São Paulo, segunda-feira, 17 de julho de 2006

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Após quase 4 anos, Suza ne vai a júri

Os irmãos Cravinhos também serão julgados a partir de hoje pelo assassinato do casal von Richthofen

Ex-estudante de direito alegará que participou da morte dos pais após sofrer uma "coação moral irresistível" do namorado

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando, hoje, às 12h30, a linda e loira Suzane von Richthofen, ex-estudante de direito da PUC-SP, se apresentar no 1º Tribunal do Júri, na Barra Funda, algemada, trajando o uniforme de presidiária (calça bege, camiseta branca e sandálias de dedo), e for acomodada em uma cadeira bem ao lado de seu ex-namorado Daniel e do irmão dele, Cristian Cravinhos (também em uniformes de presidiário), terá início o julgamento do ano em São Paulo.
Os três são réus confessos no assassinato dos pais de Suzane, Manfred e Marísia von Richthofen, em 30 de outubro de 2002, a golpes de barras de ferro enquanto dormiam.
Segundo a tese da acusação, os três cometeram o crime porque queriam se apossar do patrimônio da família von Richthofen, que tinha padrão de vida de classe média alta. Daniel e Cristian provêm de uma família de classe média empobrecida. Daniel juntava dinheiro vendendo aviõezinhos que montava. Os dois estavam desempregados na ocasião.
A Promotoria pedirá para Suzane, Daniel e Cristian penas idênticas, que podem chegar a 50 anos (embora, por lei, eles não possam ficar mais de 30 anos na prisão). Para isso, tentará provar que os réus cometeram duplo homicídio triplamente qualificado -motivo torpe (ficar com o patrimônio do casal), sem a possibilidade de defesa das vítimas (o casal dormia no momento do crime) e por meio cruel (a pauladas).
A defesa será dividida entre o lado dos irmãos Cravinhos e o de Suzane. Cada um tentará provar que o outro foi o autor intelectual dos homicídios.
A defesa de Daniel e Cristian, composta por Adib Geraldo Jabur e Gislaine Jabur (pai e filha), que não responderam aos pedidos de entrevista da Folha, deve insistir no argumento de que agiram instigados por Suzane. Daniel deve alegar também que Suzane dizia ter sido estuprada pelo pai. A garota rejeita essa versão.
Está provado que os dois Cravinhos foram os autores materiais do crime. Daniel construiu, na oficina de sua casa, as barras de ferro forradas com madeira usadas no crime.
No dia fatídico, a ele coube matar Manfred. Cristian ficou encarregado de Marísia. Suzane aguardou no andar de baixo da casa, um confortável sobrado na zona sul da cidade.
Espera-se uma forte comoção no segundo dia de julgamento, quando devem ser mostrados os vídeos, fotos e documentos da perícia técnica, além da reconstituição do crime. Isso se deve ao impacto das imagens do casal morto sobre a cama, com as cabeças muito machucadas pelos golpes.

Dominada
A defesa de Suzane, composta por Mauro Otávio Nacif, Mário Sérgio de Oliveira e Denivaldo Barni, insistirá no argumento de que ela sofreu uma "coação moral irresistível" do namorado, Daniel, que estaria interessado na herança.
Segundo a defesa de Suzane, a garota foi totalmente dominada pelo namorado que lhe tirou a virgindade, quando tinha 15 anos. Daniel, por essa tese, mantinha Suzane emocionalmente cativa fornecendo-lhe doses maciças de drogas (citam-se maconha, cocaína, ecstasy e até cola de aeromodelismo) e contando-lhe histórias de magia negra, com personagens mal-assombrados que ordenavam a morte dos pais dela.
"Se conseguirmos provar que Suzane sofreu uma coação moral irresistível de Daniel, está pavimentado o terreno para a absolvição dela", explica Nacif.
O julgamento deve durar até a madrugada de sexta. A Promotoria tem entre seus trunfos o depoimento de Andreas, irmão de Suzane, a quem deve acusar de tê-lo manipulado.
Na noite sangrenta, Andreas foi levado por Suzane e Daniel a uma lan house -ficaria horas no local, entretido com games, enquanto os namorados alegadamente iriam a um motel. Na verdade, os dois foram à casa da família, praticar o crime.
A defesa de Suzane promete uma bomba na argumentação final. "Será nos últimos oito minutos", diz Nacif. Hoje, o ponto alto deverá acontecer no final dos trabalhos, quando Suzane apresentar, por si mesma, a sua versão dos acontecimentos.
"Será a primeira vez desde 2003 em que ela falará", diz Nacif. "Da vez passada, ainda estava apaixonada, dando, por isso, um depoimento anódino. Agora fará o seu desabafo de vida."
Ontem, Suzane recebeu a visita do advogado Denivaldo Barni na prisão de Rio Claro.
Apreensiva com o julgamento, chorosa, contou a Barni que está trabalhando na cadeia -fabrica prendedores de roupas. Não tem lido livros ou revistas -está sem cabeça, todos os pensamentos no dia de hoje.


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