São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Hospital Psiquiátrico do Juquery completa cem anos amanhã com pacientes com o mesmo perfil do século passado
100 anos de Juquery

Niels Andreas/Folha Imagem
Mulher fuma no pátio do Hospital Psiquiátrico do Juquery


CARLOS MAGNO DE NARDI
da Reportagem Local

Em 18 de maio de 1898, o Juquery abriu suas portas para receber doentes mentais, marginais, mendigos e negros, levados para confinamento na instituição idealizada pelo psiquiatra Franco da Rocha. Eram os alienados, palavra em moda na época.
Em cem anos, mudou o vocabulário, mas o perfil da "clientela" desse hospital psiquiátrico mantido pelo poder público é quase o mesmo. Hoje, são os excluídos.
Estudo da diretoria do hospital, subordinado à Secretaria de Estado da Saúde, mostra que a maioria dos seus 1.670 pacientes é atualmente formada por homens (relação de dois para cada mulher), sem fonte de renda específica, rejeitado por família e comunidade e com idade média de 57 anos.
"O perfil do paciente é praticamente o mesmo de cem anos atrás. O Juquery acabou se transformando num depósito de deficientes", diz Maria Tereza Gianerini Freire, diretora técnica do hospital.
O número de internos vem sendo reduzido numa tentativa de melhorar o serviço que, ainda hoje, é marcado pela má alimentação e falta de higiene.
A direção do hospital não descarta nem mesmo a ocorrência de maus-tratos dos pacientes, marca das denúncias contra a instituição na década de 70.
"Depois de três anos de atividade, podemos dizer que há um maior controle do hospital, mas não se pode descartar que ocorram maus-tratos", diz Maria Tereza Freire.
Do número total de pacientes registrado hoje, cerca de 400 têm problemas mentais. Os demais são deficientes físicos, idosos e pessoas que, mesmo com alta clínica, continuam no complexo.
O estudo realizado faz parte de um diagnóstico do Juquery que vai nortear uma série de programas voltados à reintegração social dos pacientes e melhoria da qualidade dos serviços, mais uma das tentativas governamentais testadas desde a década de 70.

Superlotação
Até a primeira metade do século, o hospital do Juquery era considerado modelo, como define Guido Arturo Palomba, médico que comandou o manicômio judiciário do complexo de 1975 a 1985 e foi pioneiro no tratamento de doentes mentais em colônias agrícolas.
A partir do final da década de 40 e, principalmente, nos anos 60 e 70, a superlotação crescente deu início à decadência do Juquery.
Em 65, por exemplo, o hospital chegou a ter 16 mil pacientes, quando a capacidade era para 10 mil. Além da superlotação, não havia separação dos internos -conviviam idosos, deficientes mentais e físicos.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.