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Destaques de escolas de samba gastam fortunas com desfile
Com penas de faisão e de pavão, diferentes tipos de strass e muito peso, fantasias chegam a custar mais de R$ 20 mil
Com anos de desfile no currículo, foliões se dizem movidos por vaidade e vício e garantem que não medem esforços para brilhar
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Há dez anos, quando recebeu
um convite para ser destaque
numa alegoria da Caprichosos
de Pilares, o engenheiro civil
Marcos Alves também recebeu
um aviso: "Cuidado que vai virar um vício". Hoje na Beija-Flor, ele nem cogita largar o
hobby de confeccionar sua própria fantasia, mesmo arcando
com os altos custos.
"É uma vaidade, sim. Ao mesmo tempo em que você é parte
de um conjunto de 4.000 pessoas, tem a impressão de que é
o único, de que todos estão te
olhando. Recarrego minhas baterias", diz Alves, 48.
Muita gente pode não entender por que uma pessoa chega a
gastar mais de R$ 20 mil, suportar até 50 kg e se arriscar a
uma queda para mostrar, no
máximo, o rosto envolto em
cascatas de plumas e paetês,
atraindo muito menos interesse do que mulheres seminuas.
"Sei lá, é porque eu sou maluco", brinca José Nogueira, ou
melhor, Zezitto Ávvila, 48, há
15 anos destaque da Beija-Flor.
No ano passado, segundo ele,
só a roupa pesava 40 quilos,
"fora os arranjos de cabeça e as
ferragens". Parte dos custos ele
cobre fazendo fantasias para a
própria escola, mas não tudo.
"Se calcular, desisto. Agora
eu estava esperando uma pena
de pavão branco de R$ 6.000.
Não veio e achei ótimo. Vou dar
meu jeito", conta ele, que representará Eros, o deus do
amor, numa indumentária
dourada e branca.
Ricardo de la rosa ("tudo minúsculo, é nome nobre, da Espanha, mas não sei que nobreza
é essa, porque nasci duro"), 65,
gasta o que for preciso para brilhar ("Carnaval é brilho") como
destaque do abre-alas da Unidos da Tijuca.
"Tem gente que fuma maconha, que cheira cocaína, que
bebe. Eu não tenho nenhum
desses vícios. Minha droga é o
Carnaval", justifica ele, panamenho naturalizado brasileiro,
economista formado pela USP,
que há três décadas largou o
emprego em uma cadeia de hotéis para ser cabeleireiro.
O pavão que vestiu no ano
passado tinha 8.500 penas do
animal. Custou R$ 18 mil, fora a
mão-de-obra do costureiro, em
torno de R$ 10 mil. Neste ano,
ele será um viajante sideral
("uma coisa fantasmagórica"),
cuja "roupa cinza-chumbo com
paetês holográficos" descreve
em detalhes. O valor final é que
ainda não tem.
"Perdi a conta. Cada caixa de
strass Rívoli custa R$ 540.
Comprei oito. Foram mais seis
rolos de strass Boreal, a R$ 350
cada...", tenta lembrar. Ele já
desfilou com máscaras de macaco, Chacrinha e Da Vinci.
"Não faço por vaidade. Já apareci o que tinha que aparecer."
Faisão reciclado
Marcos Alves diz também
não se importar de, neste ano,
sair com metade do rosto coberto para compor um bruxo
medieval. "As pessoas da escola
e os amigos que estão assistindo sabem que sou eu."
Mas, para fazer por R$ 3.000
uma roupa que sairia por R$ 10
mil se fosse só com materiais
novos, ele está reaproveitando
penas de faisão de outros Carnavais, prática que irrita de la
rosa, contrário a desmembrar
fantasias, que diz sempre doar.
Ronaldo Barros, 43, destaque
há 20 anos, é outro que, se não
estivesse reaproveitando mil
das 1.500 penas de faisão da
fantasia de gato que usará no
último carro do Salgueiro, não
conseguiria arcar com os custos, estimados entre R$ 10 mil e
R$ 12 mil. Químico de uma
multinacional, passa madrugadas e fins de semana trabalhando num ateliê próprio. "Ninguém me obriga a nada. Faço
porque gosto de Carnaval."
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