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Fecundidade cai entre menos instruídas
De 1970 a 2000, distância entre mulheres com mais anos de estudo para as com menos anos caiu de 4,54 filhos para 1,81
Demógrafos vão discutir os efeitos do crescimento populacional zero no Brasil
a partir de amanhã, em um encontro em Caxambu, MG
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Até pouco tempo, as principais preocupações dos demógrafos brasileiros eram as altas
taxas de fecundidade, que poderiam levar o país a uma explosão populacional. Nos últimos 30 anos, no entanto, o que
se viu foi o contrário. Em todas
as classes sociais, o número
médio de filhos por mulher
caiu em ritmo acelerado.
Apesar de ainda haver diferenças entre as mulheres mais
instruídas e as menos escolarizadas, a distância entre esses
extremos diminuiu.
Hoje, o discurso do medo de
explosão demográfica deu lugar a debates sobre desafios do
crescimento populacional zero.
É esse o tema do 15º Encontro
Nacional de Estudos Populacionais, que acontece nesta semana em Caxambu (MG).
Um livro lançado na semana
passada pelo UNFPA (Fundo
de População das Nações Unidas) no Brasil coloca um pouco
mais de luz no debate. Escrito
pelo demógrafo Celso Simões,
"A Transição da Fecundidade
no Brasil" mostra que quem
mais contribuiu para que a fecundidade média no Brasil
caísse foram as mulheres menos instruídas.
Em 1970, as brasileiras com
menos de três anos completos
de estudo tinham, em média,
7,21 filhos. As que tinham completado ao menos o ensino fundamental, por sua vez, apresentavam uma fecundidade média
de 2,7 filhos. A distância entre
elas era de 4,5 filhos.
Trinta anos depois, a taxa de
fecundidade entre as menos
instruídas caiu mais do que pela metade, chegando ao patamar de 3,5 filhos. No outro extremo, a queda foi proporcionalmente menor, chegando a
1,7 filho. A distância entre elas
caiu ao patamar de 1,8 filho.
"Numa sociedade de consumo, você vai pensar duas vezes
antes de ter um filho, já que isso
pode prejudicar o acesso a bens
de consumo. Mesmo sem ter tido uma política de natalidade
definida, o que aconteceu no
Brasil foi que as mulheres de
todos os níveis de instrução
procuraram reduzir o número
de filhos. Isso fez com que o
país fizesse em 30 anos uma
transição demográfica que, em
países europeus, levou mais de
100 anos para se concretizar",
explica Simões.
A representante-auxiliar do
UNFPA, Taís Santos, diz que,
apesar da redução da distância
entre as mais e menos escolarizadas, não se pode ignorar o fato de que ainda existe uma parcela da população feminina
com níveis de reprodução que
podem ser considerados altos.
Para ela, no entanto, é anacrônico hoje falar na necessidade de controlar a população ou
de indicar um patamar desejável de fecundidade. "Desde a
Conferência do Cairo [sobre
população, em 1994], houve um
ponto de inflexão. Saímos do
enfoque de necessidade de controlar a população para o de direitos de cada casal de ter
meios para planejar o tamanho
de sua família".
No Brasil, Santos e Simões
concordam que a diminuição
no número de filhos pode ter
ajudado muitas famílias a amenizar a situação de pobreza,
mas ambos ressaltam que não
se pode culpar famílias mais
pobres por terem muitos filhos.
"O número de filhos numa
família pobre sem dúvida influencia na sua situação econômica, mas minha opinião pessoal é a de que é um desvario
culpá-la pela pobreza. O que é
preciso fazer é dar a ela todas as
condições para que saia dessa
situação e para que tenha
meios para planejar quantos filhos quer ter", diz Santos.
"De vez em quando, vemos
segmentos importantes da sociedade associando a questão
do desemprego, da violência ou
da pobreza às altas taxas de fecundidade. Eles não perceberam, no entanto, que já houve
uma mudança no padrão. O que
acontece é que estamos vivendo um reflexo do tempo em que
a fecundidade ainda era alta, e o
país não se preparou para isso",
afirma Simões.
No caso brasileiro, a representante do UNFPA diz que o
país fez importantes avanços
em indicadores como a diminuição da mortalidade materna
e infantil. A situação, no entanto, não está num nível ideal
porque ainda é preciso avançar
mais na diminuição da desigualdade e na garantia de que
as populações mais pobres tenham acesso a todos os meios
para planejar o tamanho de
suas famílias.
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