São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ALBINA DINIZ BERGAMIN (1910-2010)

Na prática, ela só atendia quando era chamada de Mercedes

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

A professora foi até o pai de Albina Diniz Bergamin e lhe disse: "Sua filha é surda". O pai, surpreso com a afirmação, garantiu que a audição da menina era perfeita. Aconteceu o seguinte: a mãe de Albina, quando ela estava para nascer, decidiu que seu nome seria Mercedes. Só que no cartório, na surdina, o pai homenageou a própria mãe e botou o Albina na criança. Ao chegar em casa, engavetou a certidão.
Albina sempre foi Mercedes em casa. Na escola, quando a professora fazia a chamada, e o nome de registro era anunciado, a garota nunca respondia. Por isso, pensou-se que fosse surda. Mercedes não só ouvia bem como tocava otimamente piano. Certa vez, um maestro a viu tocar e sugeriu a seu pai que ela saísse de Limeira (SP), onde morava, para estudar em outra cidade.
O pai, severo, respondeu que não: ela já sabia tocar, tinha de aprender a fazer feijão. Assim, ela se tornou dona de casa, e tinha talento para a cozinha, como diz a sobrinha Célia, lembrando do manjar branco que ela fazia. Casou-se com o médico e professor Francisco Bergamin e mudou-se para São Paulo, cidade que amava.
Em 1981, ficou viúva. Em 1985, perdeu neto e nora num acidente, e o único filho morreu em 2004. Ultimamente, vivia com a sobrinha. Baixinha, 38 kg, era ágil, ativa, e de boa memória. Em dezembro, quebrou o fêmur. Morreu quinta, aos 99, devido a uma infecção hospitalar.

coluna.obituario@uol.com.br


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Número de motos em SP cresce em ritmo menor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.