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Técnicos questionam prazos e recursos
Especialista diz acreditar que obra nem seja feita devido ao alto custo e ao retrospecto de estudos que não saíram do papel
Estimativa de gastos com o trem-bala entre Rio e SP é de mais de R$ 34 bilhões;
valor é suficiente para construir 170 km de metrô
DA REPORTAGEM LOCAL
A proposta de um trem-bala
agrada aos especialistas pelo fato de ser uma opção moderna
de transporte, que se sobrepõe
ao uso do carro e que traz benefícios sociais como redução de
poluição e acidentes.
Mas essa aprovação se dá
mais no campo conceitual. Na
prática, há muitos questionamentos sobre a viabilidade de
prazos, custos e do projeto
-tanto entre membros do governo Lula (PT) quanto em São
Paulo, do de José Serra (PSDB).
A desconfiança mais frequente se refere à data de entrega do trem-bala -até a Copa
do Mundo de 2014. Muita gente
duvida que o projeto possa ser
concluído nesse prazo.
Entusiasta do projeto e especialista em trens de alta velocidade com mestrado na Universidade de Birmingham (Reino
Unido), Fábio Tadeu Alves afirma que a proposta de trem de
alta velocidade que levou menos tempo para sair do papel foi
a do Japão -cinco anos do projeto ao início da operação.
"Eu sinceramente não acredito nem que a obra seja feita",
afirma Dario Rais Lopes, especialista em transporte e que foi
secretário da pasta na gestão
Geraldo Alckmin (PSDB).
A descrença de Lopes é influenciada tanto pelo volume
de investimentos necessários
como pelo histórico nacional.
Já foram realizado pelo menos menos cinco estudos (em
1981, 1986, 1987, nos anos 90 e
em 2004) sobre a viabilidade de
um trem-bala para ligar os Estados de São Paulo e Rio.
O projeto sempre esbarrou
em custos elevados para tocar
a obra com recursos públicos
e em demanda insuficiente
para ser bancada, mediante
sistema de concessão, pela iniciativa privada.
O governo Lula anunciou inicialmente uma estimativa de
custo de implantação do projeto próxima de US$ 11 bilhões
(R$ 21 bilhões). Nos últimos
meses, depois de estudos, a previsão saltou para R$ 34,6 bilhões, suficiente para construir
170 km de metrô. Ou seja, quase três vezes a rede paulista.
Fetiche
Especialistas ressalvam, porém, que um trem-bala para conectar regiões tem um objetivo
bem diferente do da melhoria
da mobilidade urbana. "Ele alavanca a condição de pesquisa e
de tecnologia do país. Acho
bem-vindo", diz Alves.
Mas há maior carência no
país de um projeto de infraestrutura desses ou de uma rede
de transporte coletivo das
grandes cidades? "É preciso as
duas coisas", diz ele.
O governo federal ainda não
definiu a modelagem de concessão do trem-bala à iniciativa
privada. Apesar do assédio de
empresas de diversos países,
técnicos têm estimado que os
recursos públicos para viabilizar a obra deverão superar metade do empreendimento.
"Temos um certo fetiche em
ter um trem assim. Por outro
lado, tem que ser muito bem
pensado, inclusive se não há
um superdimensionamento da
atratividade de passageiros. O
país também precisa de transporte coletivo na malha urbana", diz Marcos Bicalho, da
ANTP (Associação Nacional de
Transportes Públicos).
(ALENCAR IZIDORO E MARIANA BARROS)
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