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Crise foi positiva, diz novo secretário
Carlos Vogt assume a pasta de Ensino Superior e afirma que autonomia das universidades foi reforçada
No primeiro semestre, houve invasão de reitoria da USP e greve em instituições; segundo ele, Fapesp agora fará parte da secretaria
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A invasão da reitoria da USP,
a greve nas instituições de ensino superior e as manifestações
públicas de professores renomados contra o governo José
Serra (PSDB-SP) tiveram resultados positivos para as universidades. Essa é a avaliação
do novo secretário de Ensino
Superior, Carlos Vogt.
Em seu entendimento, a autonomia das escolas foi reforçada com a publicação do decreto
declaratório feita por Serra,
quando a invasão completava
29 dias. No documento, o governador dizia que a intenção
era esclarecer dúvidas sobre o
tema. O decreto retirou atribuições da nova secretaria e afirmava, formalmente, que não
buscava interferir na autonomia das universidades -crítica
feita tanto pelos invasores da
reitoria quanto por professores
renomados como Alfredo Bosi
e Antonio Candido.
A situação criou desgaste ao
então secretário José Aristodemo Pinotti. Na semana passada, ele deixou o cargo, alegando
"motivos pessoais".
Pinotti deu lugar a Vogt, que
presidia a Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo). Ele foi também
reitor da Unicamp.
Leia abaixo a entrevista concedida ontem por Vogt, 64.
Poeta e lingüista, o novo secretário afirma não pertencer a
nenhum partido político.
FOLHA - Como o sr. analisa a crise
do primeiro semestre?
CARLOS VOGT - O governo publicou decretos para reordenar o
aparelho de administração do
Estado. Criou a secretaria, o
que é interessante, pois agora
há uma pasta tematicamente
tratando dos assuntos das universidades. Mas o movimento
sentiu isso como algo problemático, uma possível diminuição do que havia conquistado.
Considero que ocorreu um
processo de ajuste e que o resultado foi positivo para a autonomia com a publicação do decreto declaratório. Passamos a
ter o que não tínhamos. Antes,
havia um decreto muito sumário, de 1989. O decreto veio a esclarecer diversos pontos.
FOLHA - Mas esclarece dúvidas
criadas pelo próprio governo Serra.
Como isso pode ser um avanço?
VOGT - Ele também formaliza
de uma maneira mais consistente o exercício da autonomia.
O vazio que existia permitiu esses movimentos que podem gerar mal-entendidos.
FOLHA - O decreto não esvaziou a
secretaria? Ele diz, por exemplo, que
as atribuições do secretário não valem para as universidades.
VOGT - O governo está certo. O
que faz funcionar bem as universidades e a Fapesp? É a autonomia delas. A secretaria
busca otimizar os esforços e
não tem ambição de administrar a vida das universidades.
Muito menos terá em relação à
Fapesp. Por que digo isso? Porque a Fapesp vem para cá, já está definido pelo governador [a
separação das universidades da
Fapesp em secretarias diferentes era uma das críticas].
FOLHA - Qual será a prioridade?
VOGT - Temos a função de gestão do sistema de ensino superior, de otimização das condições de funcionamento.
FOLHA - Na prática, o que é isso?
VOGT - A graduação funciona
bem, tem um atendimento poderoso, mas há um desafio
enorme de atendimento de demanda [procura por vagas].
Uma das propostas que apresentei ao governador, ainda na
Fapesp, foi a criação de uma
universidade aberta, virtual. O
conteúdo seria veiculado por
meio da TV Cultura. Com a implantação da TV digital, a Cultura poderá transmitir em até
seis canais. USP, Unesp, Unicamp e outras universidades
entrariam com os conteúdos,
os monitores -que podem até
ser alunos- e a formalização
dos certificados. Seriam três
módulos. Um, voltado para
professores que atuam no Estado sem licenciatura. Hoje, são
60 mil. O segundo, a graduação.
E o terceiro seria a pós-graduação. Começaríamos com a formação de professores. Se tudo
correr bem, no ano que vem poderemos operar experimentalmente. Cerca de 30% das atividades serão presenciais. O projeto requer uns R$ 12 milhões
ao ano. O valor não inclui o investimento na Cultura para
que ela transmita em digital.
FOLHA - O governador concordou?
VOGT - Totalmente propenso.
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