São Paulo, sábado, 17 de abril de 2004

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SAÚDE

Ministério protela, pela terceira vez, implantação de técnica que reduz risco de contrair o HIV e o vírus da hepatite C

Governo volta a adiar novo teste de sangue

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Passados dois anos, o Ministério da Saúde não conseguiu cumprir a própria meta de implantar teste que diminui o risco de transmissão dos vírus da Aids e da hepatite C em transfusões de sangue.
Começou em 2002, na gestão de José Serra (PSDB), o imbróglio da disponibilização da tecnologia de alto custo que, no entanto, segundo estudo feito pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2001, tem potencial para evitar, por ano, um total de 355 casos de Aids e de hepatite C.
O último capítulo da novela ocorreu em janeiro, quando, pela terceira vez (a segunda no atual governo), foi adiada sua implantação, sem fixar um novo prazo.
O NAT (em inglês, testes de amplificação e de detecção de ácidos nucleicos) é uma técnica de biologia molecular que amplifica o material genético dos vírus. A idéia é substituir os testes atuais usados pelo SUS, mais demorados na detecção, pois rastreiam anticorpos contra o vírus, que tardam a ser produzidos pelo organismo.
A nova tecnologia detecta partes do próprio vírus, por isso é mais rápida: reduz de 22 para 11 dias a janela imunológica do HIV (período em que o vírus não é detectável). No caso do HCV (vírus da hepatite C), a janela cai de 70 dias para em torno de 20 dias.
Um total de 3,3 milhões de bolsas são coletadas hoje para o SUS. Estima-se que cada uma beneficie ao menos três pessoas.
"A realização do NAT é algo que a hemorede está perseguindo", afirma Gerusa Figueiredo, coordenadora do Programa Nacional de Hepatites Virais do ministério.
A hepatite C é considerada a "Aids do século 21" -a Organização Mundial da Saúde estima que existam 3 milhões de portadores no país. As transfusões já foram a principal forma de transmissão no início da década de 90. Apesar de hoje perderem para outras formas de contaminação, como alicates de unha, ainda preocupam.
A portaria expedida por Serra em 5 de fevereiro de 2002 determinou o início dos testes em seis meses, a partir da data da publicação, em 18 hemocentros coordenadores do SUS (Sistema Único de Saúde), que centralizariam os testes, e nos serviços privados.
A ordem do ex-ministro foi atrelada à "Meta Mobilizadora Nacional - Setor Saúde", um plano que elegeu áreas prioritárias em diversos setores. Na saúde, a escolhida foi "Sangue com Garantia de Qualidade em todo seu Processo até 2003". Sete meses depois da primeira portaria, o prazo foi estendido por mais seis meses.
"À medida que há novas tecnologias, somos obrigados a incorporá-las. Não podemos ficar vulneráveis se temos conhecimento de algo que pode prevenir doenças fatais", diz Beatriz MacDowell Soares, que respondeu pela área de sangue na gestão Serra e hoje é chefe-de-gabinete da Anvisa.
Calcula-se que a realização do exame pelo SUS custará US$ 50 milhões por ano (em torno de R$ 145 milhões), quase tudo que o governo quer gastar por ano em infra-estrutura, custeio e capacitação na área de sangue (R$ 190 milhões). Segundo a Roche, um dos fabricantes de testes baseados na tecnologia (só dois laboratórios, a Roche e a Chiron, fornecem no país), o NAT gera um custo de cerca de US$ 15 por bolsa.


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