São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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EDUCAÇÃO

Universidade estuda, já para o próximo vestibular, criar cursinho para ajudar os melhores estudantes a serem aprovados

USP quer treinar bom aluno da rede pública

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

A USP apresentará até maio um "pacote de inclusão social", afirmou ontem a reitora, Suely Vilela. A medida que está mais adiantada é a criação de um exame para alunos do ensino médio público, que visa selecionar os melhores da rede para um cursinho a ser desenvolvido e mantido pela instituição -e com isso aumentar as chances de aprovação no vestibular.
Além disso, o exame poderá ajudar esses estudantes na prova da Fuvest. A avaliação deverá representar entre 20% e 30% da nota final do processo seletivo. Vilela pretende implantar o mecanismo já no próximo vestibular.
A USP e outras universidades vêm sendo pressionadas por movimentos sociais a aumentar o número de estudantes da rede pública em suas cadeiras. Em São Paulo, 85% dos alunos do ensino médio estão nesse sistema, mas eles representam, em geral, 20% dos aprovados na Fuvest.
Esses movimentos exigem que haja cotas (reserva de vagas) para equilibrar essas proporções. A USP entende que, com esse sistema, estudantes despreparados entrarão em seus cursos.
A universidade, até agora, buscou fazer a inclusão por meio do aumento no número de isenções da taxa de inscrição no vestibular (que custou R$ 105 no último exame) e pela criação de um campus na zona leste da capital -o que aproxima a universidade de uma região de baixa renda.
Essas medidas tiveram pouco efeito até o momento: o número de aprovados da escola pública caiu, do vestibular 2005 para o 2006, de 20,1% para 18,5%.
A reitora da universidade quer medidas "mais impactantes". Desde que venceu a eleição para a reitoria, em novembro, ela afirma que a inclusão é sua prioridade.
Vilela está montando uma comissão específica para o tema. "Temos de entregar o projeto até maio para que a Fuvest tenha tempo de fazer as eventuais modificações para o próximo vestibular", disse a reitora à Folha.
A Fuvest também seria responsável pela execução do exame no ensino médio público. A intenção é aplicar as avaliações em cada um dos três anos do antigo colegial, para que os alunos selecionados tenham o cursinho durante todo esse período. "Um aluno avaliado por três anos, e com um curso de reforço, terá a formação adequada para ingressar na universidade", afirmou a reitora.
Em 2004, a USP e o governo Geraldo Alckmin (PSDB) criaram um cursinho experimental, de seis meses, para 5.000 alunos de escolas públicas na zona leste. Os resultados foram pouco significativos em termos de aprovação: cerca de 1% passou na Fuvest. O projeto durou só um ano.
O número de alunos atendidos pelo novo cursinho ainda não foi definido. Vilela negociará recursos com o governo estadual e com empresas para implementar a iniciativa. Outras mudanças deverão ser incorporadas ao "pacote de inclusão". Para isso, a comissão analisará as iniciativas feitas por outras universidades.
Para o coordenador da ONG Educafro, frei David Santos, a medida estudada pela USP apenas mascara o problema. Ele defende uma total reforma nos processos seletivos. "Hoje, o aluno da escola pública aprende somente 15% do que o vestibular cobra. Tudo beneficia os já privilegiados."
O presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), Thiago Franco, diz que a medida é positiva porque busca "valorizar o ensino público". Mas ele afirma que não há garantias de que funcione e, por isso, é necessário a implantação de cotas.


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