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ABASTECIMENTO
Para Instituto Socioambiental, nível do sistema Cantareira estaria em 34% se produção tivesse sido reduzida em 10%
Economia contínua desde 2001 teria evitado crise
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Se desde 2001, quando os reservatórios do Cantareira deram os
primeiros sinais de crise, o governo do Estado tivesse reduzido em
10% a produção de água no sistema, os cerca de 9 milhões de moradores da Grande São Paulo por
ele abastecidos não estariam agora sob ameaça de racionamento.
Isso porque, com a "economia"
contínua, o Cantareira estaria
funcionando hoje com cerca de
34% de sua capacidade operacional, e não 6,5% (índice de ontem).
Poderia também chegar com 50%
em abril e terminar o período seco
(agosto) com cerca de 40% -se
mantidos o consumo e o volume
de precipitações de 2003, que foram abaixo da média-, um índice bastante confortável.
A diminuição na produção não
precisaria ter sido feita por meio
de rodízio, ou seja, a população
atendida não teria sofrido falta de
água -o que agora deverá ser
inevitável, segundo especialistas e
o próprio governo. Ela teria sido
possível pela transferência de parte das regiões abastecidas pelo
Cantareira para os sistemas Alto
Tietê e Guarapiranga.
Isso foi progressivamente feito a
partir de agosto de 2003, quando a
Sabesp (empresa de saneamento
do Estado) percebeu que o maior
sistema da Grande SP tinha pouco mais de 21% da capacidade.
Até janeiro deste ano, a medida
conseguiu manter 4,2% de água a
mais no Cantareira, segundo
Amauri Pollachi, gerente de controle do abastecimento da Sabesp.
Mas foi adotada tarde demais,
avalia Marussia Whately, pesquisadora da área de recursos hídricos do Instituto Socioambiental
(ISA) e autora das projeções, que
têm base nas estatísticas da própria companhia de saneamento.
Agora, diz Whately, o sistema
não ficará numa situação tão boa
mesmo com o racionamento de
março a junho -como o previsto
pelo secretário de Estado de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento, Mauro Arce- atingindo
6,5 milhões de pessoas, a serem
divididas em três grupos, que ficariam sem água, um de cada vez,
por entre 24 e 36 horas.
"Considerando que a economia
causada pela redução da produção e as chuvas de fevereiro podem elevar o índice de armazenamento do Cantareira para 12%, e
que a quantidade economizada
de água com a adoção do racionamento seja de 11 mil litros por segundo [mais ou menos 1/3 da
produção], é possível que o nível
de 35% seja atingido em julho",
diz a pesquisadora. Isso seria menos do que o registrado em julho
de 2002 (49,6%) e só cerca de 1/4 a
mais do que a capacidade do sistema em julho passado (27,7%),
quando a crise já se avizinhava.
Proteção e fé
Para Whately, projeções mostram que "a melhor forma de proteger a população da falta de água
é proteger, ao máximo, os sistemas produtores de um colapso".
Para ela, o gerenciamento dos recursos hídricos virou uma "questão de fé" nas chuvas.
"O governo argumenta que a
decisão de não fazer ainda o racionamento é técnica, e não política, mas, há algum tempo, a única coisa que os técnicos fazem é
olhar para o céu em busca de chuva e contar os dias. E estamos
num ano eleitoral", afirma.
A previsão de um colapso do
sistema na estação seca também é
preocupação da Agência da Bacia
Hidrográfica do Alto Tietê, sobre
a qual está a Grande São Paulo. "O
racionamento é inevitável", afirma o presidente da entidade, Júlio
Cerqueira César Neto.
A agência divulgou, no fim de
janeiro, uma carta na qual afirma
ser "gravíssimo" o quadro do sistema Cantareira e diz que a população precisa saber disso para se
conscientizar, evitar desperdícios
e reduzir o consumo de água.
Para Whately, a única saída para o Cantareira seriam campanhas "mais radicais" de redução
do consumo. "Buscar novos mananciais não é a opção mais sustentável. Construir novas represas
não é um processo que dure menos de dois anos."
A Sabesp afirma que está praticamente descartado o racionamento neste mês.
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