São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 2007

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Golpe do seqüestro agora usa "dramatização"

Criminoso finge ser o parente da vítima da tentativa de extorsão e "chora" e grita para que exigências sejam atendidas

Segunda-feira, aposentada atendeu a uma ligação na qual acreditou ter ouvido a voz do filho pedindo socorro e morreu ao ter infarto

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O golpe do falso seqüestro, aplicado normalmente por presidiários que portam telefones celulares em suas celas, passa atualmente por uma adaptação: os golpistas agora têm feito uma "dramatização".
Para extorquir dinheiro ou cartões com crédito para telefone celular, os criminosos passaram a ter a ajuda de outro criminoso, que finge ser o parente seqüestrado da vítima que atendeu a ligação e, aos gritos de pavor, "implora" para que as exigências do golpista que fez a ligação sejam atendidas.
Foi exatamente a uma ligação com esse tipo de "dramatização" que, na noite da última segunda-feira, a aposentada Mércia Mendes de Barros, 67, atendeu em sua casa, em São Caetano do Sul (ABC).
Por volta das 19h, o telefone da casa dela tocou e, na outra ponta da linha, um golpista dizia estar com o filho da aposentada seqüestrado. Mércia era mãe de três filhos e acreditou que um deles, o gerente de posto de gasolina Luciano Mendes de Barros, 31, estivesse nas mãos de criminosos.
Logo depois das primeiras palavras com o criminoso, uma segunda pessoa foi colocada ao telefone e, aos "prantos", pedia para que aposentada seguisse todas as exigências da pessoa que havia ligado.
Desesperada, Mércia gritou para o marido, José Pereira de Barros, 65: "Eles pegaram o Luciano!" e começou a passar mal. Ele sofria de problemas cardíacos havia quase dez anos.
Barros pegou o telefone e ainda ouviu o que acreditou ser a voz do filho pedindo ajuda. Logo em seguida, uma outra voz voltou tomou a ligação e passou a exigir R$ 60 mil para que o filho do casal não fosse morto. Barros deixou uma vizinha cuidando da mulher e partiu para o banco, onde conseguir sacar apenas R$ 800.
Ao retornar para casa, ele ficou sabendo que Mércia havia sido levada para o hospital justamente por Luciano, o filho que o casal acreditava ter sido seqüestrado. O golpe fora descoberto, mas foi fatal para Mércia, que sofreu um infarto.
Segundo o delegado Edison Remigio Di Santi, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), a adaptação do golpe do falso seqüestro, aplicado pelo menos desde 2003, se deve ao fato que de os criminosos perceberam que, com a "dramatização", as vítimas da tentativa de extorsão ficam mais nervosas e tendem a aceitar as exigências.
"Eu já recebi essas ligações algumas vezes. Numa, o golpista disse estar com a minha mãe no porta-malas do carro dele. Dei risada e falei para ele tomar cuidado, pois ele carregava um fantasma. Em outra, tirei sarro do golpista", disse o delegado.
"Importante mesmo é a pessoa que atende a esse tipo de ligação nunca entrar em desespero e não acreditar no que está sendo dito e, sempre que possível, contar com a ajuda de mais alguém para localizar imediatamente aquele parente que o golpista diz estar sendo seqüestrado. Essa tentativa de golpe é muito comum", continua o delegado Santi.


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