São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2006

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ÔNIBUS

Instituto presidido por mulher do secretário dos Transportes fez consultoria para empresa Sambaíba no ano passado

Mulher de secretário trabalhou para viação

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma empresa de ônibus concessionária da prefeitura contratou, no ano passado, o instituto presidido pela mulher do secretário municipal dos Transportes, Frederico Bussinger, para realizar um serviço de consultoria.
A viação Sambaíba firmou contrato com o Idelt (Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente), dirigido por Vera Bussinger, para estudar a viabilidade de um serviço de balsas pelo rio Tietê, entre a zona leste e a ponte das Bandeiras.
A informação sobre esse contrato surgiu um dia depois de o governo José Serra (PSDB) ter decidido cancelar a contratação do Idelt, feita sem licitação, por R$ 948.750. O contrato foi revelado pela Folha anteontem.
O empresário Carlos Alberto Fonseca, dono da Sambaíba, confirmou à assessoria da SP Urbanuss (sindicato das empresas de ônibus) que contratou o Idelt. O valor, porém, não foi divulgado.
De acordo com o sindicato, a contratação foi sugerida ao empresário por um consultor. Fonseca disse desconhecer se Bussinger sabia do negócio.
O Idelt teve Bussinger entre seus fundadores, em 1996. O secretário se desligou da entidade.
O contrato entre o Idelt e a Sambaíba foi revelado ontem pelo vereador Antonio Carlos Rodrigues (PL) durante a audiência na Câmara em que Bussinger falava sobre os impasses nos contratos da prefeitura com as viações.
Queixando-se dos valores recebidos, as concessionárias ameaçaram, na semana passada, romper os contratos de forma unilateral.
A Folha telefonou para Fonseca, mas ele não ligou de volta.
Após a audiência, que durou seis horas, Bussinger, durante entrevista, nem confirmou nem negou o eventual contrato -disse que iria verificar com sua mulher.
Questionado sobre o que faria se o contrato realmente existisse, ele não respondeu. ""Quando me casei, minha mulher já era uma profissional experiente, e separamos a questão profissional da pessoal. Não vamos tratar desses assuntos familiarmente."
Procurado ontem à tarde, o Idelt não respondeu aos pedidos de entrevista. O instituto, mesmo antes de Bussinger assumir a secretaria, já havia dado consultoria a empresas de ônibus.

Contrato rompido
A gestão Serra rompeu o contrato entre o Idelt e a Secretaria do Trabalho, que pagaria R$ 948.750 para que, durante nove meses, profissionais do instituto dessem cursos de capacitação para a construção de calçadas e para atividades como auxiliar de serviços gerais e de escritórios.
A contratação se baseou em um artigo da lei que permite a dispensa de licitação, em alguns casos, a instituições sem fins lucrativos.
O secretário do Trabalho, Gilmar Viana Conceição, informou ontem ter decidido pela rescisão "de modo a não alimentar dúvidas sobre qualquer hipótese de favorecimento", embora houvesse um "ato jurídico perfeito" e "extensa documentação comprobatória de qualificação técnica, habilitação e regularidade fiscal por parte da entidade selecionada".
Segundo a pasta, "os cursos de qualificação em andamento serão concluídos e os beneficiários receberão as bolsas na forma da lei".
A secretaria não informou ontem como será a continuidade das aulas e se haverá licitação para contratar uma outra instituição.
Na última terça-feira, a pasta defendia a regularidade do contrato e dizia não ver conflito ético no fato de a entidade escolhida sem concorrência pública ser ligada a um membro da gestão Serra.


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