São Paulo, sexta, 17 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Século 17 é esquecido na história do Brasil

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Natal

A historiografia do Brasil colonial se ressente da falta de atenção à sua dimensão no Atlântico sul e da falta de trabalhos sobre um século importante, o 17.
A afirmação foi feita ontem por Luis Felipe Alencastro, historiador da Unicamp, na 50ª Reunião Anual da SBPC.
O tema da conferência dá uma idéia da importância desses estudos: "Identidade Regional e Identidade Brasileira na Colônia e no Império". "A história do Brasil se espalha pelo Atlântico sul. E o século 17 é um órfão da historiografia", disse Alencastro.
E é essa dimensão sul-atlântica manifestada nitidamente no século 17 que ajuda a compreender como os temas de regionalismo e identidade seriam tratados depois.
Havia então duas colônias portuguesas na América, o Estado do Maranhão e Grão-Pará e o Estado do Brasil, uma divisão ditada por condicionamentos geográficos.
A costa norte do Brasil e a costa leste eram, então, de difícil comunicação. Quando os ventos facilitavam a ida, geralmente dificultavam a volta. "A ida para Angola era muito mais fácil", diz ele. E isso incentivava o tráfico de escravos africanos dessa região.
Historiadores da guerra com os holandeses, como Evaldo Cabral de Mello e José Antônio Gonsalves de Mello, costumam dividi-la em três períodos. De 1630 a 1638, a fase de conquista; de 1638 a 1645, houve uma convivência mais ou menos pacífica; e, de 1645 a 1654, a guerra de restauração.
Alencastro diz que houve uma fase anterior, de guerra de corso (quando navios holandeses atacavam a navegação costeira), e outra após 1648, quando os luso-brasileiros recapturaram Luanda, em Angola. Só no século 18 isso muda. Ele diz que a idéia de Brasil foi "retrojetada" pelos historiadores para períodos anteriores.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.