EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO

A missa das 10h de ontem da igreja Nossa Senhora Achiropita uniu duas faces da história do Bexiga, no centro de São Paulo. No templo construído na tradição calabresa, celebrou-se uma missa afro, com elementos culturais dos negros que antecederam os italianos na região.
Ícone da presença italiana na capital paulista, o Bexiga havia abrigado o quilombo do Saracura antes da chegada dos imigrantes, no século 19. As duas culturas marcaram o bairro. A história dos negros, porém, é menos conhecida.
Hoje, a população do Bexiga nem é tão italiana nem tão negra. A área foi ocupada por migrantes de outras regiões do país na segunda metade do século 20. A missa afro, celebrada desde o final dos anos 80 no domingo mais próximo do 13 Maio (abolição da escravidão), evoca também a história de quem tem a vida ligada ao bairro.
É o caso do padre Renato Scano, 75, celebrante da missa de ontem. Filho de mãe negra e de pai italiano, foi coroinha na Achiropita em 1938. Em 1940, quando quis entrar para o seminário, disseram que não era coisa para negro -na época, não era mesmo comum haver religiosos negros.
O padre Toninho, 55, assessor da Pastoral Afro Arquidiocesana e historicamente ligado à celebração afro da Achiropita, explica que, nos anos 80, o ritual romano da Igreja Católica passou a incorporar aspectos da cultura dos fiéis. Surgem, entre outras, a missa afro e a missa indígena.
Na celebração de ontem, estavam presentes a indumentária, a música e -por que não?- a alegria africanas. Padre Toninho destaca que a meta é também a comunhão cultural. Em agosto, na festa mais conhecida da paróquia, a de Nossa Senhora Achiropita, há missa em italiano, e Tobias, puxador da escola de samba do bairro, a Vai-Vai, canta na procissão da santa.


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