São Paulo, sábado, 17 de junho de 2006

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Atingido por tiro, homem é salvo por celular no bolso

O aparelho protegeu o coração da vítima, baleada em uma festa junina no Rio

Funcionário público, que fraturou o braço esquerdo com outra bala disparada, afirma acreditar ter sido confundido por atirador


CRISTINA TARDÁGUILA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Quando o agente previdenciário carioca Paulo Sérgio Costa dos Santos, 45, repetiu anteontem a rotina diária de colocar no bolso da camisa seu velho celular, nem imaginava que o aparelho acabaria salvando sua vida. Naquela noite, o telefone impediu que um dos dois tiros que atingiram Santos durante a festa junina do Campo do Periquito, na zona norte do Rio, chegasse a seu coração.
Graças ao celular, um Motorola que ficou totalmente destruído, ele apenas fraturou o braço esquerdo com a outra bala e só tem hoje no peito um grande hematoma.
Na enfermaria do Hospital das Clínicas Bangu (HCB), onde está internado, o agente previdenciário recebeu a Folha e disse achar que foi confundido.
"Cheguei à festa junina por volta das 20h. Estava conversando com uns amigos e ainda não tinha bebido nada quando ouvi os tiros e senti que um deles tinha ido direto no meu braço. Segundos depois, senti o outro disparo e cai no chão. Meu instinto foi levantar e sair correndo até a casa da minha ex-mulher, que mora a 10 minutos de lá. Foi só então vi que meu braço esquerdo estava pendurado, minha camisa tinha um furo no peito e, no bolso dela, só estava metade da tampa da bateria do celular."
Santos, que afirma não ter nenhum inimigo e que cogita a possibilidade de ter sido confundido com alguém na multidão, conta que está com muito medo de voltar às ruas.
"Eu fui abençoado por Deus sim. Foi ele que fez com que eu passasse os últimos seis meses querendo trocar de celular, mas com uma preguiça danada de enfrentar a fila na loja. Mas, mesmo assim, me assusta muito a idéia de sair do hospital. Não sei se tem alguém me esperando la fora, né?"
Santos diz que apenas fora da clínica poderá saber se os tiros foram mesmo direcionados para ele ou se houve um grande engano.
"Essa história ainda não acabou, sabe? A primeira etapa dela foi ter sido baleado. A segunda, ter sobrevivido e estar me recuperando. A terceira começará ao sair daqui e descobrir a verdade", declarou ele, que afirmou também confiar na polícia para prender o homem que disparou e fugiu sem deixar rastro.
Do triste episódio, Santos pretende guardar duas lembranças: a toalha ensangüentada emprestada pela vizinha de sua ex-mulher e a camisa furada pelo tiro.
"O pessoal da emergência me ajudou a tirar a camisa quando cheguei e deve estar com ela. Vou ver se a recupero."
Santos terá que ficar no HCB por mais alguns dias para operar o braço, razão pela qual não poderá assistir à partida do Brasil contra a Austrália com os amigos. "Já estava tudo combinado para vermos o jogo na feira de forró de Caxias. Agora, com isso, vou ter que ficar aqui mesmo", lamenta o carioca. Ele divide o quarto e um televisor com outros quatro pacientes.


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