São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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Destaques de escolas de samba gastam fortunas com desfile

Com penas de faisão e de pavão, diferentes tipos de strass e muito peso, fantasias chegam a custar mais de R$ 20 mil

Com anos de desfile no currículo, foliões se dizem movidos por vaidade e vício e garantem que não medem esforços para brilhar

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Há dez anos, quando recebeu um convite para ser destaque numa alegoria da Caprichosos de Pilares, o engenheiro civil Marcos Alves também recebeu um aviso: "Cuidado que vai virar um vício". Hoje na Beija-Flor, ele nem cogita largar o hobby de confeccionar sua própria fantasia, mesmo arcando com os altos custos.
"É uma vaidade, sim. Ao mesmo tempo em que você é parte de um conjunto de 4.000 pessoas, tem a impressão de que é o único, de que todos estão te olhando. Recarrego minhas baterias", diz Alves, 48.
Muita gente pode não entender por que uma pessoa chega a gastar mais de R$ 20 mil, suportar até 50 kg e se arriscar a uma queda para mostrar, no máximo, o rosto envolto em cascatas de plumas e paetês, atraindo muito menos interesse do que mulheres seminuas.
"Sei lá, é porque eu sou maluco", brinca José Nogueira, ou melhor, Zezitto Ávvila, 48, há 15 anos destaque da Beija-Flor.
No ano passado, segundo ele, só a roupa pesava 40 quilos, "fora os arranjos de cabeça e as ferragens". Parte dos custos ele cobre fazendo fantasias para a própria escola, mas não tudo.
"Se calcular, desisto. Agora eu estava esperando uma pena de pavão branco de R$ 6.000. Não veio e achei ótimo. Vou dar meu jeito", conta ele, que representará Eros, o deus do amor, numa indumentária dourada e branca.
Ricardo de la rosa ("tudo minúsculo, é nome nobre, da Espanha, mas não sei que nobreza é essa, porque nasci duro"), 65, gasta o que for preciso para brilhar ("Carnaval é brilho") como destaque do abre-alas da Unidos da Tijuca.
"Tem gente que fuma maconha, que cheira cocaína, que bebe. Eu não tenho nenhum desses vícios. Minha droga é o Carnaval", justifica ele, panamenho naturalizado brasileiro, economista formado pela USP, que há três décadas largou o emprego em uma cadeia de hotéis para ser cabeleireiro.
O pavão que vestiu no ano passado tinha 8.500 penas do animal. Custou R$ 18 mil, fora a mão-de-obra do costureiro, em torno de R$ 10 mil. Neste ano, ele será um viajante sideral ("uma coisa fantasmagórica"), cuja "roupa cinza-chumbo com paetês holográficos" descreve em detalhes. O valor final é que ainda não tem.
"Perdi a conta. Cada caixa de strass Rívoli custa R$ 540. Comprei oito. Foram mais seis rolos de strass Boreal, a R$ 350 cada...", tenta lembrar. Ele já desfilou com máscaras de macaco, Chacrinha e Da Vinci. "Não faço por vaidade. Já apareci o que tinha que aparecer."

Faisão reciclado
Marcos Alves diz também não se importar de, neste ano, sair com metade do rosto coberto para compor um bruxo medieval. "As pessoas da escola e os amigos que estão assistindo sabem que sou eu."
Mas, para fazer por R$ 3.000 uma roupa que sairia por R$ 10 mil se fosse só com materiais novos, ele está reaproveitando penas de faisão de outros Carnavais, prática que irrita de la rosa, contrário a desmembrar fantasias, que diz sempre doar.
Ronaldo Barros, 43, destaque há 20 anos, é outro que, se não estivesse reaproveitando mil das 1.500 penas de faisão da fantasia de gato que usará no último carro do Salgueiro, não conseguiria arcar com os custos, estimados entre R$ 10 mil e R$ 12 mil. Químico de uma multinacional, passa madrugadas e fins de semana trabalhando num ateliê próprio. "Ninguém me obriga a nada. Faço porque gosto de Carnaval."


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