil esteve aqui. Expliquei para ele: "Você tem que se reunir com as outras embaixadas aí". A única maneira de dar um basta [no problema da droga] é mandar todo mundo para casa [deportar] e não deixar mais entrar aqui. Na Tailândia fizeram isso. MEDO DA MORTE Ah, todo mundo tem medo de morrer. O que eu posso fazer? Estou condenado à morte... a pena não abaixou ainda. Vamos ver no que vai dar. ADVOGADO MENTIU Eu tinha um advogado que veio aqui outro dia e falou que a pena ia cair para 20 anos. Mas tem que ter uma carta do governo [oficializando a redução]. Aí a embaixada descobriu que era mentira e tirou ele do caso. SITUAÇÃO JURÍDICA Fui condenado em primeira, segunda, terceira instância. Estou na última. Já estou cansado de ser condenado à morte. Mas até agora não mataram, não. EXECUÇÕES RECENTES Eu estou aqui há sete anos e já executaram um indiano, um tailandês e dois nigerianos. ROTINA Eles abrem a porta às 6h. Aí tem academia lá, tem esteira lá, levanto uns pesinhos... Tem cantina, é bem legal. Essa é considerada a melhor prisão da Indonésia. Tem preso francês, holandês, australiano, paquistanês. Umas 260 pessoas. SAÚDE Estou aqui na prisão até hoje e nunca fiquei doente. Só tive um machucado nas costas porque cocei com uma faca e infeccionou. O peso está igualzinho a antes -1,80 m e 80 kg. SAUDADE Tenho saudade o dia inteiro. Não vejo a hora de voltar. Queria voltar a voar [de asa delta]. Texto Anterior: Brasileiro teme ser esquecido em corredor da morte na Ásia Próximo Texto: Condenado à morte: Surfista do Paraná também está preso Índice |
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