São Paulo, terça, 17 de fevereiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Documento perdido condena rapaz

da Agência Folha

O auxiliar de escritório Wilson Pereira dos Santos, 27, de Itapeva (SP), que perdeu a carteira de identidade em 1994 e foi preso na semana passada, terá de passar os próximos seis meses reunindo evidências para provar que não participou de um assalto com tentativa de assassinato em Sorocaba (SP).
Santos ficou preso na quarta e quinta-feira da semana passada na Delegacia Seccional de Itapeva (270 km a oeste de São Paulo).
Um assaltante, de identidade desconhecida, deixou seus documentos na cena do crime, ocorrido em 94. O crime aconteceu um mês após ele ter perdido os documentos.
Santos só descobriu que a Justiça havia expedido mandado de prisão contra ele na última terça-feira, quando foi retirar um atestado de antecedentes criminais da delegacia seccional para ser usado em um concurso na própria Prefeitura de Itapeva, onde trabalha. No dia seguinte, foi preso.
Parentes, funcionários da prefeitura, amigos e o delegado seccional de Itapeva reuniram-se na última sexta-feira com o juiz de Sorocaba Jayme Walmer de Freitas -que condenou Santos em 1994 à revelia-, que optou por acatar o pedido de suspensão da ordem de prisão por seis meses, até que Santos prove que é inocente.
Pelo processo, um taxista teria sido atacado por dois homens, que o roubaram e o mataram.
Eles fugiram, deixando no local uma bolsa com a carteira de identidade de Santos -única prova contra ele.
A sentença condenou um assaltante conhecido como "Gil" e Santos por crime de roubo qualificado e tentativa de assassinato. "Gil" foi preso ainda em 1994. Santos foi notificado pelo "Diário Oficial", e, não sabendo do fato, foi julgado à revelia.
O advogado de Santos, Nilton del Rio, afirmou que deve entrar amanhã com um pedido formal de habeas corpus e de liminar para suspensão provisória do cumprimento do mandado de prisão para, enquanto isso, juntar provas de que, no dia do assalto, Santos encontrava-se em uma festa de casamento e de que havia perdido os documentos cerca de um mês antes.
O advogado terá de solicitar também a liberação da carteira de identidade usada no crime pelo qual Santos foi condenado -o documento já foi arquivado pela Justiça de Sorocaba. Posteriormente, Del Rio deverá solicitar à Justiça uma ação de revisão criminal.
Santos encontrava-se ontem incomunicável no sítio de um parente. Sua irmã, Waldiméia Pereira dos Santos, afirmou ontem que a situação pela qual seu irmão passou foi "humilhante". "Psicologicamente, ele está arrasado. Não só ele, todos nós também", disse.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.