São Paulo, terça, 17 de fevereiro de 1998

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Ordem de secretário irrita comando dos bombeiros

SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

O comando do Corpo de Bombeiros do Rio reagiu com irritação à ordem do secretário de Segurança, general Nilton Cerqueira, para que os equipamentos antifogo sejam vistoriados diariamente.
Designado pelo comandante dos bombeiros, coronel Rubem Jorge Cardoso, para falar à Folha sobre o incêndio no Santos Dumont, o tenente-coronel Jorge Lopes considerou "totalmente desnecessária" a ordem de Cerqueira.
"A inspeção diária já é feita. Faz parte da nossa rotina. Ele (Cerqueira), certamente, não sabe disso. A determinação do general é totalmente desnecessária. Vamos informar a ele que a inspeção nos equipamentos é permanente", afirmou Lopes, 50.
Ontem de manhã, umas das primeiras providências do secretário foi preparar um ofício determinando ao comandante-geral dos bombeiros a inspeção diária dos equipamentos.
As cenas mostradas pela televisão, com bombeiros tentando combater o fogo com mangueiras furadas, irritaram Cerqueira. O secretário terá, hoje de manhã, reunião com o coronel Cardoso e com outros dirigentes da Secretaria de Segurança.
A ordem escrita de Cerqueira revoltou os oficiais que comandam o Corpo de Bombeiros, conforme a Folha apurou. Eles avaliam que a corporação está sendo apontada, injustamente, como responsável pela destruição do aeroporto.
O tenente-coronel Jorge Lopes defendeu de forma veemente a atuação dos bombeiros.
"O incêndio chegou àquelas proporções porque não nos chamaram em tempo hábil", disse.
Segundo Lopes, a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) não alertou o Corpo de Bombeiros sobre o incêndio.
"O relógio eletrônico do aeroporto parou à 1h05. Fomos chamados às 2h10, por rádio, por uma patrulha da PM que passava lá."
O oficial afirmou que as mangueiras -feitas de cânhamo, com revestimento interno de borracha- não estão em mau estado.
Segundo ele, o número de mangueiras furadas foi pequeno.
"Usamos mais de 300 mangueiras no incêndio. Não furaram mais de três. A televisão só mostra a mangueira furada, não a que funciona. Temos, em quantidade e qualidade, material de bombeiros de Primeiro Mundo", afirmou.
O Corpo de Bombeiros também nega que tenha havido falta de água. Lopes disse que os bombeiros chegaram ao aeroporto com 12 mil litros. "Quando chegamos lá, já era um grande incêndio. Não há Corpo de Bombeiros no mundo capaz de apagar aquele fogo."



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