São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

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Novos prédios promovem limpeza urbana

Lançamentos imobiliários refazem calçadas, pintam fachadas vizinhas, revitalizam parques e buscam saída para favela

Urbanistas criticam expulsão dos moradores carentes; construtoras afirmam que fazem sua parte ao pagar pela reforma da vizinhança

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Novos empreendimentos residenciais têm promovido uma limpeza urbana (e, em alguns casos, "solução social", no dizer das imobiliárias) da vizinhança em que vão se instalar.
Dos Jardins (zona oeste) ao Campo Belo (zona sul), do parque Villa-Lobos (zona oeste) à Vila Maria (zona norte), construtoras investem na revitalização de prédios, praças e até bares vizinhos, seja por iniciativa própria, para valorizar o lançamento, seja por imposição da prefeitura na liberação da obra.
No Brooklin (zona sul), ao lançar o edifício Paulistânia (quatro suítes em 229 m2, três torres, 36 andares na rua Pensilvânia), a Cyrela revitalizou duas praças da região e cedeu um pequeno espaço do terreno para a construção de uma nova praça pública. Não tão longe dali, no Jardim Sul (zona oeste), a Camargo Corrêa diz já estar "reurbanizando o bairro".
"A recuperação paisagística começou com a implantação de três praças públicas, reformas de calçadas e aplicação de piso drenante. O bairro contará com viveiro de plantas", diz o anúncio da construtora.

Câmeras
Segundo a imobiliária Coelho da Fonseca, responsável pela venda do projeto, o objetivo é valorizar a região e, assim, os imóveis. "A estratégia é reurbanizar o bairro, que estava desativado nos equipamentos e formas", diz o proprietário Álvaro Coelho da Fonseca.
Os apartamentos custam entre R$ 255 mil (101 m2) e R$ 860 mil (260 m2). Segundo o empresário, há também a idéia de instalar uma rede de câmeras de segurança no bairro. "Se cada um fizer a sua parte, a cidade ficará melhor", diz ele.
E quem fará pela periferia? "Se eu pago bem minha empregada, não coloco cadeado na geladeira. Já estou fazendo minha parte."
Em outro lançamento, o Villa Lobos Office Park, próximo ao parque Villa-Lobos, a Cyrela diz estudar com a prefeitura a melhor "solução social" para a Favela do 9, vizinha à obra.
"A expulsão da população mais carente das áreas centrais deve ser combatida. Tais fatos revelam o descaso do poder público na questão urbana no direito à cidade, e a carência habitacional é a grande questão a ser enfrentada", avalia o arquiteto Fernando Viégas.

Semáforos
Para atender a exigências da prefeitura para liberação da obra, o edifício Çiragan, na rua Ministro Rocha Azevedo, região da Paulista, teve de trocar 123 semáforos no cruzamento de sete ruas próximas ao empreendimento. O Villa Lobos Office Park também foi obrigado a trocar sinais e placas de trânsito. A medida, justifica a coordenadoria das subprefeituras, é para compensar a geração de tráfego com mais carros e moradores.
Em outro exemplo, na rua Matias Aires, nos Jardins (zona oeste), entre Haddock Lobo e Bela Cintra, um prédio novo patrocinou a revitalização das fachadas do edifício vizinho e da pizzaria em frente. "Pode se tratar de um embelezamento superficial que pode insinuar certa frivolidade mas também pode ser entendido como um melhoramento comum, que serve a cidade como um todo e, portanto, interessante do ponto de vista urbano", afirma Álvaro Puntoni, professor da FAU, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, e da Escola da Cidade.
Na zona norte, a construtora Vivenda Nobre, em parceria com concorrentes, investiu cerca de R$ 3 milhões na reforma do parque do Trote.


Colaborou DANIEL BERGAMASCO


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