São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2000


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VIOLÊNCIA
Homens armados obrigam comandante de Boeing 737 a pousar em fazenda do PR e escapam após levar R$ 5 mi em malotes
Grupo sequestra e assalta avião da Vasp

Paulo Wolfgang/'Folha do Paraná'
Passageiros do Boeing 737-200 desembarcam, no final da tarde, no aeroporto de Londrina


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

Um grupo de cinco assaltantes sequestrou um Boeing da Vasp ontem no Paraná, obrigou o comandante a pousar o avião em uma fazenda, roubou R$ 5 milhões em malotes bancários e fugiu sem deixar pistas.
O avião -um Boeing 737-200 prefixo PP-SMG que ia de Foz do Iguaçu para Curitiba, Rio, Brasília e São Luís- levava, de acordo com a Vasp, 61 passageiros e 6 tripulantes. Ele acabou, após ser abandonado pelos ladrões, pousando em Londrina.
Até a conclusão desta edição, não havia informações precisas sobre como os ladrões entraram armados no avião. A Polícia Federal crê que as armas já estivessem a bordo e que os bandidos tenham entrado como passageiros comuns. A Infraero afirma que todos os passageiros passaram por raios X e detectores de metal antes de embarcar.
O vôo 280 decolou de Foz às 15h32. ""Depois de uns dez minutos, cinco homens encapuzados e armados com pistolas anunciaram o assalto e disseram que iam levar o dinheiro do banco, que não era para ninguém ficar preocupado", afirmou o turista italiano Gabrielli Chiari, 55.
Ele visitou Foz com a mulher e a filha, e ia conhecer o Rio de Janeiro na sequência do vôo. ""Eles pediram para todos colocarem as mãos para trás. Um deles estava muito nervoso, com duas pistolas nas mãos e gritando."
Nesse momento, houve um disparo. ""Todo mundo ficou em pânico, mas eles disseram que não era para se preocupar porque o tiro tinha sido um acidente", disse o técnico de seguros Wilson Rocha, 32. O líder do grupo pediu então que ""o funcionário do BC se apresentasse". Um passageiro na primeira fila se levantou e apresentou um papel. ""Ele (o ladrão) reclamou que era "só R$ 5 milhões", mas disse que tudo bem", relatou Rocha.
Segundo a polícia, o funcionário era, na verdade, de uma transportadora de valores. Os malotes eram do Banco do Brasil de Foz, que ontem apenas confirmou que o dinheiro estava no avião, mas não divulgou os valores.
As persianas do avião permaneceram fechadas. Um dos ladrões ficou no cabine de comando, e os outros circularam entre os passageiros.
""O que ficou na cabine era piloto. Ele conhecia os instrumentos e orientou o desvio de rota. Depois, orientou o pouso", afirmou a comissária de bordo Vitória Regina de Simas. Ela criticou o fato de os malotes serem transportados em vôos de carreira. ""Meu Deus, isso atrai ladrão. O tiro passou do lado da minha cabeça", afirmou.
O avião foi obrigado a desviar sua rota para o norte do Paraná, onde pousou em uma pista asfaltada de 1.700 metros em Porecatu.
Os sequestradores obrigaram o co-piloto a descer do avião e abrir o compartimento de carga, onde o dinheiro estava guardado. Na pista, contígua à usina da cana do grupo Atalla, pelo menos duas picapes Ranger esperavam os sequestradores.
Um vigia da fazenda, não identificado, disse ter visto um carro passar com uma pessoa apontando uma arma para a cabeça do motorista -o que leva a crer que o veículo acabara de ser roubado.
O Boeing pousou sem problemas, apesar da turbulência e da pista curta. ""Mas o avião balançou muito, todo mundo ficou com muito medo de que algo acontecesse", afirmou Rocha.
Não houve violência e, ao contrário do divulgado inicialmente, os passageiros não foram assaltados. Os ladrões então deixaram o avião com cinco valises e três malotes. ""Trabalhamos com o valor de R$ 5 milhões", afirmou o chefe da Polícia Civil em Londrina, delegado Gilson Garret Augauer.
Eles entraram nas picapes e desapareceram. Segundo a PF, há informações de que os ladrões tinham ""equipes em terra" prontas para agir em Londrina também.
O avião então decolou para essa cidade, onde pousou por volta das 16h30. O aeroporto foi fechado, e os vôos, desviados para Maringá.
O avião foi periciado então por uma equipe do Instituto de Criminalística de Londrina. ""Queremos saber como as armas entraram", afirmou Geraldo Oliveira, o chefe do instituto.
Os passageiros foram levados para depor. Até a conclusão desta edição, eles ainda estavam sendo encaminhados para seus destinos. Dos 61 passageiros, 10 desceriam em Curitiba. Os outros seguiriam para as outras escalas do vôo -em especial o Rio, destino dos cerca de 30 turistas estrangeiros, a maioria composta por italianos, alemães e espanhóis.
A polícia armou cerco em estradas da região, mas ninguém foi capturado até ontem à noite.


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