|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Golpe do seqüestro agora usa "dramatização"
Criminoso finge ser o parente da vítima da tentativa de extorsão e "chora" e grita para que exigências sejam atendidas
Segunda-feira, aposentada atendeu a uma ligação na qual acreditou ter ouvido a voz do filho pedindo socorro e morreu ao ter infarto
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O golpe do falso seqüestro,
aplicado normalmente por presidiários que portam telefones
celulares em suas celas, passa
atualmente por uma adaptação: os golpistas agora têm feito
uma "dramatização".
Para extorquir dinheiro ou
cartões com crédito para telefone celular, os criminosos passaram a ter a ajuda de outro criminoso, que finge ser o parente
seqüestrado da vítima que
atendeu a ligação e, aos gritos
de pavor, "implora" para que as
exigências do golpista que fez a
ligação sejam atendidas.
Foi exatamente a uma ligação com esse tipo de "dramatização" que, na noite da última
segunda-feira, a aposentada
Mércia Mendes de Barros, 67,
atendeu em sua casa, em São
Caetano do Sul (ABC).
Por volta das 19h, o telefone
da casa dela tocou e, na outra
ponta da linha, um golpista dizia estar com o filho da aposentada seqüestrado. Mércia era
mãe de três filhos e acreditou
que um deles, o gerente de posto de gasolina Luciano Mendes
de Barros, 31, estivesse nas
mãos de criminosos.
Logo depois das primeiras
palavras com o criminoso, uma
segunda pessoa foi colocada ao
telefone e, aos "prantos", pedia
para que aposentada seguisse
todas as exigências da pessoa
que havia ligado.
Desesperada, Mércia gritou
para o marido, José Pereira de
Barros, 65: "Eles pegaram o Luciano!" e começou a passar mal.
Ele sofria de problemas cardíacos havia quase dez anos.
Barros pegou o telefone e
ainda ouviu o que acreditou ser
a voz do filho pedindo ajuda.
Logo em seguida, uma outra
voz voltou tomou a ligação e
passou a exigir R$ 60 mil para
que o filho do casal não fosse
morto. Barros deixou uma vizinha cuidando da mulher e partiu para o banco, onde conseguir sacar apenas R$ 800.
Ao retornar para casa, ele ficou sabendo que Mércia havia
sido levada para o hospital justamente por Luciano, o filho
que o casal acreditava ter sido
seqüestrado. O golpe fora descoberto, mas foi fatal para Mércia, que sofreu um infarto.
Segundo o delegado Edison
Remigio Di Santi, do Deic (Departamento de Investigações
sobre o Crime Organizado), a
adaptação do golpe do falso seqüestro, aplicado pelo menos
desde 2003, se deve ao fato que
de os criminosos perceberam
que, com a "dramatização", as
vítimas da tentativa de extorsão ficam mais nervosas e tendem a aceitar as exigências.
"Eu já recebi essas ligações
algumas vezes. Numa, o golpista disse estar com a minha mãe
no porta-malas do carro dele.
Dei risada e falei para ele tomar
cuidado, pois ele carregava um
fantasma. Em outra, tirei sarro
do golpista", disse o delegado.
"Importante mesmo é a pessoa que atende a esse tipo de ligação nunca entrar em desespero e não acreditar no que está
sendo dito e, sempre que possível, contar com a ajuda de mais
alguém para localizar imediatamente aquele parente que o
golpista diz estar sendo seqüestrado. Essa tentativa de golpe é
muito comum", continua o delegado Santi.
Texto Anterior: Segurança: Tarso pede racionalidade em mudanças na legislação penal Próximo Texto: Frase Índice
|