São Paulo, sexta, 17 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LAR DOCE LAR
Há 30 mil brasileiros desempregados no Japão e cerca de 3.500 estão morando nas ruas e passando fome
Operação "resgata' mais nove dekasseguis

RICARDO ZORZETTO
da Reportagem Local

Chegaram ontem de manhã a São Paulo mais nove dekasseguis brasileiros que estavam desempregados e passando por dificuldades no Japão.
Por volta das 7h20, eles desembarcaram no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, no vôo 895 da Vasp, proveniente de Osaka.
Essa é a segunda turma de brasileiros trazida de volta ao país pela Operação Resgate, montada pela Vasp, pela Asibras (Associação do Imigrante no Brasil) e pela Nipomed (empresa de serviços de saúde), que paga parte das passagens e oferece assistência médica gratuita. Desde o início da operação, 12 dekasseguis que estavam em situação crítica já conseguiram retornar ao país.
Na quinta-feira da semana passada, outras três pessoas voltaram por meio da operação.
Segundo estimativa do Nikkei International Center, entidade de ajuda aos estrangeiros no Japão, há cerca de 233 mil dekasseguis brasileiros vivendo no país, sem contar os que têm dupla nacionalidade (brasileira e japonesa), cerca de 10%.
O número de brasileiros desempregados naquele país é de aproximadamente 30 mil, ou seja, 12,9% dos brasileiros que moram lá, de acordo com os dados da entidade.
"Desse total, a estimativa é que aproximadamente 3.500 estejam em situação crítica (desempregados, morando nas ruas, passando fome)", disse Sergio Morinaga, presidente da Asibras.
De acordo com Morinaga, o objetivo da operação é trazer de volta ao país o maior número de brasileiros possível.
"Não sabemos quantos conseguiremos resgatar, mas outras empresas aéreas, além da Vasp, estão oferecendo passagens."
"Poderíamos resgatar mais pessoas se tivéssemos ajuda de empresas e de bancos brasileiros que atuam no Japão e que enriqueceram às custas dos dekasseguis (por meio de investimentos feitos nesses bancos e da remessa de dinheiro para o Brasil)", disse.
Para a próxima semana, está previsto o retorno de mais quatro ou cinco pessoas, segundo a Asibras. Morinaga disse ainda que a idéia agora é, a partir das denúncias das pessoas que estão retornando, fazer um mapeamento das conexões entre as empreiteiras japonesas e as agências brasileiras.
A partir desse mapeamento, a Asibras deverá sugerir à Polícia Federal a abertura de inquérito para investigar a atividade de agências que atuam aliciando brasileiros para trabalhar no Japão.
De acordo com o presidente da Asibras, existem cerca de 20 agências desse tipo no país.
Morinaga disse que, em parte, essas agências são culpadas pela situação dos dekasseguis brasileiros lá. "Apesar de conhecer a crise econômica do Japão, continuam mandando pessoas para lá."
Uma das denúncias é que essas empresas financiam a ida dos dekasseguis, cobrando até cerca de US$ 4.000 por uma passagem aérea que custa cerca de R$ 800.
A pessoa chega ao Japão endividada e trabalha para pagar sua ida. Quando não consegue, pode ter o passaporte retido por essas firmas, o que impede o regresso ao Brasil.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.