São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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Isoladas, sem comida e sem luz, famílias recebem ajuda após 6 dias

Folha acompanha resgate de um grupo nessas condições em Teresópolis, em área de acesso difícil

União limita tráfego aéreo para facilitar ação dos helicópteros, que já resgataram centenas na região serrana do Rio

Jorge Araujo/Folhapress
Militares levam, de helicóptero, alimentos a regiões ilhadas

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
JORGE ARAÚJO
ENVIADOS ESPECIAIS A TERESÓPOLIS

Um grupo de 40 pessoas isolado havia seis dias teve ontem seu primeiro contato com qualquer tipo de ajuda desde os deslizamentos de terra e enchentes que mataram ao menos 633 pessoas na região serrana do Rio.
A Folha acompanhou o voo de um helicóptero do Exército até o grupo, em Santa Rita, em Teresópolis.
Como muitos outros que estão sendo localizados, eles estavam sem comida e luz. E tiveram de permanecer lá, pois o local não é considerado de risco e os abrigos nas áreas urbanas estão lotados.
Só foram resgatados feridos e doentes. Mantimentos foram deixados.
O voo partiu da granja Comary, local de treino da seleção brasileira, mas atual quartel-general da operação na cidade. Os helicópteros são o único meio de resgate em alguns lugares.
A bairros como Santa Rita a única forma de chegar é por ar. Lá de cima, se vê que pontes caíram; estradas também. A região virou uma ilha, cercada de lama movediça.
Problema: os pilotos, acostumados a planos de voo e localizações por GPS, voam a esmo, conduzidos por moradores das regiões afetadas.
Do alto, as referências são outras. E os guias também se perdem. O maior inimigo, no entanto, é o mau tempo.
Desde terça, não para de chover. A falta de visibilidade dificulta as decolagens. "Temos de separar a emoção da razão para não correr risco", diz o capitão do Exército e piloto Leandro Assumpção.
Até ontem, o Exército havia resgatado com helicópteros 134 famílias. A PM contabilizava 600 pessoas resgatadas assim até sexta-feira.

TRÁFEGO RESTRITO
O tráfego é tão intenso que o voo de aeronaves que não sejam parte do resgate foi limitado pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general José Elito Siqueira, que está na região.
A missão que a Folha acompanhou era para resgatar um homem com o fêmur quebrado, outro com fratura no pé e um doente mental.
No meio do caminho, nove pessoas andam sem rumo, cada uma para um lado, com trouxas na cabeça.
Meia hora depois, acenos de socorro são o sinal. É a primeira vez que os 40 desamparados desde a noite de terça passada veem ajuda. Alguns imploram para serem retirados dali, outros pedem carona até o bairro onde moravam. Mas, como a casa em que estão não corre risco de desabar e os abrigos estão cheios, eles ficam por lá.

NO ESCURO
Sem água, telefone, gás para cozinhar e energia elétrica, os flagelados passam a noite no escuro. Uma mulher pede velas.
"Queremos ir embora. Não temos notícia, não sabemos se os parentes morreram", afirma o servente Pedro Paulo da Silva. "Conseguimos comida, mas não temos como cozinhar. Bebemos água da chuva", diz a doméstica Micelene Lima.
A situação do grupo de moradores de Santa Rita, agrupados por sobrevivência numa casa que eles nem sabem a quem pertence, é visto novamente pelas equipes de resgate todos os dias.
Isolada em Nova Friburgo com dois filhos e depois de avistar 50 vezes a passagem de helicópteros, a psicoterapeuta Elizabeth de Fátima Souza subiu ao topo de uma montanha e escreveu um SOS gigante com lençóis.
O timing em um resgate tem de ser perfeito.
Enquanto soldados entregam os mantimentos, um grupo de montanhistas voluntários que caminhava havia oito horas chega com abastecimento. E pega carona de volta no helicóptero.

Colaboraram DIANA BRITO e FELIPE CARUSO, enviados a Nova Friburgo


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