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Bando é acusado de fraudar concursos públicos por 16 anos
Polícia Federal prendeu 12 acusados e identificou fraudes em seu próprio concurso e nos da OAB e da Receita Federal
Ao menos 120 pessoas pagaram até R$ 270 mil para ter acesso aos exames; grupo atuava em todo o país
LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA
A Polícia Federal prendeu
ontem uma quadrilha especializada em fraudar concursos públicos em todo o país.
Gabaritos e respostas eram
vendidos por até R$ 270 mil.
Ao menos 120 pessoas pagaram para ter acesso aos
exames. A Operação Tormenta identificou fraude em
concursos da própria Polícia
Federal, do exame da OAB
(Ordem dos Advogados do
Brasil) e da Receita Federal.
Concursos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
e da Anac (Agência Brasileira
de Aviação Civil) também estão sob suspeição.
Doze integrantes do grupo
foram presos, entre eles um
policial rodoviário federal
acusado de receber propina
para desviar o material quando era transportado.
O chefe da quadrilha, dono de um cursinho preparatório em SP, vendia provas a
interessados e a distribuidores e aliciadores, diz a PF. Em
alguns casos, as respostas
eram repassadas aos candidatos por pontos eletrônicos.
A PF identificou a fraude
em fevereiro ao analisar o
histórico dos mais de 200
candidatos do curso para
agentes federais, prática rotineira a aspirantes -segundo
o delegado Victor Hugo Alves, pensou-se que alguns
poderiam ter sido infiltrados
por organizações criminosas.
"Candidatos que entram
em cargos públicos por fraudes ficam vulneráveis, podem ser assediados por organizações criminosas", afirmou David Salen, chefe de
inteligência da PF.
16 ANOS
Dos alunos que pleiteavam vaga de agente da PF, 53
tiveram acesso a testes comprados, mas só 6 chegaram à
fase final do curso, que acaba
amanhã. Serão expulsos.
No concurso de auditor fiscal da Receita, as suspeitas
de fraudes se estendem há 16
anos, desde que foi realizado. Quarenta e um alunos
brigavam na Justiça para fazer o curso da Esaf (Escola de
Administração Fazendária),
passo anterior à diplomação.
No ano passado, conseguiram esse direito, já que não
se comprovou a fraude.
Durante o curso, que acabou no dia 4, um aluno procurou a quadrilha para comprar nova prova. Foi quando
a PF comprovou o crime.
Cada um dos 41 novos auditores, se efetivados, teria
direito a R$ 3 milhões, referentes a salários desde 1994.
No exame da OAB, ao menos 26 pessoas tiveram acesso às respostas. Mas a prova
já tinha sido cancelada por
suspeita de fraude. Um fiscal
flagrou um aluno colando.
Quem comprou provas e
não foi preso será indiciado
por interceptação e estelionato. Integrantes do grupo
presos responderão por falsificação de documentos públicos, quebra de sigilo funcional, formação de quadrilha, entre outros.
A mesma quadrilha já havia tentado, sem sucesso,
fraudar outros concursos:
Caixa, Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Faculdade de Medicina de Ouro
Preto e Santa Casa de Santos.
"DESANIMADOR"
Saber de fraudes no exame
da OAB é "desanimador", diz
Renata Hauenstein, do quinto ano de direito da Unip.
"Você estuda cinco anos,
muitos fazem até um ano de
cursinho e depois vem alguém com muito dinheiro e
"passa'", lamentou.
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