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Aos 84 anos, princesinhas
do rádio vivem hoje de
dublagens e de palestras
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que subiram ao palco
de um programa de rádio pela
primeira vez, lá se vão mais de
60 anos de trabalho. E se as irmãs Gessy e Daisy Fonseca,
ambas famosas no auge do rádio, hoje não conseguem emprego nas rádios e televisões
do país, mesmo com currículos gordos que atualizam com
extrema dedicação, não é por
falta de tentativas.
"É preconceito de idade",
diz Gessy, 84. No sofá de estampas floridas do apartamento onde vive sozinha, em
São Paulo, segura um jornal de
1953 com o título "Quem não
conhece Gessy Fonseca?" Há
67 anos trabalhando com voz,
a "princesinha do rádio" é dubladora de filmes.
A placa com seu nome no
Theatro São Pedro (São Paulo), por 60 anos de carreira,
importa pouco para quem
guarda os prêmios em uma sacola sobre o guarda-roupa. Ela
não vive de memórias. Faz dublagens para televisão, ganha
cerca de R$ 70 a hora e ainda
distribuiu currículos. "Mas
queria é que o telefone tocasse, assim, "olha, tem um papel
para você". Eu faria."
A aposentadoria é pouca, o
resto vem da dublagem. "Só
não vou à televisão fazer choradeira, que ninguém lembra
de mim. Isso não faço." Enquanto não surge o convite, é
voluntária na gravação de livros para cegos, no Centro
Cultural São Paulo. Lá, toda
semana, sua voz grave ecoa no
estúdio. "Se Deus me deu a
alegria de ter uma voz boa, por
que não dar alegria a quem
quer ler e não pode?"
A quilômetros dali, sua irmã
Daisy segura a foto em que está sentada no sofá de Hebe Camargo, 79, ambas de penteados laqueados, trabalhando no
programa "Mulher 65".
Daisy já foi radioatriz, escreveu a coluna de jornal "De Mulher para Mulher", foi redatora de rádio. Aposentada, tem
dois filhos, 14 netos e "muitos
bisnetos"; não sabe quantos. E
publicou um livro de memórias, em 2003. Tem outro no
prelo. "Escrevi por não conseguir voltar para o rádio", diz.
Ela se irrita, mas releva. "É
que as idéias vêm às pencas na
minha cabeça." Tanto que ela
negocia agora a venda da última entrevista dada, a ela, por
Cacilda Becker, em 1969.
"Hebe e o passado"
"O programa começava assim: boa tarde mamãe, boa tarde vovó, boa tarde brotinho
(naquela época mocinha era
brotinho)", lê Daisy, em voz alta, o script amarelado do programa "Mulher 65", que redigia para Hebe Camargo. "Por
isso, quando você vê, no programa da Hebe, aquele público
de senhoras, pode crer, metade fui eu que cativei com minha máquina de escrever."
Antes, Daisy já havia trabalhado nos anos 1940 com a escritora Ivani Ribeiro, quando
ela ia, máquina de escrever na
mão, para dentro da sala de cinema, taquigrafar no escuro a
história dos filmes -que depois eram lidos no rádio. Só
anos depois, já casada com o
diretor da rádio Bandeirantes
Rebello Jr., que então se formava em direito, foi levar um
convite para Hebe. Afastada
do rádio pelo casamento, Hebe
quis gravar um programa de
casa e pediu idéias, diz Daisy.
Foram cinco anos de programa diário -três após o derrame do seu marido. "Escrevia 18
páginas por dia, na penteadeira. Mas valeu a pena."
"C'est Ma Vie" [é a minha vida] é o título do álbum de memória que Gessy abre com cuidado, mostrando a foto dela menina, quando o pai as levava
para as gravações. Era 1941,
quando foram assistir ao show
de Otávio Gabus Mendes. Ele
as chamou no palco, as ouviu,
fez um convite e elas começaram como atrizes. Gessy estudou para ser secretária, e
Daisy, para ser artista. Mas
quiseram o rádio.
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