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SAÚDE
Governo dá mais 120 dias para o Estado de São Paulo e 25 cidades do país reduzirem leitos em hospitais; há resistência
Reforma psiquiátrica é adiada novamente
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Saúde foi obrigado a dar mais um passo atrás
em seu projeto de diminuição de
leitos psiquiátricos. Portaria assinada pelo ministro da Saúde,
Humberto Costa, no último dia 4,
dá mais 120 dias para que o Estado de São Paulo e 25 municípios
no país -entre eles, as capitais
Salvador, Fortaleza, São Luís, Belo
Horizonte, João Pessoa, Teresina,
Rio de Janeiro e Aracaju- façam
as reduções mínimas que constam das orientações da pasta.
Por conta da resistência de unidades e gestores estaduais e municipais da saúde, o ministério
também foi obrigado a fechar os
dados da avaliação dos hospitais
psiquiátricos sem as informações
do Estado de São Paulo, que concentra quase um terço dos leitos.
A previsão inicial da pasta era já
ter a primeira etapa da proposta
de redução de leitos concluída em
maio deste ano. Houve um primeiro adiamento, de 60 dias, em 4
de junho. Para essa fase, o ministério definiu, em portaria de janeiro, que os hospitais deveriam
se ajustar a módulos de 40 leitos e
eliminar as camas que restassem.
Assim, se uma unidade tem 416
leitos, por exemplo, tem que ajustá-los para 400 (10 módulos de 40
leitos) e eliminar 16 vagas.
Os pacientes devem ser encaminhados para serviços substitutivos, como residências terapêuticas -espécies de repúblicas.
O Brasil tem hoje 47,8 mil leitos
e a meta do ministério é extinguir
3.500 até o primeiro semestre do
ano que vem, segundo o Programa Anual de Reestruturação da
Assistência Hospitalar no SUS.
As unidades do Estado de São
Paulo lideraram a resistência, por
considerar que a medida do ministério foi tomada sem planejamento e deixaria pacientes sem
recursos assistenciais.
Dos 125 hospitais do país alvo
da reestruturação -estão fora,
por exemplo, os que já têm 160 leitos ou que já fizeram a mudança- 48 ainda não aderiram à
proposta. Desses, a maioria (33)
são hospitais paulistas.
Segundo Sérgio Tamai, 39, diretor do departamento de Saúde
Mental da Santa Casa da capital
paulista -e que participou das
negociações com o ministério-
não há, por exemplo, residências
terapêuticas suficientes. Na capital, não há nenhuma.
"É a vitória de quem trabalha
com os pacientes", afirmou. "A
realidade é muito heterogênea."
O principal obstáculo no Estado, afirma, é a existência de 9.000
pacientes-moradores -não se
sabe se podem voltar para casa.
Atraso de avaliação
Segundo o coordenador de Saúde Mental do ministério, Pedro
Gabriel Delgado, não só os hospitais apontaram a inviabilidade
dos prazos, como as secretarias
municipais e estadual da saúde.
"Embora lamente, foi uma decisão dos gestores locais."
A decisão, explica, veio da comissão bipartite paulista, instância de decisão do SUS (Sistema
Único de Saúde) de que as duas
esferas de governo participam.
Ainda de acordo com Delgado,
São Paulo não fez a avaliação dos
seus 50 hospitais porque não concordava com pontos da reestruturação de leitos -e os resultados
da fiscalização seriam utilizados
para esse projeto.
Na semana passada, após o
adiamento da reforma, foi acertado que a fiscalização será feita. O
ministério, no entanto, entregará
até o fim deste mês os dados dos
outros Estados. Por ter esperado
São Paulo, já está atrasado. Deveria ter finalizado a avaliação entre
maio e junho.
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