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Após quase 4 anos, Suza ne vai a júri
Os irmãos Cravinhos também serão julgados a partir de hoje pelo assassinato do casal von Richthofen
Ex-estudante de direito alegará que participou da morte dos pais após sofrer uma "coação moral irresistível" do namorado
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando, hoje, às 12h30, a linda e loira Suzane von Richthofen, ex-estudante de direito da
PUC-SP, se apresentar no 1º
Tribunal do Júri, na Barra Funda, algemada, trajando o uniforme de presidiária (calça bege, camiseta branca e sandálias
de dedo), e for acomodada em
uma cadeira bem ao lado de seu
ex-namorado Daniel e do irmão dele, Cristian Cravinhos
(também em uniformes de presidiário), terá início o julgamento do ano em São Paulo.
Os três são réus confessos no
assassinato dos pais de Suzane,
Manfred e Marísia von Richthofen, em 30 de outubro de
2002, a golpes de barras de ferro enquanto dormiam.
Segundo a tese da acusação,
os três cometeram o crime porque queriam se apossar do patrimônio da família von Richthofen, que tinha padrão de vida de classe média alta. Daniel e
Cristian provêm de uma família de classe média empobrecida. Daniel juntava dinheiro
vendendo aviõezinhos que
montava. Os dois estavam desempregados na ocasião.
A Promotoria pedirá para Suzane, Daniel e Cristian penas
idênticas, que podem chegar a
50 anos (embora, por lei, eles
não possam ficar mais de 30
anos na prisão). Para isso, tentará provar que os réus cometeram duplo homicídio triplamente qualificado -motivo
torpe (ficar com o patrimônio
do casal), sem a possibilidade
de defesa das vítimas (o casal
dormia no momento do crime)
e por meio cruel (a pauladas).
A defesa será dividida entre o
lado dos irmãos Cravinhos e o
de Suzane. Cada um tentará
provar que o outro foi o autor
intelectual dos homicídios.
A defesa de Daniel e Cristian,
composta por Adib Geraldo Jabur e Gislaine Jabur (pai e filha), que não responderam aos
pedidos de entrevista da Folha,
deve insistir no argumento de
que agiram instigados por Suzane. Daniel deve alegar também que Suzane dizia ter sido
estuprada pelo pai. A garota rejeita essa versão.
Está provado que os dois
Cravinhos foram os autores
materiais do crime. Daniel
construiu, na oficina de sua casa, as barras de ferro forradas
com madeira usadas no crime.
No dia fatídico, a ele coube
matar Manfred. Cristian ficou
encarregado de Marísia. Suzane aguardou no andar de baixo
da casa, um confortável sobrado na zona sul da cidade.
Espera-se uma forte comoção no segundo dia de julgamento, quando devem ser mostrados os vídeos, fotos e documentos da perícia técnica,
além da reconstituição do crime. Isso se deve ao impacto das
imagens do casal morto sobre a
cama, com as cabeças muito
machucadas pelos golpes.
Dominada
A defesa de Suzane, composta por Mauro Otávio Nacif, Mário Sérgio de Oliveira e Denivaldo Barni, insistirá no argumento de que ela sofreu uma "coação moral irresistível" do namorado, Daniel, que estaria interessado na herança.
Segundo a defesa de Suzane,
a garota foi totalmente dominada pelo namorado que lhe tirou a virgindade, quando tinha
15 anos. Daniel, por essa tese,
mantinha Suzane emocionalmente cativa fornecendo-lhe
doses maciças de drogas (citam-se maconha, cocaína, ecstasy e até cola de aeromodelismo) e contando-lhe histórias
de magia negra, com personagens mal-assombrados que ordenavam a morte dos pais dela.
"Se conseguirmos provar que
Suzane sofreu uma coação moral irresistível de Daniel, está
pavimentado o terreno para a
absolvição dela", explica Nacif.
O julgamento deve durar até
a madrugada de sexta. A Promotoria tem entre seus trunfos
o depoimento de Andreas, irmão de Suzane, a quem deve
acusar de tê-lo manipulado.
Na noite sangrenta, Andreas
foi levado por Suzane e Daniel a
uma lan house -ficaria horas
no local, entretido com games,
enquanto os namorados alegadamente iriam a um motel. Na
verdade, os dois foram à casa da
família, praticar o crime.
A defesa de Suzane promete
uma bomba na argumentação
final. "Será nos últimos oito minutos", diz Nacif. Hoje, o ponto
alto deverá acontecer no final
dos trabalhos, quando Suzane
apresentar, por si mesma, a sua
versão dos acontecimentos.
"Será a primeira vez desde
2003 em que ela falará", diz Nacif. "Da vez passada, ainda estava apaixonada, dando, por isso,
um depoimento anódino. Agora fará o seu desabafo de vida."
Ontem, Suzane recebeu a visita do advogado Denivaldo
Barni na prisão de Rio Claro.
Apreensiva com o julgamento, chorosa, contou a Barni que
está trabalhando na cadeia
-fabrica prendedores de roupas. Não tem lido livros ou revistas -está sem cabeça, todos
os pensamentos no dia de hoje.
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