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SAÚDE
Ministério protela, pela terceira vez, implantação de técnica que reduz risco de contrair o HIV e o vírus da hepatite C
Governo volta a adiar novo teste de sangue
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Passados dois anos, o Ministério
da Saúde não conseguiu cumprir
a própria meta de implantar teste
que diminui o risco de transmissão dos vírus da Aids e da hepatite
C em transfusões de sangue.
Começou em 2002, na gestão de
José Serra (PSDB), o imbróglio da
disponibilização da tecnologia de
alto custo que, no entanto, segundo estudo feito pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) em 2001, tem potencial
para evitar, por ano, um total de
355 casos de Aids e de hepatite C.
O último capítulo da novela
ocorreu em janeiro, quando, pela
terceira vez (a segunda no atual
governo), foi adiada sua implantação, sem fixar um novo prazo.
O NAT (em inglês, testes de amplificação e de detecção de ácidos
nucleicos) é uma técnica de biologia molecular que amplifica o material genético dos vírus. A idéia é
substituir os testes atuais usados
pelo SUS, mais demorados na detecção, pois rastreiam anticorpos
contra o vírus, que tardam a ser
produzidos pelo organismo.
A nova tecnologia detecta partes do próprio vírus, por isso é
mais rápida: reduz de 22 para 11
dias a janela imunológica do HIV
(período em que o vírus não é detectável). No caso do HCV (vírus
da hepatite C), a janela cai de 70
dias para em torno de 20 dias.
Um total de 3,3 milhões de bolsas são coletadas hoje para o SUS.
Estima-se que cada uma beneficie
ao menos três pessoas.
"A realização do NAT é algo que
a hemorede está perseguindo",
afirma Gerusa Figueiredo, coordenadora do Programa Nacional
de Hepatites Virais do ministério.
A hepatite C é considerada a
"Aids do século 21" -a Organização Mundial da Saúde estima que
existam 3 milhões de portadores
no país. As transfusões já foram a
principal forma de transmissão
no início da década de 90. Apesar
de hoje perderem para outras formas de contaminação, como alicates de unha, ainda preocupam.
A portaria expedida por Serra
em 5 de fevereiro de 2002 determinou o início dos testes em seis
meses, a partir da data da publicação, em 18 hemocentros coordenadores do SUS (Sistema Único
de Saúde), que centralizariam os
testes, e nos serviços privados.
A ordem do ex-ministro foi
atrelada à "Meta Mobilizadora
Nacional - Setor Saúde", um plano que elegeu áreas prioritárias
em diversos setores. Na saúde, a
escolhida foi "Sangue com Garantia de Qualidade em todo seu Processo até 2003". Sete meses depois
da primeira portaria, o prazo foi
estendido por mais seis meses.
"À medida que há novas tecnologias, somos obrigados a incorporá-las. Não podemos ficar vulneráveis se temos conhecimento
de algo que pode prevenir doenças fatais", diz Beatriz MacDowell
Soares, que respondeu pela área
de sangue na gestão Serra e hoje é
chefe-de-gabinete da Anvisa.
Calcula-se que a realização do
exame pelo SUS custará US$ 50
milhões por ano (em torno de R$
145 milhões), quase tudo que o
governo quer gastar por ano em
infra-estrutura, custeio e capacitação na área de sangue (R$ 190
milhões). Segundo a Roche, um
dos fabricantes de testes baseados
na tecnologia (só dois laboratórios, a Roche e a Chiron, fornecem
no país), o NAT gera um custo de
cerca de US$ 15 por bolsa.
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