São Paulo, quarta-feira, 17 de abril de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Vereadores criticam iniciativa para assegurar maioria na Câmara; prefeita nega loteamento das regionais

Marta barganha cargos e abre crise no PT

JOÃO CARLOS SILVA
MELISSA DINIZ

DA REPORTAGEM LOCAL

A prática da gestão Marta Suplicy de ceder cargos na administração a vereadores em troca de apoio provocou uma crise no PT: integrantes do partido agora se manifestam publicamente sobre a questão e, segundo a Folha apurou, três regionais já deixaram o governo por discordarem da "política de governabilidade" da administração Marta.
A crise deve aumentar com a decisão de expulsar o vereador Carlos Giannazi, ontem à noite.
A prefeita afastou, anteontem, o petista Mário Sérgio Bortoto da regional de Perus (zona norte), por ele se opor à nomeação de funcionário ligado ao PFL.
"Não é só nesta regional [a de Perus" que houve indicação [de vereadores"", disse o vereador Carlos Néder (PT).
"A indicação tem que ser feita pela competência. Tem de ser uma pessoa com compromissos com a ética e com capacidade para o cargo. A indicação deve ser da prefeita e não deve haver interferência do Legislativo", defendeu o vereador Nabil Bonduki (PT).
O desentendimento entre grupos petistas envolve a posição histórica do partido, que sempre se opôs ao uso das administrações regionais como moeda de troca, a exemplo do que ocorreu nas gestões Paulo Maluf e Celso Pitta.
Já o núcleo político da gestão alega que é preciso ter maioria na Câmara para haver governabilidade. Marta não possui o apoio de, no mínimo, 28 vereadores para votar projetos de seu interesse, como o das subprefeituras.
A aliança que a elegeu (PT, PC do B, PSB, PPS e PDT) soma hoje 25 votos. Por essa razão, a prefeita barganha com partidos, como o PMDB (5 votos), cargos em troca de votos no Legislativo. Essas negociações já envolveram também ofertas ao PL (4) e ao PFL (2), segundo a Folha apurou.
A discussão sobre o destino dos cargos se arrasta desde o final do ano passado, quando o assunto foi discutido em um encontro de seis regionais com a prefeita e o secretário Rui Falcão (Governo). Os seis foram se posicionar contra o loteamento dos órgãos.
Desse grupo de opositores ao pragmatismo petista, três já deixaram o governo ou foram exonerados: Leda Aschermann (Campo Limpo, contrária a beneficiar o PL), Eduardo José Siqueira Barbosa (Butantã) e Bortoto.
Na Câmara, avalia-se que os outros participantes do encontro -os petistas Odilon Guedes (Jabaquara), Neli Márcia Ferreira (Freguesia do Ó) e Givaldo de Souza Cunha (Pirituba)- podem ser as próximas vítimas da política do "é dando que se recebe".
Ontem, cerca de 80 manifestantes foram à Administração Regional de Perus com faixas contra Marta e o PT: "Dona Marta: Perus não aceita atos arbitrários" e "Onde está a democracia do PT?".
"Esse episódio é bastante elucidativo, porque ele [Bortoto" ficou em primeiro lugar na avaliação dos regionais [segundo pesquisa de 2001 feita pela administração". Então, qual é a lógica de tirá-lo de lá?", disse o vereador Néder.

A explicação de Marta
A prefeita negou ontem o loteamento de cargos. "Deus me livre, como inventam coisa. Não tem loteamento nenhum." Mas ela se negou a explicar a exoneração de Bortoto. "É uma mudança que foi necessária fazer, e eu não tenho que entrar em mais detalhes."
"Não existe indicação. Quem fala isso está completamente equivocado", disse José Mentor, líder do PT na Câmara.
Do grupo que deixou o governo, Leda e Bortoto afirmam que não receberam da administração uma explicação sobre o motivo de suas demissões. Cunha estava viajando ontem e não foi localizado.



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