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ADMINISTRAÇÃO
Prefeitura descumpre lei que obriga aplicação de 95% das multas em ações para melhorar circulação de veículos
Gestão Marta tira R$ 207 mi do trânsito
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos seus primeiros três anos, a
administração da petista Marta
Suplicy deixou de investir R$
207,6 milhões em recursos de
multas que, por determinação do
Código de Trânsito Brasileiro, tinham de ser obrigatoriamente
gastos em operação de trânsito.
Com esse dinheiro, seria possível implantar semáforos inteligentes -apontados por especialistas como cruciais para a melhoria do tráfego- em cerca de 60%
dos cruzamentos da cidade.
O valor corresponde a quase todos os custos da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)
de São Paulo durante um ano.
Pelo artigo 320 do código, a prefeitura tem de gastar 95% da arrecadação com multas "exclusivamente" em "sinalização, engenharia de tráfego, de campo, policiamento, fiscalização e educação
de trânsito". Os demais 5% devem ser destinados ao Funset
(Fundo Nacional de Educação e
Segurança no Trânsito).
No entanto, a prefeitura não
gastou todo o dinheiro da arrecadação em nenhum dos anos desde 2001. Os repasses ao Funset
também ficaram abaixo do previsto por lei nos três anos.
O dinheiro das multas vai para
um caixa único da prefeitura e
acaba sendo destinado a outras finalidades. Não é possível descobrir onde foi gasto o dinheiro que
deveria ter ido para o trânsito.
No total, a prefeitura arrecadou
R$ 959,3 milhões em multas de
trânsito entre 2001 e 2003. Mas,
desse total, R$ 751,8 milhões
(78%) foram destinados ao trânsito ou ao Funset. A diferença nos
três anos atinge R$ 207,6 milhões.
Os dados de 2003 foram levantados pelo gabinete do vereador
Ricardo Montoro (PSDB), com
base na mesma metodologia utilizada pelo TCM (Tribunal de Contas do Município). Os dados de
2001 e de 2002 constam dos relatórios anuais do próprio tribunal,
que chegou a criticar o desvio.
A Folha procurou ouvir a posição da Secretaria Municipal dos
Transportes desde a sexta-feira da
semana passada, mas não conseguiu resposta.
Segundo uma investigação do
Ministério Público publicada pelo
jornal há três anos, a gestão Celso
Pitta (97-00) também não cumpriu a meta. De acordo com esses
dados, de 98 a 2000 também foram desviados para outras finalidades cerca de R$ 278 milhões.
Há uma polêmica sobre o que
pode ser incluído nesses gastos
determinados pelo código. Quando a Folha publicou, em 2001, que
a prefeitura não iria cumprir a lei
-o que de fato ocorreu-, o então secretário dos Transportes,
Carlos Zarattini, disse: "Para nós,
transporte e trânsito estão vinculados. Se a gente considerar assim,
acredito que pode até chegar a esse valor". Zarattini hoje é secretário municipal das Subprefeituras.
Para especialistas consultados
pela reportagem -como o ex-presidente da CET Roberto Scaringella e o professor da USP Jaime Waisman-, o que vale nesse
caso do artigo 320 era a intenção
dos legisladores, de destinar todo
o dinheiro arrecadado com as
multas de trânsito exclusivamente para a operação de trânsito.
Na opinião de Scaringella, com
os R$ 207 milhões seria possível
"desencalhar" vários projetos importantes para o trânsito.
Uma deliberação do Conselho
Nacional de Trânsito, de abril de
2002, especifica melhor o que podem ser considerados gastos com
operação. Nessa determinação
não estão incluídas, por exemplo,
despesas com obras ou buracos.
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