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Novos prédios promovem limpeza urbana
Lançamentos imobiliários refazem calçadas, pintam fachadas vizinhas, revitalizam parques e buscam saída para favela
Urbanistas criticam expulsão
dos moradores carentes;
construtoras afirmam que
fazem sua parte ao pagar
pela reforma da vizinhança
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Novos empreendimentos residenciais têm promovido uma
limpeza urbana (e, em alguns
casos, "solução social", no dizer
das imobiliárias) da vizinhança
em que vão se instalar.
Dos Jardins (zona oeste) ao
Campo Belo (zona sul), do parque Villa-Lobos (zona oeste) à
Vila Maria (zona norte), construtoras investem na revitalização de prédios, praças e até
bares vizinhos, seja por iniciativa própria, para valorizar o lançamento, seja por imposição da
prefeitura na liberação da obra.
No Brooklin (zona sul), ao
lançar o edifício Paulistânia
(quatro suítes em 229 m2, três
torres, 36 andares na rua Pensilvânia), a Cyrela revitalizou
duas praças da região e cedeu
um pequeno espaço do terreno
para a construção de uma nova
praça pública. Não tão longe
dali, no Jardim Sul (zona oeste), a Camargo Corrêa diz já estar "reurbanizando o bairro".
"A recuperação paisagística
começou com a implantação de
três praças públicas, reformas
de calçadas e aplicação de piso
drenante. O bairro contará
com viveiro de plantas", diz o
anúncio da construtora.
Câmeras
Segundo a imobiliária Coelho da Fonseca, responsável pela venda do projeto, o objetivo é
valorizar a região e, assim, os
imóveis. "A estratégia é reurbanizar o bairro, que estava desativado nos equipamentos e formas", diz o proprietário Álvaro
Coelho da Fonseca.
Os apartamentos custam entre R$ 255 mil (101 m2) e
R$ 860 mil (260 m2). Segundo o
empresário, há também a idéia
de instalar uma rede de câmeras de segurança no bairro.
"Se cada um fizer a sua parte,
a cidade ficará melhor", diz ele.
E quem fará pela periferia?
"Se eu pago bem minha empregada, não coloco cadeado na
geladeira. Já estou fazendo minha parte."
Em outro lançamento, o Villa Lobos Office Park, próximo
ao parque Villa-Lobos, a Cyrela
diz estudar com a prefeitura a
melhor "solução social" para a
Favela do 9, vizinha à obra.
"A expulsão da população
mais carente das áreas centrais
deve ser combatida. Tais fatos
revelam o descaso do poder público na questão urbana no direito à cidade, e a carência habitacional é a grande questão a
ser enfrentada", avalia o arquiteto Fernando Viégas.
Semáforos
Para atender a exigências da
prefeitura para liberação da
obra, o edifício Çiragan, na rua
Ministro Rocha Azevedo, região da Paulista, teve de trocar
123 semáforos no cruzamento
de sete ruas próximas ao empreendimento. O Villa Lobos
Office Park também foi obrigado a trocar sinais e placas de
trânsito. A medida, justifica a
coordenadoria das subprefeituras, é para compensar a geração de tráfego com mais carros
e moradores.
Em outro exemplo, na rua
Matias Aires, nos Jardins (zona
oeste), entre Haddock Lobo e
Bela Cintra, um prédio novo
patrocinou a revitalização das
fachadas do edifício vizinho e
da pizzaria em frente. "Pode se
tratar de um embelezamento
superficial que pode insinuar
certa frivolidade mas também
pode ser entendido como um
melhoramento comum, que
serve a cidade como um todo e,
portanto, interessante do ponto de vista urbano", afirma Álvaro Puntoni, professor da
FAU, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, e da
Escola da Cidade.
Na zona norte, a construtora
Vivenda Nobre, em parceria
com concorrentes, investiu
cerca de R$ 3 milhões na reforma do parque do Trote.
Colaborou DANIEL BERGAMASCO
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